Cora Rónai
Saí [anteontem] para ver o carnaval em Ipanema. Não fui pular, ou como quer que se chame agora o ato de participar ativamente de um bloco; fui apenas olhar, ver o que estava acontecendo. A minha ideia era descer a Visconde de Pirajá até o Zona Sul da Praça General Osório, comprar uns queijos, talvez conferir o pôr-do-sol no Arpoador e depois voltar para casa.
O que era para ser um passeio interessante acabou sendo ocasião para uma melancólica constatação existencial: estou velha. Eu já sabia disso oficialmente, desde que fiz 60 anos e desde que as pessoas passaram a me empurrar para as filas preferenciais; mas nem sempre a gente sente o que sabe.
Ontem, porém, a sensação que tive foi a de que o mundo que eu conhecia, e de que gostava, acabou.
Ipanema estava cheia de gente; a partir da Farme, era difícil até andar. Havia muitas pessoas fantasiadas, havia uns focos de animação aqui e ali. Mas o que havia, de forma predominante, eram vendedores de cerveja e gente bêbada. Muita gente bêbada.
Muita gente muito bêbada! E, com isso, o que deveria ser alegria e festa dava a impressão de desespero e de infelicidade crônica, num clima under-the-volcano absurdamente angustiante.
Gente caindo, gente vomitando, gente que mal se aguentava nas pernas; gente falando palavrões aos gritos e sendo grosseira; gente se amassando escorada nas grades.
Não consigo achar graça nisso.
Imagino que as pessoas que participam desse carnaval gostam do que estão fazendo, ou não estariam lá; imagino também que, um dia, daqui a vinte ou trinta anos, vão dizer para os filhos que carnaval bom mesmo era o de antigamente.
É assim que o mundo muda e que a vida segue em frente. Nós, velhos, vamos ficando para trás. É natural.
Não consegui chegar até o Arpoador. Havia gente demais. E, para piorar, na esquina da Vieira Souto havia também uma muralha de banheiros químicos armada sobre um lago de mijo. O fedor chegava aos céus.
Voltei para a Prudente de Moraes e peguei um táxi que ia passando. Péssima ideia. Vinícius e Joana Angélica estavam fechadas, com cones e guardas impedindo a passagem dos carros. Quarenta minutos e vinte e cinco reais depois terminei o percurso de dez minutos e sete reais.
Carnaval, para mim, é uma festa que ficou em algum lugar do passado que nunca mais vou visitar.
Saí [anteontem] para ver o carnaval em Ipanema. Não fui pular, ou como quer que se chame agora o ato de participar ativamente de um bloco; fui apenas olhar, ver o que estava acontecendo. A minha ideia era descer a Visconde de Pirajá até o Zona Sul da Praça General Osório, comprar uns queijos, talvez conferir o pôr-do-sol no Arpoador e depois voltar para casa.
O que era para ser um passeio interessante acabou sendo ocasião para uma melancólica constatação existencial: estou velha. Eu já sabia disso oficialmente, desde que fiz 60 anos e desde que as pessoas passaram a me empurrar para as filas preferenciais; mas nem sempre a gente sente o que sabe.
Ontem, porém, a sensação que tive foi a de que o mundo que eu conhecia, e de que gostava, acabou.
Ipanema estava cheia de gente; a partir da Farme, era difícil até andar. Havia muitas pessoas fantasiadas, havia uns focos de animação aqui e ali. Mas o que havia, de forma predominante, eram vendedores de cerveja e gente bêbada. Muita gente bêbada.
Muita gente muito bêbada! E, com isso, o que deveria ser alegria e festa dava a impressão de desespero e de infelicidade crônica, num clima under-the-volcano absurdamente angustiante.
Gente caindo, gente vomitando, gente que mal se aguentava nas pernas; gente falando palavrões aos gritos e sendo grosseira; gente se amassando escorada nas grades.
Não consigo achar graça nisso.
Imagino que as pessoas que participam desse carnaval gostam do que estão fazendo, ou não estariam lá; imagino também que, um dia, daqui a vinte ou trinta anos, vão dizer para os filhos que carnaval bom mesmo era o de antigamente.
É assim que o mundo muda e que a vida segue em frente. Nós, velhos, vamos ficando para trás. É natural.
Não consegui chegar até o Arpoador. Havia gente demais. E, para piorar, na esquina da Vieira Souto havia também uma muralha de banheiros químicos armada sobre um lago de mijo. O fedor chegava aos céus.
Voltei para a Prudente de Moraes e peguei um táxi que ia passando. Péssima ideia. Vinícius e Joana Angélica estavam fechadas, com cones e guardas impedindo a passagem dos carros. Quarenta minutos e vinte e cinco reais depois terminei o percurso de dez minutos e sete reais.
Carnaval, para mim, é uma festa que ficou em algum lugar do passado que nunca mais vou visitar.
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