Com a revolução da informática, especialistas se perguntam: as novas tecnologias da informação servirão para lançar os países do Terceiro Mundo rumo ao século XXI ou, ao contrário, só farão aumentar ainda mais a distância entre nações ricas e pobres?
Por toda parte as pessoas admitem – algumas com entusiasmo, outras com grande pessimismo – que o mundo está sofrendo uma revolução radical em conseqüência das novas tecnologias de informação e de comunicação. Os computadores e as redes mundiais como a Internet se juntaram a ferramentas mais antigas – rádio, televisão e telefone – para criar um sistema mundial de comunicação que as pessoas usam para conversar, ensinar, aprender, fazer conferências, comprar e vender produtos, recebendo informações de todos os tipos. Tudo isso é, entre outras coisas, uma nova e gigantesca indústria. De acordo com o Financial Times, o setor de informação e comunicação está crescendo duas vezes mais rápido do que o resto da economia mundial. E muitos cientistas políticos reconhecem que o "poder de informação" está aos poucos se tornando tão importante nas relações internacionais quanto o poder político, militar ou econômico.
O problema é que a tecnologia da informação está sendo distribuída e utilizada de forma muito desigual. O número de linhas telefônicas nos 48 países menos desenvolvidos do mundo (a maioria na África), por exemplo, é de 1,5 milhão. Isso equivale a cerca de 1% do número de linhas nos Estados Unidos, que tem menos da metade do número de habitantes desses 48 países juntos. Nos Estados Unidos existem 600 linhas telefônicas para cada mil habitantes; em Bangladesh, são duas linhas para cada mil pessoas.
As disparidades tornam-se particularmente inquietantes quando consideramos o impacto que a tecnologia da informação tem na vida das pessoas. A telemedicina, por exemplo – que é a transmissão de informações médicas pela Internet – está crescendo cada vez mais. Mas, ironicamente, as regiões que mais precisam desse tipo de atendimento são as que menos podem utilizá-las, devido, é claro, às falhas na infra-estrutura de comunicações. Como as novas tecnologias dependem, para funcionar, das tecnologias mais antigas (é impossível passar um e-mail sem linha telefônica), essa falta de infra-estrutura nos países pobres tende a ser uma enorme dificuldade. A falta de energia elétrica, principalmente em áreas rurais, é outro empecilho para que haja uma democratização do uso das novas tecnologias. E mais: embora os computadores estejam cada vez mais baratos, eles continuam inacessíveis para bilhões de pessoas em todo o mundo que vivem em estado de extrema pobreza, com renda diária inferior a dois dólares.
Mas, apesar de tais dificuldades, é preciso ver o impacto positivo dessas tecnologias nos países mais pobres. Na África, por exemplo, a Internet se tornou nos últimos anos um meio importante de liberdade de expressão. Mesmo nos países que vivem sob ditadura, é tal o fluxo de informação que os censores estatais não têm como lidar com ele. Na área ambiental, os benefícios em várias partes do mundo também têm sido enormes. Na Indonésia, um programa de computador preparado pelo Ministério do Meio Ambiente tornou-se um meio-chave de desenvolvimento sustentável de florestas tropicais. A Internet tem sido também um poderoso instrumento na área da educação ambiental. Na home page do World Wildlife Fund, por exemplo, há à disposição dos usuários dados permanentemente atualizados sobre desmatamento, poluição, espécies em extinção e outros temas que podem ensinar crianças e jovens a cuidar melhor de nosso planeta.
Muitas organizações internacionais começam a se mobilizar para usar as novas tecnologias de informação em prol do desenvolvimento dos países mais pobres. O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), por exemplo, lançou um projeto para utilização da Internet como uma ferramenta para o desenvolvimento. E, em 1995, os países participantes da Conferência de Cúpula de Copenhague sobre Desenvolvimento Social se comprometeram a traçar uma estratégia de utilização das novas tecnologias com o objetivo específico de diminuir a pobreza no mundo.
ONU EM FOCO. Rio de Janeiro, Centro de Informação das Nações Unidas, outubro de 1997, nº 50.
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