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Entrevista: Um Brasileiro na Apple - Fábio Resende


Como você chegou a Apple?
 No fim da década de 90, me mudei para São Paulo para cursar Publicidade e Propaganda em uma universidade da capital. Permaneci na cidade por quase uma década, trabalhando em agências e criando até minha própria empresa. Na época, senti a necessidade de me especializar em uma área, mas não encontrava nenhum curso atrativo no Brasil e no exterior. Minha única opção, por incrível que pareça, foi a Suécia, país que oferecia um programa de diretor de arte interativo. Havia, contudo, um grave problema: a escola não oferecia cursos em inglês, apenas em sueco. Durante quase dois anos, fui obrigado a estudar sueco em São Paulo. Em 2007, me mudei para a capital Estocolmo e, um ano depois, já estava em Nova York trabalhando em uma agência de publicidade digital. Durante essa trajetória, acabei voltando a São Paulo para realizar novos trabalhos, até que um antigo chefe me convidou, em novembro de 2010, para trabalhar na Apple.
Como foi o processo de contratação junto à empresa?
 É longo. O recrutamento durou quase seis meses, com inúmeras entrevistas, além de um rígido controle sobre o meu passado, buscando referências sobre minhas atividades profissionais em outras companhias. A empresa responsável pelas contratações da Apple entrou em contato com quase todos os meus ex-chefes para saber de tudo que tinha feito.
Seu cargo na companhia tem um nome, digamos, diferente. O que é ser ‘creative strategist’ da Apple? 
Trabalho diretamente com grandes empresas que buscam anunciar em aplicativos com o sistema operacional da empresa, o iOS. O papel da equipe é, basicamente, pensar em como aperfeiçoar a plataforma a seus anunciantes e usuários, sempre atrelado aos próximos recursos e novidades do software, como o que foi apresentado recentemente. Ao todo, são 280 profissionais na área. Minha equipe – de produção visual – conta com quatro pessoas. Atualmente, trabalho no escritório da companhia em Nova York, mas em um prazo de três meses meu núcleo será migrado para Cupertino, sede da Apple.
Quais são os requisitos obrigatórios para que um brasileiro trabalhe em gigantes de tecnologia, como Apple e Google? 
Depois de trabalhar com pessoas de diversas nacionalidades, percebi que o brasileiro possui uma característica ímpar: a versatilidade. Nós temos uma facilidade impressionante de resolver rapidamente problemas específicos em algumas corporações. É uma grande virtude. Os americanos são mais especialistas, mas nós somos mais habilidosos. Um fator que pode contribuir para a evolução de um profissional brasileiro é que ele tente estudar no exterior. Não digo isso por termos melhores ou piores universidades, mas você consegue ter um contato mais intenso com profissionais da área morando nos Estados Unidos – e essa exposição abre portas.
Como é sua rotina de trabalho?
 Não tenho horário fixo. Geralmente entro às 9h (horário local) e saio por volta das 19h. Pela manhã, tenho uma reunião diária de 30 minutos para saber as tarefas desempenhadas pelos profissionais da equipe. Mesmo assim, compartilhamos muitas ideias: sentamos em mesas abertas – um ao lado do outro – para que o diálogo flua com mais facilidade. Também dedico parte do meu tempo fora do escritório, uma vez que precisamos conversar com agências americanas de publicidade. Quando somos chamados para desenvolver um projeto secreto, nos trancamos em uma sala – tudo para manter o sigilo do trabalho. Às sextas-feiras, seis a sete áreas diferentes se reúnem para fazer um balanço do que já foi realizado e do que se pretende fazer nas próximas semanas. Digamos que não há um padrão. Cada setor da Apple tem sua particularidade e cabe aos gestores definirem o planejamento.
Rivais do setor, como Facebook e Google, já foram escolhidas as empresas mais desejadas por apresentar espaços de lazer a seus funcionários. O que a Apple oferece a vocês? 
A cidade de Cupertino é muito pequena. Só existe a Apple por lá. Poucos funcionários moram na cidade. A grande maioria reside em São Francisco. Para tanto, a própria empresa fornece um serviço de ônibus em diversas localidades entorno da cidade. É ótimo. Como estamos de mudança, teremos novidades nos próximos anos, mas contamos com ambientes de bem-estar, como academia, sala de massagem e até uma quadra de vôlei. O refeitório é espetacular: são chefes de cozinha de diversas nacionalidades, com uma excelente comida. Até minha esposa insiste ir a Cupertino só para aproveitar as refeições da Apple. Todos os funcionários almoçam juntos, inclusive Tim Cook. Já o encontrei em algumas oportunidades, mas nunca conversamos. É muito bacana saber que temos um espaço na empresa que é divido por todos os funcionários, independente do cargo.
Para trabalhar no setor de tecnologia, é imprescindível estar no Vale do Silício? 
Acredito que não. Nova York, por exemplo, cresceu muito nos últimos anos. A atual gestão criou muitos incentivos para que empresas se desloquem para a cidade. O próprio escritório da Apple é muito grande.
Quais são os comentários que você ouve sobre o Brasil no setor de tecnologia? 
Os americanos estão fascinados com a evolução do país nos últimos anos. Especialistas na área estão cientes que o mercado nacional cresce, principalmente com a criação de vários escritórios de gigantes do setor, mas há quem já reclame de dois problema: a excessiva burocracia para abrir uma empresa e a reprodução fiel de produtos ou serviços que já despontaram nos Estados Unidos ou Europa.

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