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Europa


1 INTRODUÇÃO
Europa, segundo o costume, é um dos seis continentes do mundo, embora só seja realmente a parte ocidental do conglomerado continental eurasiático, composto na sua maior parte pela Ásia. Os montes Urais, o rio Ural, uma parte do mar Cáspio e as montanhas do Cáucaso formam a fronteira entre a Europa e a Ásia. A superfície é de 10.359.358 km2, aproximadamente.

A Europa é uma massa continental muito fragmentada, que abrange algumas penínsulas e um grande número de ilhas próximas à costa. Tem litoral, ao norte, sobre o oceano Glacial Ártico, o mar do Norte e o mar Báltico; sobre o mar Cáspio ao sudeste, sobre o mar Negro e o mar Mediterrâneo, ao sul, e sobre o oceano Atlântico a oeste.

Geologicamente, a Europa está formada, de norte a sul, por uma antiga massa de rochas cristalinas estáveis, com uma larga faixa de materiais sedimentários relativamente nivelados e por uma zona de estruturas geológicas misturadas, criadas pela ação de falhas, dobras e vulcões. Tem, também, uma região de montanhas de formação recente, se comparadas com as anteriores.

Na Finlândia e em grande parte da península Escandinava encontra-se o escudo fino-escandinavo, ao qual estão associadas as montanhas da Irlanda, Gales, Escócia e Noruega ocidental. A segunda região geológica é a grande planície européia, que se estende desde o sudoeste da França até o norte e o leste, a través dos Países Baixos, a Alemanha e a Polônia, até o interior da Rússia ocidental; atinge também uma parte do sudeste da Inglaterra. Ao sul, uma faixa de estruturas geológicas diferentes se estende a través da Europa, criando as montanhas centro-européias. A principal região fisiográfica da Europa, localizada mais ao sul, é também a de formação mais recente, constituída por cordilheiras como os Pireneus, os Alpes, os Apeninos, os Cárpatos e o Cáucaso.

A natureza peninsular do continente europeu compôs uma estrutura hidrográfica radial. O Volga flui em direção sul, até o mar Cáspio, e o Danúbio vai de oeste para leste, até o mar Negro. Entre os rios da Europa central e ocidental se destacam o Ebro, o Ródano e o Pó, que desembocam no mar Mediterrâneo, e o Guadalquivir, o Tejo, o Douro, o Loire, o Sena, o Reno e o Elba, que desembocam no oceano Atlântico ou no mar do Norte. O Oder e o Wisla (Vístula) vão em direção ao mar Báltico.
Os mares que ficam em volta do continente proporcionam um clima moderado à maior parte da Europa central e ocidental, com chuvas durante quase todo o ano. Na zona climática mediterrânea os meses de verão costumam ser calorosos e secos. A partir da Polônia central para o leste, o clima é mais frio e seco.

2 RECURSOS NATURAIS
A Europa está coberta na sua maior parte por florestas plantadas. Só os bosques das zonas montanhosas mais setentrionais e das zonas do norte e centro da Rússia européia têm permanecido relativamente incólumes à atividade humana. A maior área de vegetação da Europa, que atravessa metade do continente desde o Atlântico até os Urais, é uma faixa de árvores de folhas caducas e coníferas. As regiões árticas da Europa setentrional e os cumes de suas montanhas se caracterizam pela vegetação de tundra. As temperaturas do interior da Europa setentrional favorecem o desenvolvimento dos bosques de coníferas. A maioria da grande planície européia está coberta de pradarias. A Ucrânia se caracteriza pelas estepes. As terras que margeiam o Mediterrâneo se destacam pela grande variedade de frutas, especialmente azeitonas, cítricos, figos e uvas.

No que tange à fauna, espécies como o cervo, o alce, o lobo e o urso encontram-se em estado selvagem e em quantidades significativas só no norte. Em outros lugares só existem em reservas protegidas. Os lapões do extremo norte criam renas. A camurça e as cabras-montesas habitam nos cumes dos Pireneus e dos Alpes. Na Europa ainda existem muitos animais pequenos como a doninha, o furão, a lebre, o coelho, o ouriço, o lemming, a raposa e o esquilo. Tem, também, um grande número de pássaros autóctones como a águia, o falcão e o tentilhão. Nas águas costeiras encontra-se grande variedade de peixes, incluindo os de importância comercial como o bacalhau, a cavala, o arenque e o atum.

A Europa tem grande variedade de recursos minerais. Há grandes jazidas de carvão em várias zonas do Reino Unido, Alemanha, Polônia, Bélgica, República Tcheca, Eslováquia, França e Ucrânia. Os maiores fornecedores europeus de ferro são as minas de Kiruna (ao norte da Suécia), a região da Lorena (na França), e a Ucrânia.

3 POPULAÇÃO
Na Europa existem muitas etnias. A maioria das nações européias é composta por um grupo dominante, mas em vários países, sobre tudo no sul e no centro da Europa, existem minorias étnicas. Na Europa Ocidental também vive um grande número de turcos, negros africanos e árabes.
Na década de 1980, a Europa tinha a maior densidade de população de todos os continentes. A zona mais povoada é a que começa na Grã-Bretanha e continua rumo ao leste através dos Países Baixos, Alemanha, Tchecoslováquia, Polônia e a extinta URSS. A taxa média de crescimento anual da população européia, entre 1980 e 1987, foi só de 0,3%. Em fins do século XX, destacaram-se dois movimentos populacionais: a migração de pessoas a procura de trabalho, para a Europa norte-ocidental e, por outro lado, a migração das zonas rurais para as zonas urbanas. A população geral da Europa, segundo estimativas para 1993, era de 699.744.000 habitantes.

Os europeus falam uma diversidade enorme de línguas. As principais famílias linguísticas são: a das línguas eslavas, que incluem o russo, ucraniano, bielo-russo, tcheco, eslovaco, búlgaro, polonês, esloveno, macedônio e servo-croata; as línguas germânicas, que compreendem o inglês, alemão, holandês, dinamarquês, norueguês, sueco e o islandês; e as línguas românicas, entre as que se encontram: o italiano, francês, espanhol, catalão, português e romeno. Estes idiomas têm basicamente as mesmas origens e se classificam dentro das línguas indo-européias, que também compreendem o grego, o albanês e línguas célticas como o gaélico, galês e o bretão. Além disso, no continente há povos que falam línguas ugrofinesas, além de outras como o basco (euskera) e o turco.

4 ECONOMIA
Durante muito tempo, a Europa comandou as atividades econômicas do mundo. Como lugar em que nasceu a ciência moderna e a Revolução Industrial, adquiriu também uma superioridade tecnológica sobre o resto do mundo, o que lhe proporcionou um incontestável domínio durante o século XIX.
De maneira geral, a agricultura européia é de tipo misto, sendo produzidos vários tipos de cultivos em conjunto com a cria de gado. A parte européia da antiga URSS, no entanto, é uma das poucas regiões extensas onde predomina a monocultura. As nações do Mediterrâneo têm um tipo de agricultura diferente, no qual a produção de cereais, óleo, vinho e cítricos têm predomínio. Na maioria destes países, a agricultura tem mais peso na economia nacional do que nos países do norte.

Os bosques setentrionais, que se estendem desde a Noruega através do norte da Rússia européia, são a principal fonte de produtos florestais da Europa. A pesca se destaca na Noruega, Dinamarca, Espanha, Rússia, Grã-Bretanha e Polônia.

Desde a Revolução Industrial, o setor secundário transformou radicalmente as estruturas econômicas. As zonas centrais e setentrionais da Inglaterra se tornaram rapidamente centros da indústria moderna, como também as regiões do Ruhr, Saxônia, o norte da França, Silésia e Ucrânia. Em conjunto, a atividade se concentra especialmente na parte central do continente (uma área que se estende por toda a Inglaterra, o sul e o leste da França, o norte da Itália, Bélgica, Holanda, Alemanha, Polônia, República Tcheca, Eslováquia, o sul da Noruega e o sul da Suécia), bem como na Rússia européia e na Ucrânia.

5 HISTÓRIA
O homem moderno apareceu pela primeira vez na Europa em fins da era paleolítica (antiga idade da pedra). Com o tempo, os povos do neolítico desenvolveram economias produtoras que substituíram a caça e o extrativismo. Durante o VI milênio a.C. a agricultura, originada no Oriente Médio, se estendeu à maior parte da Europa ocidental. O desenvolvimento do primeiro neolítico foi especialmente intenso nas zonas do Danúbio e dos Balcãs. As grandes jazidas de cobre e estanho da Europa central facilitaram o desenvolvimento da tecnologia do bronze, durante o terceiro milênio a.C. Por volta do ano 2200 a.C., os indo-europeus invadiram os Balcãs, espalhando-se depois por toda a Europa.

A primeira civilização que nasceu na Europa foi a de Creta. Esta sociedade da idade do bronze dominou o mar Egeu (ver Civilização egéia), por volta de 1600 a.C. Não se sabe ao certo a data da chegada dos primeiros invasores gregos à Grécia, mas acredita-se que fosse em torno de 1900 a.C. Por volta do ano 1400 a.C., aproximadamente, os gregos micênicos conquistaram os domínios cretenses. Porém, depois do ano 1200 a.C., a sociedade micênica foi quase totalmente destruída, devido à invasão dos povos do norte, provavelmente dos gregos dóricos, que tinham aprendido a fabricar armas de ferro.

O começo da idade do ferro foi uma regressão. Com a expansão dos celtas, entre os séculos VII e IV a.C., a cultura de Halstatt divulgou-se por grande parte da Europa ocidental. Por volta do ano 500 a.C., os germânicos começaram a se espalhar desde a Escandinávia meridional e o Báltico. Na península Ibérica, os celtas encontraram os íberos.

6 GRÉCIA E ROMA
Aproximadamente no ano 800 a.C. a civilização grega começou a reerguer-se, após a comoção causada pela invasão dos dórios. No século VIII a.C. as cidades-estado gregas começaram a se espalhar, estabelecendo colônias no Mediterrâneo Ocidental. A maioria destas novas cidades gregas, mesmo sendo independentes, estavam na verdade unidas por uma cultura comum. Por volta do século V a.C., Grécia começou a ser ameaçada pela expansão do império persa. Após os persas serem definitivamente expulsos em 479 a.C., a democrática Atenas apareceu como a maior potência do mundo grego. Um império ateniense foi estabelecido no Egeu, precipitando a integração econômica e cultural da região. Sob o comando de Filipo II, Macedônia conquistou grande parte da Grécia e seu filho Alexandre, o Grande acrescentou a esses domínios o império persa. Após sua morte, o império se dividiu. Finalmente a Macedônia e a Grécia foram conquistadas por Roma, no século II a.C.
Ao contrário da Grécia, a Itália estava fragmentada em vários grupos étnicos e linguísticos, no começo da Idade do Ferro. Provavelmente durante o século X a.C., os etruscos se estabeleceram na Itália, pouco antes da fundação de Roma. Os romanos eram um povo latino, pertencente ao grupo itálico, que começou a conquista das áreas vizinhas. No início do século III a.C., a maior parte da Itália central e setentrional era dominada pelos romanos. Este povo conseguiu o controle da Itália meridional grega, helenizando-se em certa medida, mas essa conquista colocou Roma em confronto direto com Cartago, império de origem fenícia com o qual disputou o controle do comércio no mar Mediterrâneo ocidental. Em meados do século II a.C. Cartago foi destruída por Roma, que também conquistou a Macedônia e Grécia.

Depois de um período de guerras civis, Roma se transformou num império sob a liderança de Augusto. Nos 200 anos subsequentes, o Mediterrâneo atingiu uma notável prosperidade. No século IV d.C., sob o comando de Constantino I, Constantinopla (Istambul) substituiu Roma como capital, e o cristianismo se firmou como a religião do Estado. No século V, após a queda do império romano do ocidente diante dos grupos germânicos invasores, a Igreja conservou a herança cultural romana.
Os povos com culturas do bronze e do ferro das regiões exteriores ao Império eram comunidades agrícolas e de pastores, muito menos estáveis que os assentamentos greco-romanos. No século II a.C., os címbrios e os teutões tinham chegado à região que atualmente é a Provença, sendo rechaçados pelos romanos, que estabeleceram uma zona de contenção ao leste do Reno e ao norte do Danúbio. No começo do século III d.C., os alamanos penetraram ao norte da fronteira romana e os godos começaram a se infiltrar na península dos Balcãs. Durante a segunda metade desse século, outros grupos germânicos penetraram no Império. No século IV, os hunos invadiram Europa desde a Ásia central, causando uma reação em cadeia de deslocamentos humanos. No ano 410, os visigodos de Alarico I saquearam Roma. Os vândalos, após atravessarem a península Ibérica, penetraram no norte da África. Nesse momento Britânia, Gália e Hispania estavam ocupadas por tribos germânicas. O colapso final do império do Ocidente ocorreu em 476.

As tribos germânicas queriam terras e riquezas, mas também queriam viver como romanos. Um conflito lateral entre ambos povos foi de teor religioso, pois os germânicos abraçavam a doutrina do arianismo. A oposição religiosa aos invasores pagãos e arianos deu um novo sentido à Igreja e ao papado durante esse período, o que foi possível porque o governo eclesiástico tinha-se organizado de maneira similar à adotada pela administração provincial romana.

Entretanto, o império bizantino era ainda comandado por um imperador romano. Constantinopla era agora a cidade que governava as províncias romanas do Mediterrâneo oriental. Todos os elementos básicos do império bizantino estiveram presentes na época do grande imperador Justiniano I. A lei romana foi codificada de maneira sistemática e a administração se centralizou, para o que contribuiu a política religiosa, interessada em reconquistar o Ocidente ariano. Os territórios europeus mediterrâneos se separaram do norte, que era econômica e culturalmente subdesenvolvido. Na verdade, eles faziam parte do Oriente Médio, uma evolução que se completou no século VII, quando o norte da África e o sudoeste da Europa foram conquistados pelos exércitos muçulmanos.

7 A IDADE MÉDIA
No norte, desde o século V ao IX, a Europa foi dominada por um grupo de tribos germânicas ocidentais que se chamavam francos. Os francos sálios começaram sua definitiva conversão no ano 496, após Clodoveu I (primeiro rei da dinastia merovíngia) abraçar o ritual cristão. A dinastia se manteve no poder até que o mordomo do palácio, Pepino, o Breve, se proclamou rei, sendo o primeiro da dinastia carolíngia. No ano 711, os árabes atravessaram o estreito de Gibraltar chegando até o sul da França.

O maior dos reis carolíngios foi Carlos Magno. Sob seu governo, os francos se tornaram donos do Ocidente, sustentando o poder papal na Itália. Carlos Magno derrotou os lombardos na Itália, os frísios no norte, os saxões no leste, anexou o ducado da Baviera e expulsou os muçulmanos do sul da França. Consolidou seu poder sobre este vasto território ao conseguir que os terratenentes se aliassem entre si e com ele, através de juras especiais de lealdade. Esta estrutura política, origem do feudalismo, contribuiu para o controle do território. O sentimento de missão do cristianismo aliou-se inseparavelmente à consolidação militar e política.

Em fins do século IX, e durante o século X, a Europa foi testemunha de uma grande desintegração política e uma série de invasões por parte de vikings e de magiares. As terras fronteiriças deixaram de ser cultivadas, o comércio se interrompeu e as viagens se fizeram perigosas, inclusive para distâncias curtas. Foi também uma época de domínio dos mosteiros beneditinos, donos de grandes propriedades, que se misturaram à rede de alianças feudais. Finalmente, o papado se tornou um poder secular, exercendo um controle político direto sobre grande parte da Itália. Gradativamente, os papas arquitetaram um programa de imposição de sua autoridade central sobre as igrejas locais, acumulando também um notável poder político em toda a Europa.

Por volta do ano 1050, a Europa desfrutava de uma economia estável e população crescente, que levou a vida urbana a experimentar grande desenvolvimento. O comércio, particularmente nas terras mediterrâneas da Itália, no sul de França, e nos Países Baixos aumentou, adquirindo regularidade e continuidade. Na península Ibérica, os incipientes reinos cristãos do norte, iniciaram uma guerra de reconquista que se prolongou durante sete séculos. Em 1066, os normandos ocuparam Inglaterra, liderados por Guilherme I, o Conquistador, assegurando sua conquista com um programa de reassentamentos intensivos.

Ao mesmo tempo que a economia européia se fazia mais complexa, as instituições sociais e políticas também começaram a enfrentar alguns problemas. Os desafios geraram uma agitação intelectual sem precedentes na história da Europa. Córdoba vivenciou um importante sincretismo religioso e cultural, pois nesta cidade conviveram durante séculos árabes, judeus e cristãos. Graças às traduções árabes, as ciências antigas penetraram no continente.

Em fins do século XII, a Igreja dominou politicamente a Europa. Esta tinha alcançado uma unidade cultural cuja expressão institucional era a Igreja cristã. E esta unidade se refletiu com mais nitidez do que nunca nas Cruzadas, que pretendiam retomar do Islã os lugares santos cristãos do Oriente Médio. Na península Ibérica, a tolerância tradicional entre árabes, judeus e cristãos desaparecia, dando começo à maior crise de identidade nacional, que levaria à Inquisição e à expulsão de judeus e mouriscos nos séculos XV e XVI, respectivamente.

8 A FORMAÇÃO DOS ESTADOS NACIONAIS
A luta geral pelo predomínio entre a Igreja e o Estado se tornou uma constante na história da Europa. Nos séculos XIII e XIV, a unidade cultural européia foi desafiada em toda a Europa por interesses locais, regionais e nacionais. Na Espanha, terminada a reconquista em 1492, se garantiu a unidade territorial e se estabeleceu o primeiro estado, no moderno sentido do termo. Algo similar aconteceu na França e na Inglaterra. O desenvolvimento da consciência nacional e regional, bem como o espírito comunitário das cidades, o contínuo crescimento do comércio dentro da Europa e com o Oriente, a extraordinária criatividade intelectual e artística do Renascimento e os intensos conflitos sociais foram alguns dos traços marcantes do final da Idade Média. Nenhum sucesso isolado, no entanto, pode expor melhor a inquietação deste período que a primeira viagem de Cristóvão Colombo.

Portugal e Espanha, como patrocinadores das primeiras viagens, também foram os primeiros a recolher os frutos econômicos, que no início concederam um poder extraordinário ao rei Felipe II. Herdeiro dos domínios dos Habsburgo na Europa ocidental e na América, Felipe se autoproclamou defensor da fé católica. Sua oposição às ambições do império otomano no Mediterrâneo não se deveu só ao fato de que os turcos fossem concorrentes, mas também ao de que eram muçulmanos. Do mesmo modo, suas companhas contra os Países Baixos e a Inglaterra, foram motivadas por questões políticas e religiosas, já que nos dois casos, seus inimigos eram protestantes.

A Reforma protestante começou em 1517, ano em que Martinho Lutero expôs suas teses publicamente. Seu rompimento com a Igreja poderia ter sido um fato isolado, se não fosse pela invenção da imprensa, que deu difusão sem precedentes às idéias. Os escritos de Lutero foram reproduzidos e difundidos em grandes quantidades. Incapaz de conservar a unidade cristã ocidental, a Igreja Católica não cedeu facilmente o terreno aos protestantes. A Contra-reforma, que não foi só uma resposta ao desafio protestante, se esforçou por revigorar os instrumentos da Igreja Católica. O concílio de Trento reafirmou os dogmas tradicionais católicos e potencializou a Inquisição.

Alentada basicamente pelos monarcas espanhóis Carlos V e Felipe II, a luta entre os católicos e os protestantes não se limitou à área espiritual. Durante o período de 1550 a 1650, as prolongadas guerras religiosas causaram destruição generalizada. Com elas se entrelaçaram as guerras políticas, que finalmente tiveram grande importância na conformação dos estados nacionais. Nos Países Baixos, a Espanha católica e as províncias holandesas, calvinistas, se enfrentaram numa brutal e longa guerra (1567-1609) que terminou com a vitória dos holandeses. A religião se indentificou muito de perto com os interesses nacionais.

Também na Inglaterra a luta religiosa foi parte de um esforço maior para assegurar a independência nacional. Sob o reinado de Elizabeth I, as razões de estado ditaram a política religiosa, surgindo como resultado a Igreja Anglicana. Os ingleses derrotaram a Invencível Armada da Espanha, o que significou uma vitória tanto nacional como religiosa.

A guerra dos Trinta Anos foi a última guerra religiosa e a primeira moderna. Começou na Boêmia, onde os Habsburgos católicos e os tchecos protestantes mantinham uma forte rivalidade. Em 1635, a guerra tornou-se uma luta política entre as dinastias Habsburgo e Bourbon, ambas católicas. Um exemplo deste período de tensões foi o cardeal Richelieu, um membro da Igreja Católica cujos interesses eram seculares, envolvendo a França na luta. No fim da guerra, França despontou como a potência mais poderosa do continente europeu.

9 O ABSOLUTISMO E A ILUSTRAÇÃO
O Estado, secular e centralizado, substituiu as instituições feudais como instrumento de poder. Em 1661, quando Luís XIV assumiu de fato o governo da França, compreendeu que só poderiam ser conquistados novos territórios através da mobilização dos recursos econômicos e militares de todo o Estado. Na Espanha, a morte de Carlos II provocou a guerra de Sucessão. A chegada da nova dinastia dos Bourbons coincidiu com a implantação do absolutismo.

Outros monarcas europeus aderiram rapidamente ao absolutismo francês. O Czar Pedro I, o Grande, dedicou suas energias a transformar a Rússia numa importante potência militar. Na Prússia, a guerra e os desejos de expansão conduziram à concentração do poder, à normalização dos procedimentos administrativos e à criação de um exército moderno e permanente. O preço a pagar pelo fracasso da centralização do poder era a decadência política, como se manifestou na Polônia e no império otomano.

Das guerras que destruíram a Europa entre 1667 e 1721 surgiu um sistema estatal que, em geral, sobreviveu até 1914. No começo do período, a França permaneceu como a potência militar mais forte; no entanto, aproximadamente na segunda década do século XVIII, Grã-Bretanha, Áustria, Rússia e Prússia se tornaram potências com as quais também foi necessário contar.

Junto da secularização da política houve também uma secularização do pensamento. A revolução científica do século XVII construiu as bases de uma visão de mundo que não dependia das categorias cristãs. Ao se libertar da teologia, filósofos como Francis Bacon e René Descartes descobriram um novo aliado na ciência. Entre os diversos criadores do pensamento moderno, nenhum foi mais importante do que o físico inglês Isaac Newton, quem descobriu uma explicação mecânica que abrange o universo todo, com base na lei da gravitação universal. As principais figuras do período da Ilustração colocaram os problemas do mundo diretamente no centro da sua atividade intelectual.
Durante a segunda metade do século XVIII, a Ilustração aliou-se ao absolutismo. Inspirados nos filósofos, monarcas absolutos como Frederico II, o Grande, da Prússia, Jose II da Áustria e Catarina II da Rússia, tentaram utilizar o poder a serviço do bem comum. Sob a liderança dos monarcas ilustrados, a centralização do poder se desenvolveu rapidamente; num autêntico esforço por conseguir o bem-estar dos seus subalternos, levaram ainda mais o poder do Estado a influenciar o dia-a-dia das pessoas. Na Espanha, sob o comando de Carlos III, floresceram as artes e as letras.

10 A ERA DAS REVOLUÇÕES
Perto do final do século XVIII, o poder do monarca começou a ser desafiado. A reação européia frente ao absolutismo se intensificou com o sucesso da guerra de independência dos Estados Unidos e pelo auge da burguesia inglesa, o que coincidiu com a Revolução Industrial.

A Revolução Francesa compreende uma série de acontecimentos que transformaram a atmosfera política, social e econômica da Europa moderna. Estes fatos começaram quando Luis XVI tentou restabelecer os moribundos Estados Gerais em 1789. Quando a Assembléia Nacional proclamou a Declaração dos diretos do homem e do cidadão, pretendia advertir o resto da Europa que tinha descoberto princípios de governo universalmente válidos.

A monarquia constitucional surgida em 1791 era tão ineficiente que deu lugar à proclamação da República na França. Durante o seguinte período, o país foi governado por dirigentes revolucionários que tiveram que enfrentar uma série de guerras, organizadas por uma coalisão de potências européias cujo absolutismo considerava inadmissíveis os ideais revolucionários franceses. O governo do Diretório tentou assimilar os elementos menos controversos da herança revolucionária, abrindo caminho para a rápida conquista do poder por Napoleão Bonaparte. Este deu um golpe de estado em 1799, governando de forma autoritária e proclamando-se imperador em 1804. Como parte do seu plano para estender os princípios da revolução francesa, promulgou o código napoleônico, que consistia num sistema codificado de leis, colocando a educação sob controle estatal. No que tange aos assuntos exteriores, Napoleão reorganizou o mapa da maior parte do continente, anexando grandes extensões ao Império francês, pela força das armas.

Se o seu sucesso dependia do entusiasmo nacional francês, sua queda foi provocada pelo desenvolvimento da consciência nacional dos outros povos europeus. As Guerras Napoleônicas se diferenciaram das de Luis XIV, porque não ocorreram simplesmente entre estados, mas entre estados nacionais. Após uma série de desastres, Napoleão foi derrotado na batalha de Waterloo. Durante seu governo, ele incrementou o poder do estado centralizado acrescentando-lhe uma dose de nacionalismo.

Após o exílio de Napoleão, os aliados vitoriosos se reuniram, decididos a restabelecer a antiga ordem no Congresso de Viena. O austríaco Klemens von Metternich criou um acordo geral para vigiar o continente contra qualquer desordem de índole revolucionária. Porém, as idéias revolucionárias européias continuaram na surdina, contando com a ajuda das tensões criadas pelo desenvolvimento industrial. Os românticos, que rejeitavam o cálculo racional e o autocontrole clássico, deram ao liberalismo, ao socialismo e ao nacionalismo um conteúdo emotivo. Como herdeiros da Ilustração e representantes da burguesia, os liberais fizeram campanha em favor do governo constitucional, a educação secular e a economia de mercado, o que libertaria as forças produtivas do capitalismo.
Entre 1815 e 1848, Europa foi sacudida por três crises revolucionárias. Em 1848, os levantes se estenderam por toda a Europa, com a exceção de Grã-Bretanha, Rússia e da Península Ibérica. As estradas de ferro, a industrialização e o crescimento populacional estavam modificando a paisagem da Europa, ao mesmo tempo que o pensamento materialista começou a desafiar o primado romântico da poesia e a filosofia. A ciência estava-se tornando uma referência, a garantia do progresso inexorável. Charles Darwin, apesar da sua visão sobre uma natureza selvagem, predicou a "sobrevivência dos mais aptos"; por sua vez Karl Marx e o revolucionário alemão Friedrich Engels ridiculizaram as utopias e elaboraram um socialismo científico, fundamentado em propostas mais radicais de transformação da sociedade.

O liberal e pragmático Camilo Benso di Cavour unificou a Itália ao saber combinar habilmente a diplomacia com o uso de exércitos regulares. O político húngaro Ferenc Deák negociou a autonomia da Hungria dentro do contexto da monarquia dos Habsburgo. Na França, Napoleão III forjou uma ditadura que coordenou a industrialização com os programas de bem estar público, a disciplina e a ordem social. Otto von Bismark unificou a Alemanha utilizando as guerras contra a Dinamarca, Áustria e França, para converter o novo estado numa das principais potências da Europa. Na Espanha, após a perda de todas as colonias americanas e o confronto entre liberais e conservadores, o século XIX foi uma época de graves convulsões políticas.

Para a maioria dos europeus, a época entre 1871 e 1914 foi a Belle Époque. A ciência tinha tornado a vida mais cômoda e segura, o governo representativo tinha grande aceitação e se esperava confiantemente um progresso contínuo. As potências européias se orgulhavam dos seus avanços e, convencidas de que a história lhes tinha reservado uma missão civilizadora, reclamaram enormes territórios da África e da Ásia para torná-los suas colônias. As rivalidades nacionais se exacerbaram por causa da competição imperialista.

Enquanto isso, a classe operária industrial aumentava e os partidos social-democratas marxistas pressionavam os governos europeus. O imperador Guilherme II, na Alemanha, afastou Bismark em 1890. Durante duas décadas o chanceler tinha levado adiante, com sucesso, uma surpreendente política de alianças internacionais que mantivera a paz. O perigo alemão, junto à rivalidade entre Rússia e a Áustria nos Balcãs, exigia uma atividade diplomática que representava enormes dificuldades. O assassinato do arquiduque Francisco Fernando de Habsburgo, em 28 de junho de 1914, foi o estopim que desencadeou a crise que a Europa tentava contornar.

11 AS GUERRAS MUNDIAIS
O entusiasmo com que os povos europeus saudaram a I Guerra Mundial se transformou em horror, quando começaram a ser conhecidas as listas de baixas, sem proporção com os limitados objetivos atingidos. Nas últimas semanas de 1918, o império alemão, o austríaco e o russo desapareceram. O presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson, tinha envolvido os Estados Unidos na guerra, tentando impor a democracia. Lenin, o dirigente bolchevique que em 1917 se apossou do poder na Rússia, conclamava o proletariado europeu à luta de classes e assentava as bases ideológicas da revolução socialista.

A Sociedade das Nações tinha sido fundada, mas exerceu pouca influência e o nacionalismo continuou sendo uma faca de dois gumes. A criação de estados nacionais na Europa central trazia consigo a existência de minorias nacionais. E os Tratados de Versalhes, ao estabelecer um culpado pela guerra, feriram o orgulho alemão, enquanto os italianos acreditavam que lhes tinham tirado sua parte no butim de guerra. Benito Mussolini se aproveitou do descontentamento nacional e do medo ao comunismo para estabelecer uma ditadura fascista em 1922, com uma mistura de nacionalismo e socialismo. Na Alemanha, a inflação e a depressão deram a Adolf Hitler a oportunidade de combinar essa ideologia com um conteúdo profundamente racista.

A crise espanhola trouxe a queda da monarquia, após as eleições municipais em 1931. Mas a República sofreu os embates da oposição desde seus inícios. Em 1936 foi deflagrada a guerra civil, que terminou em 1939 com o triunfo da ditadura de Francisco Franco, apoiado por nazistas e fascistas.

Ao enfrentar a crescente beligerância dos estados totalitários, Grã-Bretanha e França adotaram uma política de contemporização que só foi abandonada após a invasão alemã da Polônia, em 1939. A II Guerra Mundial começou com rápidas vitórias do exército alemão, mas em 1941 soviéticos e norte-americanos entraram em guerra. O rumo do conflito mudou, e a Alemanha e seus aliados foram derrotados após uma terrível batalha em duas frentes.

Depois da guerra o continente foi dividido em duas esferas de influência: a soviética e a norte-americana. Em pouco tempo, a tensão entre as duas superpotências tomou a forma de Guerra Fria. Entre 1945 e 1948, ditadores apoiados pela União Soviética alcançaram o poder no coração da Europa. Em 1949, foram criados os governos das Alemanhas Ocidental e Oriental, simbolizando a divisão do continente. Alarmado pelo estabelecimento dos governos comunistas na Europa oriental e pela vulnerabilidade da Europa ocidental, George C. Marshall propôs um programa de ajuda que possibilitou uma miraculosa recuperação econômica no oeste. A criação da Organização do Tratado do Atlântico Norte aumentou ainda mais a dependência européia dos Estados Unidos.

Os dirigentes soviéticos foram incapazes de impedir que Josip Broz (Tito) empreendesse uma aventura diferente: o socialismo auto-gestionário da Iugoslávia. Em 1953, os alemães orientais se amotinaram e em 1956, os húngaros enfrentaram heroicamente os soviéticos. Em 1968, novamente o controle soviético foi posto a prova na Tchecoslováquia, que os soviéticos precisaram invadir para acabar com a "Primavera de Praga". A própria URSS teve que enfrentar as pressões nacionalistas, quando algumas de suas repúblicas começaram a questionar o governo centralizado.

12 A NOVA EUROPA
Os norte-americanos trataram os europeus como aliados na Aliança Atlântica. Alguns, no entanto, perceberam os perigos da influência dos Estados Unidos. Tal foi o caso de Charles de Gaulle, que ao se negar a conceder aos Estados Unidos uma presença permanente na Europa ocidental, interrompeu a colaboração francesa com a OTAN, e começou a desenvolver uma força de dissuasão própria. Defendeu a idéia da união entre os estados europeus. O primeiro passo nesse sentido já tinha sido dado em 1951, quando a França, a República Federal da Alemanha, a Itália e os Países Baixos, estabeleceram o Mercado Comum do Carvão e do Aço. Depois, em 1957, criou-se a Comunidade Econômica Européia (ver União Européia).

Em fins da década de 1980, as condições econômicas da Europa oriental se deterioravam tão rapidamente que os governos comunistas não puderam segurar por mais tempo a onda de protestos populares. Durante 1989 e 1990, as eleições livres levaram a governos democráticos na Polônia, Hungria e Tchecoslováquia. Em fins de 1989 caiu o Muro de Berlim, e em 1990 a Alemanha Oriental foi absorvida pela Alemanha Ocidental. Em 1991 foi reconhecida a independência das três repúblicas bálticas, Estônia, Letônia e Lituânia; a URSS também aceitou a independência do resto das repúblicas soviéticas, o que trouxe sua total desintegração.

Na Europa ocidental, o fim da Guerra Fria trouxe esperanças de cooperação total e inclusive de amizade entre Leste e Oeste. Mas estas perspectivas não tiveram muito sucesso, diante do aumento da instabilidade das antigas repúblicas soviéticas e da eclosão da guerra entre sérvios e croatas, na Croácia, e entre sérvios, croatas e muçulmanos na Bósnia-Herzegovina. Em 1993, Tchecoslováquia também se dividiu em duas repúblicas distintas, a República Tcheca e a Eslováquia. Os países membros da Comunidade Européia (hoje chamada de União Européia) tinham estabelecido, em princípio, o dia 1 de janeiro de 1993 como data limite para a integração econômica. O tratado da União Européia ou tratado de Maastricht, elaborado para intensificar a integração política e econômica da Comunidade, foi finalmente ratificado pelos doze membros da União Européia em 1993. Em 1994, Finlândia, Suécia, Áustria e Noruega solicitaram sua inclusão na União Européia, o que se tornou efetivo para os três primeiros países em janeiro de 1995.


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