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Quando procurar um psicólogo ou psiquiatra? Entenda o melhor momento para buscar ajuda

 

Alterações no humor, no sono e no apetite. Pensamentos acelerados e uma sensação sufocante de estar com o peito apertado. Manifestações de angústias e sofrimentos emocionais podem ser um alerta para que a saúde mental seja vista com mais atenção e entregue aos cuidados de um especialista. O ator João Guilherme, filho do cantor Leonardo, disse na semana passada que avalia a possibilidade de começar um tratamento psiquiátrico por conta de uma ansiedade mais exacerbada que tem sentido.

“Eu vou ter que passar num psiquiatra, minha ansiedade tá querendo se sobressair. Angústia de coisa que nem aconteceu e talvez nem vai”, escreveu o ator de 21 anos em uma de suas redes sociais.

Com mais de 16 milhões de seguidores em suas plataformas, João Guilherme logo recebeu o apoio dos fãs, que o incentivaram a buscar ajuda de um profissional. Muitos internautas também aproveitaram a discussão para comentar que sentem a necessidade de recorrer a algum suporte especializado do tipo.

Mas, existe um momento certo para começar um tratamento psiquiátrico ou psicológico? Especialistas ouvidos pelo Estadão explicam que, embora existam fatores objetivos que respondam a essa pergunta (como duração dos sintomas), é muito importante que as pessoas busquem essa ajuda cedo e não esperem que os sintomas se agravem a ponto de sentimentos e hábitos se tornarem maiores e, até, crônicos.

A psiquiatra Yara Azevedo, mestre em psiquiatria pela Universidade de São Paulo (USP) e com experiência de 30 anos atendendo pacientes em consultório clínico, diz que investigar um possível transtorno de ansiedade ou depressão, deve ser feito logo quando os sintomas começam a aparecer. Quando isso acontece, a recuperação tende a ser mais rápida.

“O melhor momento para detectar um transtorno psiquiátrico é no começo do adoecimento”, diz Yara. “Faço uma comparação com uma pinta ou uma lesão na pele. A pessoa vai procurar um dermatologista o mais breve possível, e ele vai falar se é algo comum ou se devemos ficar em alerta. O procedimento do psiquiatra é a mesma coisa”, explica. “Quanto antes o paciente procurar, melhor”.

Em um estado de angústia, que pode estar presente em diferentes transtornos, o paciente convive com sentimentos de sufocamento, peito apertado, além da sensação de insegurança e ressentimento. “É uma verdadeira dor psíquica”, diz a especialista “Todo mundo que se sentir nesse estado de angústia deve procurar o psiquiatra”.

A especialista, porém, diz que não é fácil saber exatamente quando um desânimo profundo, uma irritabilidade constante ou uma ansiedade mais extrema deixa de ser um episódio passageiro e passa a fazer parte do campo patológico. Mas há marcadores importantes que ajudam nessa identificação.

Um deles, segundo Yara Azevedo, é a duração dos sintomas. Se um sentimento de tristeza, por exemplo, permanecer inalterado por mais de duas semanas, é necessário que a pessoa fique atenta. Além disso, outro sinal a ser considerado é se o suposto quadro depressivo começa a interferir diretamente na rotina, nos hábitos e nas relações sociais do paciente.

“Todo mundo pode sentir medo ou ter alterações de apetite transitória. Não existe um sintoma que, por si, a gente vai dizer que foge do saudável. A gente leva em conta a intensidade e a duração desses sinais”, diz. E completa: “Será considerada uma doença quando esse quadro estiver acompanhado de alterações de sono, de humor, de apetite, além de falta de prazer e de atenção”.

Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), alerta que o momento certo para buscar ajuda psiquiátrica é quando a pessoa identifica (ou identificam por ela) que a vida já começa apresentar alguns prejuízos. “Se você tem ansiedade, mas ela não te gera prejuízos, então está dentro de um aspecto normal. Mas, se gera prejuízos, então, deixa de ser normal e passa a ser doença”, diz.

Ele explica que, assim como a glicose e a própria temperatura do corpo, doenças mentais também podem ser dimensionadas. Ou seja, podem ser trabalhadas dentro de um conceito de homeostase, ou seja, dentro de um padrão de estabilidade das funções do corpo. Assim, tanto o excesso, como também a ausência de algumas sensações, podem ser sinais de uma patologia. “Sentir ansiedade, tristeza, medo é normal. Quando está dentro da normalidade está tudo bem”, afirma.

A psiquiatra Yara Azevedo, no entanto, alerta: há quem já normalizou esse prejuízo de tanto conviver com uma determinada condição, “Ainda que uma pessoa tenha medos ou sintomas antigos, se ela se propor a conversar com um profissional, ela pode descobrir que o excesso de um medo sobre algo é um transtorno psiquiátrico não diagnosticado, mas que poderia ser tratado de alguma forma”.

De acordo com Silva, o psiquiatra ajuda a dimensionar o estado mental do paciente e adotar um programa de cuidados para superar o prejuízo causado pela doença.

Em termos biológicos, os sintomas de um transtorno mental estão associados ao desequilíbrio da quantidade de catecolaminas internas nas sinapses nervosas, que são os espaços onde acontece a comunicação dos neurônios (células do cérebro).

Serotonina, dopamina e noradrenalina são alguns exemplos de catecolaminas que ajudam a modular o sentimento humano. Tristeza, alegria, euforia, ansiedade são percebidas e manifestadas de acordo com a quantidade dessas substâncias no cérebro. Medicamentos como ansiolíticos e antidepressivos são prescritos pelos psiquiatras com o objetivo de retomar o equilíbrio da quantidade de catecolaminas nas sinapses.

Mas, o tratamento depende de cada caso e situação do paciente, e está longe de ser feito apenas com remédios. Segundo os especialistas, o sucesso de um tratamento contra transtornos psiquiátricos também depende de mudanças de hábito de vida, orientação de higiene do sono, melhora da rotina, alimentação, exercícios físicos, e também com sessões psicoterapia.

“Para muitos pacientes com quadros de depressão leve, eu prescrevo psicoterapia e atividade física. Mas, em casos mais graves, com ideação de suicídio, o tratamento é de outra forma, às vezes até com privação de liberdade”, diz Antônio Geraldo da Silva, presidente da APB.

Psicólogos não fazem a prescrição de medicamentos, mas podem fazer psicodiagnósticos que ajudam a investigar e dar mais detalhes sobre o estado emocional de um paciente. Claudinei Affonso, doutor em psicologia clínica e coordenador do curso de graduação de Psicologia da PUC de São Paulo, lembra que o indivíduo não deve procurar pela psicoterapia somente nas fases mais agudas do sofrimento.

“Quando falamos em cuidar da saúde mental, é falar também de um processo de prevenção”, diz Affonso. “A psicologia é uma ciência em que o indivíduo tem a oportunidade de se conhecer, de se aproximar das suas dificuldades e, a partir disso, caminhar de acordo com as suas singularidades, tanto nas relações sociais como nas questões individuais”.

A psicoterapia, explica, pode devolver ao paciente um sentido de vida que havia sido perdido em meio a tanto sofrimento. E o psicólogo também consegue, de acordo com Claudinei Affonso, desenvolver trabalhos capazes de aliviar as angústias que são levadas ao consultório sem o uso de remédios.

“A saúde mental engloba não só o psiquismo, mas também a saúde física, os afetos, as emoções, a sensação de vida e o poder viver. É necessário contribuir para que as pessoas possam viver de forma mais saudável psiquicamente, emocionalmente e afetivamente’, afirma o psicólogo.

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