Trip. Você é ator, diretor, apresentador, comentarista esportivo, jornalista. Quando preenche aquela ficha de hotel, o que coloca como profissão?
Dan Stulbach. Ator. Apesar de ter trilhado vários caminhos, minha profissão é ator. Não foi fácil, principalmente por questões familiares, eu me aceitar como ator, assumir isso. Foi justamente durante uma turnê, num hotel, na hora do check-in, que tive de escrever o que era, e nesse dia decidi: ator.
A TV Globo está comemorando 50 anos. Você foi convidado para a festa? Não fui. Achei natural, já que estou em outra emissora. Mas, na semana dos 50 anos, passou um seriado comigo lá[risos].
Em que momento você achou que era hora da ruptura, de deixar a maior emissora do país? Tive uma longa relação com a Globo, mais de 12 anos. Comecei fazendo uma oficina de atores. Depois de quatro anos, decidi abrir mão de contrato. Eu nunca quis ter uma relação corporativa com nenhuma empresa na minha vida. Nunca fui fascinado pela cesta de Natal. Tenho dificuldade com pertencimento em qualquer área. Isso porque muitas vezes pode ser improdutivo, desestimulante, ficar acomodado. Estar na Globo foi ótimo, sensacional. Quando decidi abrir mão do contrato, essa discussão vinha e voltava. A última foi quando decidi ir para a Bandeirantes.
Por que esse desprendimento, isso de não se agarrar a algo mais sólido? Meu pai trabalhou durante vários anos para muitas empresas. Vinte anos em uma, dez anos em outra, 15 em outra. Muito tempo. E tinha essa ilusão de que iria viver nelas para sempre. Eu vi o momento em que ele foi mandado embora, eu estava em casa quando ele foi demitido. Eu vi de perto essa queda. A geração dele toda acreditava que o cara é da empresa, a empresa é dele e vai ser assim para sempre. Quando esse casamento se desfaz, a pessoa fica em ruínas. Vi isso acontecer com o meu pai e eu jamais queria que isso acontecesse comigo.
Sempre quis uma relação mais livre? Eu nunca quis terceirizar meu sonho. Sempre quis fazer televisão, não vou mentir. Vejo televisão pra caramba, tenho ídolos, adorava coisas que a televisão fazia e acabaram me transformando. Mas, ao mesmo tempo, sempre fiz outras coisas. Gosto desse leque mais amplo. O programa de rádio, por exemplo [Fim de expediente, que ele apresenta na rádio CBN], existe há nove anos. Esse é um programa que inventei com uns amigos num momento de vazio, de angústia. Eu já era um ator conhecido, tinha contrato com a Globo, mas tinha necessidade de fazer perguntas diferentes. Eu adoro fazer. Gosto muito de encontrar os caras, que são meus amigos desde moleque.
Você tem muitos amigos de infância? Tenho. Agora mesmo a gente estava em Nova York, comemorando 30 anos de amizade. Em geral é gente que começou comigo no teatro, no colégio. Esses caras estão sempre comigo, me lembram de quem eu sou. Com o deslumbramento que a televisão traz, a fama – não minha comigo mesmo, mas das pessoas, que passam a te tratar de um jeito diferente – é bom ter gente que já me conhece.
Você não experimentou esse deslumbramento? A vaidade com o sucesso? Eu experimentei, fui fazer terapia logo em seguida. Eu estava fazendo uma peça, Novas diretrizes em Tempos de paz, com o Tony Ramos, e fez sucesso, ganhei prêmios, destaque, atenção. Na mesma época ganhei popularidade com a novela [Mulheres apaixonadas, de 2003]. Tem uma frase do Freud que diz “o objeto mata o desejo”, e era exatamente o que eu estava sentindo: junto com toda a alegria, tinha um certo desamparo. Você fica meio desnorteado. Ao mesmo tempo em que era muito bom o reconhecimento todo, todo mundo entender que eu era ator, eu não conseguia mais ter privacidade, me sentir anônimo. Mas com o tempo achei um jeito de as coisas darem certo. Tenho uma vida pública confortável.
Até hoje lembram desse personagem de Mulheres apaixonadas, não é? O cara que batia na mulher com a raquete. É uma loucura isso. Meu personagem, o Marcos, entrou no quinto mês da novela. E a história da raquete durou duas semanas. Mas está na cabeça das pessoas até hoje. Foi um momento importante. Hoje eu tenho até certa inveja da minha juventude naquele trabalho. Me diverti muito.
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