TENTATIVA DE SUICÍDIO
A deputada Raquel Cândido (PTB-RO), incluída entre os 18 parlamentares com pedido de cassação pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Orçamento, tenta suicídio ingerindo uma dose excessiva de calmantes. A deputada estava internada em uma clínica de Brasília em decorrência de tentativa de suicídio anterior.
Leia o Artigo de Marcos Sá Correa, publicado na Revista Época:
Raquel Cândido pode explicar a favelização
Está na cadeia uma profetisa do crime organizado
É um erro esquecer a ex-deputada Raquel Cândido num cárcere do Distrito Federal, onde atualmente se hospeda por tentativa de homicídio. Não porque ela precise de cuidado. Não há no caso cheiro de injustiça. Ela vendia lotes sem escritura em terras públicas de Planaltina, nas barbas do Distrito Federal. Cobrava as dívidas dos condôminos com ameaças de morte. Até aí, tudo normal. Ela se encrencou ao despejar a moradora Raimunda Muniz dos Santos, que lhe devia R$ 2.500 por sua cota na grilagem. Espancada, a favelada escapou dos tiros de pistola e se queixou à polícia. Com a denúncia, Raquel Cândido ressuscitou nos jornais. Estava sumida desde que virou incorporadora de invasões no planalto goiano. Mas é a modalidade de vigarice imobiliária, e não a ex-deputada, que merece atenção.
Raquel Cândido dispensa apresentações. Teve quase dois mandatos inteiros para ficar nacionalmente famosa. Primeiro, estreando como constituinte em 1987. Eleita em Rondônia, apareceu em Brasília como veterana de lutas populares travadas nos confins da Amazônia, lá onde a maioria dos brasileiros raramente verifica as histórias que os políticos contam de si mesmos. Trazia, entre as marcas da bravura pessoal, um filho de 11 anos, ferido à bala por estar ao lado da mãe numa emboscada contra a liderança dos sem-terra. Tratava-se de Walfredo Alves Júnior. Hoje, aos 24 anos, foge da polícia. Integrava a quadrilha que loteou Planaltina.
A estrondosa carreira parlamentar de Raquel Cândido acabou em 1994. Afundou-se num buraco de US$ 800 mil, descoberto pela CPI que naquela época desceu à mina dos anões do Orçamento. Doara verbas da União para o instituto Eva Cândido, uma fundação que tinha o nome de sua mãe e a vocação materna de sustentar a filha. Enquanto foi deputada, levou soco em plenário, bateu em funcionário da Câmara e posou para os fotógrafos empunhando escopeta. Era boquirrota e neurastênica. Errava muito, mas prestou à República um serviço e tanto. Avisou o país sobre a existência de deputados federais envolvidos com o tráfico de drogas e grupos de extermínio. Inaugurou, portanto, o ciclo de cassações que abriu a década varrendo do Congresso o deputado Jabes Rabelo e acaba de levar ao xilindró o acreano Hildebrando Pascoal. Com eles, os brasileiros aprenderam a verdadeira definição de crime organizado.
Antes, a expressão se aplicava a qualquer tiroteio no Rio de Janeiro. Supunha-se que ele fosse uma combinação de favela, droga e fuzil AR-15. Mas é apenas típico da desorganização urbana. Organizado ele fica mesmo é quando cai nas mãos de policiais, juízes, parlamentares e governadores, como enfim se descobre no Piauí, no Acre, em Alagoas ou em Mato Grosso. Do currículo de Raquel Cândido, esse pioneirismo ninguém tira.
Convém lembrar que no momento ela se encontra no presídio da Colméia. Pela intimidade com o assunto, sabe alguma coisa sobre o crescimento de favelas, que deram para aumentar mais depressa que a pobreza desde que por elas se interessaram os políticos e os especuladores do mercado paralelo de imóveis. Ela nunca teve papas na língua. Se lhe perguntarem como isso ocorre, ela responde.
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