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Algoritmos do amor ajudam na busca pelo parceiro perfeito

 

Os dois estudantes do sul da Califórnia acabaram de ser apresentados durante uma experiência para testar a sua "química interpessoal". O homem, um estudante de pós-graduação, obedientemente perguntou à estudante de graduação quais eram as áreas de concentração dos seus estudos.
"Espanhol e sociologia", respondeu ela.
"Interessante", disse ele. "Eu também fiz disciplinas de sociologia. O que você vai fazer com isso?"
"Você pergunta demais".
"É verdade".
"A minha paixão sempre foi espanhol, tanto a língua quanto a cultura. Adoro viajar e conhecer novas culturas e lugares".
Não se tratava de uma dupla do tipo Bogart e Bacall. Mas Gian Gonzaga, um psicólogo social, pôde enxergar possibilidades para este casal, ao assistir à conversa gravada em uma tela de televisão.
Eles estão concordando e sorrindo simultaneamente, e a mulher sacudiu os cabelos e lambeu rapidamente os lábios - sinais positivos de alquimia amorosa que serão sistematicamente registrados nessa experiência no laboratório do eHarmony. Ao comparar os resultados com as respostas do casal a centenas de outras questões, os pesquisadores esperam chegar mais perto de um novo e extremamente lucrativo objetivo - emparelhar indivíduos formando o casal perfeito.
Antigamente, a descoberta de um parceiro ou parceira era algo considerado muito importante para ser deixado a cargo de pessoas sob a influência de hormônios efervescentes. Os pais, às vezes auxiliados por astrólogos e casamenteiros, supervisionaram os namoros até que os costumes mudaram no Ocidente, devido àquela que foi chamada de revolução Romeu e Julieta. Adultos, deixem as crianças em paz.
Mas agora alguns cientistas sociais redescobriram as vantagens da supervisão por parte de adultos - contanto que os adultos possuam doutorados e uma grande quantidade de dados psicométricos. A busca de parceiros on-line se transformou em uma indústria de crescimento explosivo enquanto cientistas rivais testam os seus algoritmos para encontrar o amor.
A líder neste campo é o eHarmony, empresa que foi a pioneira do sistema "não-tente-isto-você-próprio" oito anos atrás, ao recusar-se a deixar os seus clientes on-line procurarem os seus próprios dados. Exige-se deles que respondam a um teste de personalidade de 258 questões, e a seguir a empresa seleciona os potenciais parceiros. A companhia calcula, com base em uma pesquisa nacional Harris que encomendou, que esse sistema foi responsável por cerca de 2% dos casamentos ocorridos nos Estados Unidos no ano passado, o que significa quase 120 casamentos por dia.
Uma outra companhia, a Perfectmatch.com, está usando um algoritmo criado por Pepper Schwartz, um sociólogo da Universidade de Washington em Seattle. O Match.com, que tornou-se o maior serviço de encontros on-line ao deixar que as pessoas procurassem os seus próprios parceiros, criou um novo serviço de busca da cara-metade, o Chemistry.com, usando um algoritmo criado por Helen E. Fisher, antropóloga da Universidade Rutgers, que estudou a química neural das pessoas apaixonadas.
Enquanto as firmas especializadas em busca de parceiros competem por clientes - e atacam a metodologia usada pelos concorrentes - a batalha intriga pesquisadores acadêmicos que estudam esse jogo da busca do par perfeito. Por um lado eles mostram-se céticos, já que os algoritmos e os resultados não foram publicados para possibilitar a revisão por parte da comunidade acadêmica. Mas eles também percebem que essas companhias on-line proporcionam aos cientistas uma oportunidade notável de coletar uma quantidade enorme de dados e testar as suas teorias em campo. O eHarmony diz que mais de 19 milhões de pessoas preencheram o seu questionário.
O algoritmo da firma foi criado uma década atrás por Galen Buckwalter, um psicólogo que anteriormente foi professor e pesquisador da Universidade do Sul da Califórnia. Baseando-se em evidências anteriores de que similaridades de personalidade prevêem felicidade em um relacionamento, ele submeteu centenas de questões relativas à personalidade a 5.000 casais (casados) e fez correlações entre as respostas e a felicidade conjugal dos casais, baseados nas medições feitas com um instrumento chamado de escala de ajustamento diádico.
O resultado foi um algoritmo que, presumivelmente, emparelha pessoas com base em 29 "traços centrais", como estilo social ou temperamento emocional, e "atributos vitais" como habilidades para relacionamento (para detalhes veja o site http://tierneylab.blogs.nytimes.com).
"Não estamos procurando clones, mas os nossos modelos enfatizam similaridades em personalidade e valores", diz Buckwalter. "É bem comum que as diferenças possam ser a princípio atraentes, mas elas não atraem tanto após dois anos de relacionamento. Se você encontra alguém do Tipo A e que seja realmente ativo, é melhor emparelhar essa pessoa com alguém do mesmo tipo. É bem mais fácil para as pessoas se relacionarem quando não têm que negociar todas essas diferenças".
E o método realmente funciona? Em tese, graças aos milhões de clientes e as mensalidades que estes pagam (de até US$ 60), o eHarmony possui dados e recursos para realizar pesquisa de ponta. A companhia conta com um comitê de assessoria composto por cientistas sociais proeminentes e um novo laboratório com pesquisadores atraídos do meio acadêmico, como Gonzaga, que anteriormente trabalhava em um laboratório de pesquisa do casamento na Universidade da Califórnia em Los Angeles.
Até o momento, exceto por uma apresentação em uma conferência de psicólogos, a companhia não apresentou muita evidência científica de que o sistema funciona. Ela deu início a um estudo longitudinal comparando os casais do eHarmony com um grupo de controle, e Buckwalter afirma que a firma está decidida a publicar os resultados da pesquisa para avaliação acadêmica, sem entretanto divulgar detalhes do seu algoritmo. O segredo pode ser uma jogada empresarial inteligente, mas faz do eHarmony um alvo de críticos da comunidade científica, isso para não mencionar as empresas rivais.
Na batalha dos casamenteiros, o Chemistry.com vem publicando comerciais que criticam a eHarmony por se recusar a encontrar parceiros gays (a eHarmony diz que não é capaz de fazer isso porque o seu algoritmo baseia-se em dados relativos a heterossexuais), e o eHarmony solicitou ao Departamento por Melhores Negócios que impeça o Chemistry.com de alegar que o seu algoritmo foi cientificamente validado. O departamento concordou que não há provas suficientes, e o Chemistry.com concordou em parar de fazer propaganda dizendo que o método de Fisher baseia-se na "mais recente ciência da atração".
Agora Fisher diz que a pressão feita contra ela no ano passado fazia sentido porque à época o seu algoritmo ainda era um trabalho em andamento, enquanto ela fazia correlações entre medidas sociológicas e psicológicas, e avaliava indicadores vinculados a sistemas químicos no cérebro. Mas agora, ela diz ter evidências obtidas a partir dos usuários do Chemistry.com para validar o método, e pretende publicá-lo juntamente com os detalhes do algoritmo.
"Acredito em transparência", afirma Fisher, dando uma cutucada no eHarmony. "Quero compartilhar os meus dados de forma que possa contar com avaliação acadêmica".
Até que cientistas externos dêem uma boa olhada nos números, ninguém poderá saber até que ponto tais algoritmos são efetivos, mas uma coisa já está clara. As pessoas não têm muito talento na hora de escolher seus próprios parceiros on-line. Os pesquisadores que estudaram relacionamentos baseados na Internet descobriram que os clientes geralmente acabam saindo com menos de 1% das pessoas cujos perfis estudaram, e que esses encontros freqüentemente acabam em tremendas decepções. "As pessoas fazem listas impossíveis no que diz respeito àquilo que desejam em um parceiro", explica Eli Finkel, psicólogo que estuda encontros amorosos no Laboratório de Relacionamentos da Universidade Northwestern.
"Essas pessoas acham que sabem o que querem", diz Finkel. "Mas encontrar alguém que possui as características que essas pessoas alegam ser tão importantes é algo bem menos inspirador do que elas prevêem".
As novas empresas especializadas em encontros podem ou não contar com a fórmula certa. Mas pelo menos os computadores delas sabem algo mais do que simplesmente fornecer às pessoas aquilo que elas dizem que querem.

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