Em seus primórdios, a literatura canadense, em inglês e em francês, buscou narrar a luta dos colonizadores em uma região inóspita. Ao longo do século XX, a industrialização do país e a evolução da sociedade canadense levaram ao aparecimento de uma literatura mais ligada às grandes correntes internacionais.
Literatura em língua inglesa. As primeiras obras literárias produzidas no Canadá foram os relatos de exploradores, viajantes e oficiais britânicos, que registravam em cartas, diários e documentos suas impressões sobre as terras da região da Nova Escócia. Frances Brooke, esposa de um capelão, escreveu o primeiro romance em inglês cuja ação transcorre no Canadá, History of Emily Montague (1769).
As difíceis condições de vida e a decepção dos colonizadores com um ambiente inóspito, frio e selvagem foram descritas por Susanna Strickland Moodie em Roughing It in the Bush (1852; Dura vida no mato). John Richardson combinou história e romance de aventura em Wacousta (1832), inspirada na revolta dos índios ottawas.
As primeiras obras poéticas referiram-se também aos problemas da colonização e à descrição da nova terra e seus habitantes. Oliver Goldsmith deu tons épicos ao esforço dos pioneiros em seu longo poema The Rising Village (1825; A aldeia nascente). Nessa mesma época, o romance histórico teve grande desenvolvimento e William Kirby revelou em The Golden Dog (1877; O cão de ouro) uma visão romântica da vida senhorial nas colônias francesas.
A literatura anglo-canadense no século XX evoluiu no sentido da ampliação dos recursos expressivos e de maior diversidade nos temas. Nas primeiras décadas desse século, a narrativa teve uma temática localista, com autores como Ralph Connor, Sara Jeannette Duncan e Mazo de la Roche, cujo ciclo sobre a história de uma família, iniciado com Jalna, alcançou êxito mundial, o que também ocorreu com as sátiras de Stephen Leacock.
Na década de 1930, a vertente rural do realismo social destacou nomes como Martha Ostenso e Frederick Philip Grove. Morley Callaghan, talvez o mais internacional dos romancistas canadenses, adotou uma postura de denúncia ética em crônicas da vida urbana como They Shall Inherit the Earth (1935; Eles herdarão a terra).
Após a segunda guerra mundial, o romance anglo-canadense passou por vigorosa renovação. Assim, Sheila Watson criou uma enigmática alegoria em The Double Hook (1959; O anzol duplo), enquanto Sinclair Ross, W. O. Mitchel e Ernest Buckler evocaram a monotonia, a solidão e a hipocrisia das pequenas cidades do oeste do país, em estilo lírico e experimental. O autor mais ambicioso foi Hugh MacLennan, que em Two Solitudes (1945; Duas solidões) e The Watch That Ends the Night (1959; A última guarda) analisou o dualismo cultural canadense.
A partir da década de 1960, a tendência mais comum foi a reinterpretação imaginativa e satírica da história canadense. Nesse sentido, Robert Kroetsch transformou as típicas histórias das pradarias em paródias modernas, Rudy Wiebe escreveu relatos épicos fictícios baseados em fatos reais e Timothy Findley recriou as conseqüências das duas guerras mundiais nos protagonistas de seus romances.
Se Tom McInnes e Robert W. Service deram um novo vigor à poesia descritiva, foi E. J. Pratt quem rompeu definitivamente com a tradição patriótica e sentimental dos poetas da confederação. Seus poemas líricos e suas recriações épicas influenciaram novos poetas inovadores e experimentais, como Earle Birney, Abraham Klein, Dorothy Liveray e Leo Kennedy. Nessa época surgiu também um grupo de poetas inconformistas e fascinados pela vida urbana. Entre os principais estavam Lionel Kearns, os também romancistas Margaret Atwood e Leonard Cohen, D. G. Jones e os membros do grupo Véhicule. O teatro participou do clima geral de renovação graças a autores como George Ryga e James Crerar Reaney.
Literatura em língua francesa. A maioria dos canadenses francófonos reside na província de Québec e são conhecidos como québecois. Sua literatura, chamada franco-canadense ou quebequense, registra a história de sua colonização e serve de expressão para sua própria identidade cultural, geralmente pouco valorizada pela maioria anglo-canadense.
Durante os primeiros anos da dominação inglesa, periódicos como Quebec Gazette, Le Canadien e La Minerve publicaram as primeiras mostras de literatura franco-canadense (poemas, ensaios, sermões, anedotas). Em 1830 apareceram os primeiros romances, peças dramáticas e volumes de versos. A partir do fim do século XIX, a cidade de Montreal passou a ser o centro literário do Canadá francês, onde Jean Charbonneau e Louvigny de Montigny criaram a École Littéraire. O maior poeta dessa geração foi Émile Nelligan, que escreveu todas as suas obras na adolescência, antes de adoecer gravemente.
Na primeira década do século XX, surgiram na escola de Montreal duas correntes distintas: a dos estetas e exóticos, como os poetas Paul Morin, René Chopin e Robert Choquette e os romancistas Robert de Roquebrune e Louis Dantin, e a dos regionalistas, como os poetas Gonzalve Desaulniers, Charles Gill, Blanche Lamontagne-Beauregard, Albert Ferland, e o ficcionista Louis Hémon, autor de Maria Chapdelaine (1914).
A preocupação com a realidade social, já presente em La Scoine (1918; Pão amargo), romance naturalista de Albert Laberge, dominou a década de 1930, com autores como Philippe Panetton e Jean-Charles Harvey. Após a segunda guerra mundial, Gabrielle Roy retratou a classe trabalhadora de Montreal em Bonheur d'occasion (1945; Felicidade de ocasião), e Roger Lemelin abordou os problemas e contradições da vida cotidiana em La Famille Plouffe (1948; A família Plouffe).
A partir de meados da década de 1960, a poesia franco-canadense foi marcada por sentimentos nacionalistas, fenômenos contraculturais e experimentação lingüística. Destacaram-se Paul-Marie Lapointe, Paul Chamberland e Ives Préfontaine. Já o teatro teve em Michel Tremblay um criador radical e polêmico.
O romance também sofreu importante renovação. O nouveau roman (novo romance) francês influenciou Jacques Godbout e Hubert Aquin. Além disso, duas escritoras alcançaram prestígio internacional com a reelaboração do romance histórico: a poetisa Anne Hébert, autora de Kamouraska, e Antonine Maillet, ganhadora do Prêmio Goncourt com Pélagie-la-charrette (1979). Já na década de 1980, o êxito de Ives Beauchemin demonstrou o vigor permanente dessa literatura.
©Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.
Literatura em língua inglesa. As primeiras obras literárias produzidas no Canadá foram os relatos de exploradores, viajantes e oficiais britânicos, que registravam em cartas, diários e documentos suas impressões sobre as terras da região da Nova Escócia. Frances Brooke, esposa de um capelão, escreveu o primeiro romance em inglês cuja ação transcorre no Canadá, History of Emily Montague (1769).
As difíceis condições de vida e a decepção dos colonizadores com um ambiente inóspito, frio e selvagem foram descritas por Susanna Strickland Moodie em Roughing It in the Bush (1852; Dura vida no mato). John Richardson combinou história e romance de aventura em Wacousta (1832), inspirada na revolta dos índios ottawas.
As primeiras obras poéticas referiram-se também aos problemas da colonização e à descrição da nova terra e seus habitantes. Oliver Goldsmith deu tons épicos ao esforço dos pioneiros em seu longo poema The Rising Village (1825; A aldeia nascente). Nessa mesma época, o romance histórico teve grande desenvolvimento e William Kirby revelou em The Golden Dog (1877; O cão de ouro) uma visão romântica da vida senhorial nas colônias francesas.
A literatura anglo-canadense no século XX evoluiu no sentido da ampliação dos recursos expressivos e de maior diversidade nos temas. Nas primeiras décadas desse século, a narrativa teve uma temática localista, com autores como Ralph Connor, Sara Jeannette Duncan e Mazo de la Roche, cujo ciclo sobre a história de uma família, iniciado com Jalna, alcançou êxito mundial, o que também ocorreu com as sátiras de Stephen Leacock.
Na década de 1930, a vertente rural do realismo social destacou nomes como Martha Ostenso e Frederick Philip Grove. Morley Callaghan, talvez o mais internacional dos romancistas canadenses, adotou uma postura de denúncia ética em crônicas da vida urbana como They Shall Inherit the Earth (1935; Eles herdarão a terra).
Após a segunda guerra mundial, o romance anglo-canadense passou por vigorosa renovação. Assim, Sheila Watson criou uma enigmática alegoria em The Double Hook (1959; O anzol duplo), enquanto Sinclair Ross, W. O. Mitchel e Ernest Buckler evocaram a monotonia, a solidão e a hipocrisia das pequenas cidades do oeste do país, em estilo lírico e experimental. O autor mais ambicioso foi Hugh MacLennan, que em Two Solitudes (1945; Duas solidões) e The Watch That Ends the Night (1959; A última guarda) analisou o dualismo cultural canadense.
A partir da década de 1960, a tendência mais comum foi a reinterpretação imaginativa e satírica da história canadense. Nesse sentido, Robert Kroetsch transformou as típicas histórias das pradarias em paródias modernas, Rudy Wiebe escreveu relatos épicos fictícios baseados em fatos reais e Timothy Findley recriou as conseqüências das duas guerras mundiais nos protagonistas de seus romances.
Se Tom McInnes e Robert W. Service deram um novo vigor à poesia descritiva, foi E. J. Pratt quem rompeu definitivamente com a tradição patriótica e sentimental dos poetas da confederação. Seus poemas líricos e suas recriações épicas influenciaram novos poetas inovadores e experimentais, como Earle Birney, Abraham Klein, Dorothy Liveray e Leo Kennedy. Nessa época surgiu também um grupo de poetas inconformistas e fascinados pela vida urbana. Entre os principais estavam Lionel Kearns, os também romancistas Margaret Atwood e Leonard Cohen, D. G. Jones e os membros do grupo Véhicule. O teatro participou do clima geral de renovação graças a autores como George Ryga e James Crerar Reaney.
Literatura em língua francesa. A maioria dos canadenses francófonos reside na província de Québec e são conhecidos como québecois. Sua literatura, chamada franco-canadense ou quebequense, registra a história de sua colonização e serve de expressão para sua própria identidade cultural, geralmente pouco valorizada pela maioria anglo-canadense.
Durante os primeiros anos da dominação inglesa, periódicos como Quebec Gazette, Le Canadien e La Minerve publicaram as primeiras mostras de literatura franco-canadense (poemas, ensaios, sermões, anedotas). Em 1830 apareceram os primeiros romances, peças dramáticas e volumes de versos. A partir do fim do século XIX, a cidade de Montreal passou a ser o centro literário do Canadá francês, onde Jean Charbonneau e Louvigny de Montigny criaram a École Littéraire. O maior poeta dessa geração foi Émile Nelligan, que escreveu todas as suas obras na adolescência, antes de adoecer gravemente.
Na primeira década do século XX, surgiram na escola de Montreal duas correntes distintas: a dos estetas e exóticos, como os poetas Paul Morin, René Chopin e Robert Choquette e os romancistas Robert de Roquebrune e Louis Dantin, e a dos regionalistas, como os poetas Gonzalve Desaulniers, Charles Gill, Blanche Lamontagne-Beauregard, Albert Ferland, e o ficcionista Louis Hémon, autor de Maria Chapdelaine (1914).
A preocupação com a realidade social, já presente em La Scoine (1918; Pão amargo), romance naturalista de Albert Laberge, dominou a década de 1930, com autores como Philippe Panetton e Jean-Charles Harvey. Após a segunda guerra mundial, Gabrielle Roy retratou a classe trabalhadora de Montreal em Bonheur d'occasion (1945; Felicidade de ocasião), e Roger Lemelin abordou os problemas e contradições da vida cotidiana em La Famille Plouffe (1948; A família Plouffe).
A partir de meados da década de 1960, a poesia franco-canadense foi marcada por sentimentos nacionalistas, fenômenos contraculturais e experimentação lingüística. Destacaram-se Paul-Marie Lapointe, Paul Chamberland e Ives Préfontaine. Já o teatro teve em Michel Tremblay um criador radical e polêmico.
O romance também sofreu importante renovação. O nouveau roman (novo romance) francês influenciou Jacques Godbout e Hubert Aquin. Além disso, duas escritoras alcançaram prestígio internacional com a reelaboração do romance histórico: a poetisa Anne Hébert, autora de Kamouraska, e Antonine Maillet, ganhadora do Prêmio Goncourt com Pélagie-la-charrette (1979). Já na década de 1980, o êxito de Ives Beauchemin demonstrou o vigor permanente dessa literatura.
©Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.
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