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Enciclopédia

 

1 INTRODUÇÃO

Enciclopédia, termo derivado do grego (ver Língua grega), reunindo o prefixo en (em ou dentro de) e os substantivos kýklos (círculo) e paideía (educação). Significava, originalmente, a instrução em todos os ramos do saber ou uma formação abrangente em determinada disciplina. Este conceito fez surgir a idéia de reunir as matérias necessárias numa única obra, onde os conteúdos das várias artes e ciências, bem como as relações entre elas, seriam apresentados de maneira sistemática.

Tentativas de produzir livros desta natureza foram feitas desde épocas bastante antigas, embora a designação enciclopédia só tenha sido aplicada no século XVI. As modernas enciclopédias gerais procuram abranger todos os ramos do conhecimento, geralmente em uma coleção de tomos com textos e iconografia (ilustrações, mapas, diagramas), além de índices, relação de abreviaturas e outros recursos para facilitar a consulta. A maioria se destina ao leitor adulto, embora o público infanto-juvenil e os estudantes em geral sejam cada vez mais atendidos através de adaptações ou de obras elaboradas especificamente para tal fim. Também existem enciclopédias especializadas que se limitam a um campo, disciplina, ciência ou atividade. Outras, ainda, abordam conhecimentos gerais do ponto de vista de uma cultura particular. Na década de 1980, as editoras começaram a produzir enciclopédias eletrônicas, tanto on-line como no formato de CD.

Antes de prosseguir na leitura, quem agora consulta Encarta poderia refletir sobre a própria experiência. O disco que passa esta informação guarda o conteúdo de inúmeros volumes que exigiriam um razoável esforço até se chegar ao tipo de esclarecimento desejado. No modelo tradicional, uma teoria científica — mesmo que bem exposta e enriquecida por fórmulas e diagramas — talvez continuasse difícil para a compreensão do leigo. Ou, por mais que se descrevesse um instrumento musical, sua sonoridade permaneceria um mistério. Já a enciclopédia informatizada — explicando por meio de imagens em movimento e ilustrando através de seqüências sonoras —, ao conjugar a totalidade dos seus recursos, transforma a tarefa de procurar em quase instantâneo encontrar.

Foram necessários séculos e séculos para que o conhecimento ganhasse uma fisionomia verdadeiramente enciclopédica. No suporte papel ou no eletrônico, o ideal de sistematização é uma tarefa interminável que pressupõe uma leitura infinita e uma infinidade de leitores. Olhando para trás, a construção deste processo pode ser imaginada como milhares de quilômetros de tomos enfileirados, embora se saiba que jamais uma biblioteca abrigou todas as enciclopédias do mundo.

2 AS PRIMITIVAS OBRAS DE CONHECIMENTOS GERAIS

As enciclopédias primitivas, concebidas para leitura contínua e estudos, expunham os conhecimentos acumulados de seus autores, sendo sempre obras individuais. Eram planejadas como compêndios e, por isto, diferiam da enciclopédia moderna que serve, principalmente, como fonte de consulta e é o produto de um esforço coletivo na área do conhecimento.

3 NO MUNDO ANTIGO

Apesar de Aristóteles ser muitas vezes citado como o "pai das enciclopédias" — pela amplitude de sua obra e intenção de nela expôr todo o saber existente —, a mais antiga enciclopédia ocidental de que se tem notícia é atribuída a Espeusipo, um discípulo de Platão. Seu trabalho reuniria os conhecimentos da época, o século IV a.C., mas dela não restou nenhum fragmento. Já em Roma, Marco Terêncio Varrão escreveu Disciplinae (As disciplinas, nove livros, 30 a.C.), versando sobre gramática, dialética, retórica, geometria, astrologia, música, medicina e arquitetura. Apenas alguns trechos são conhecidos através de citações dos primeiros autores cristãos e, sobretudo, de Santo Agostinho, em A cidade de Deus.

A mais antiga enciclopédia existente é a Historia Naturalis (aproximadamente 79 d.C.) do escritor romano Plínio, o Velho. Os temas tratados em 37 livros e 2.493 capítulos abrangem antropologia e fisiologia humana, botânica, zoologia e mineralogia (com referências ao emprego dos metais e pedras preciosas em trabalhos artísticos). A inclusão de um índice temático e de uma relação das fontes utilizadas, recursos que só apareceriam muito mais tarde nas enciclopédias, conferem originalidade a este trabalho cuja consulta foi fundamental até o século XVI.

4 IDADE MÉDIA E RENASCIMENTO

Na primeira metade do século V, Marciano Mineu Félix Capela, um erudito latino que, provavelmente, atuou como jurista em Cartago, escreveu De Nuptiis philologiae et Mercurii (Sobre o casamento da Filologia e de Mercúrio). A obra principia com uma concepção alegórica da união de Mercúrio com uma "donzela muito instruída", a Filologia, na presença das sete artes liberais, personificadas como damas-de-honra. Escrita em prosa e verso, esta representação das formas do saber esboçava o currículo das universidades medievais, composto pelo trívio (gramática, dialética e retórica) e o quadrívio (geometria, astronomia, aritmética e música). Um aspecto sempre destacado na obra de Capela é a afirmação de que Mercúrio e Vênus giram em torno do Sol, contrária à concepção geocêntrica vigente.

Outro trabalho enciclopédico famoso — e, por muito tempo, apreciado — deve-se a santo Isidoro de Sevilha que reuniu em Etymologiarum, seu Originum Libri XX (Vinte livros de Etimologias ou Origens, 623 d.C.), as sete artes liberais e outros assuntos, entre eles, medicina, direito e história. Cabe salientar que, no décimo volume, consagrado à etimologia, os tópicos aparecem por ordem alfabética. No século IX, o grande educador e erudito Rabano Mauro, arcebispo de Mainz, reorganizou, em 22 volumes, a seqüência dos livros VII até XX. Essa versão modificada e ampliada das Origens, principiando com Deus e os anjos (um novo modelo de exposição), foi intitulada De Universo, sendo impressa em 1473.

Entre os séculos IX e X, a compilação do saber humano também florescia no mundo islâmico (ver Islã) que legou a erudição enciclopédica do filosófo persa Al-Farabi e do matemático Al Kharismi. Bizâncio, à mesma época, viu surgir o Myrobíblion (Mil livros), do patriarca Fócio e o Lexikon de Suídas. Ambas as obras contêm citações gregas que, sem tais registros, estariam perdidas.

A Antigüidade também ressurgiria em uma das enciclopédias mais notáveis na Europa medieval: o Speculum Majus (Espelho maior) compilado, no século XIII, pelo dominicano frei Vincent de Beauvais. Para abarcar o saber da época, a obra consta de 80 livros e foi estruturada em partes ou espelhos que refletiam o mundo. Neles figuram estudos sobre 450 autores gregos, latinos e hebreus, demonstrando a familiaridade com uma produção literária supostamente estranha ao repertório intelectual dos mosteiros medievais, bem como a deliberação de difundí-lo para um círculo maior de estudiosos.

Em 1481, o Speculum Majus foi traduzido para o inglês (ver Língua inglesa) e publicado pelo impressor William Caxton sob o título de The Mirror of the World (O espelho do mundo). A grande obra de Vincent de Beauvais - que o autor pretendia que fosse não somente lida a fundo, mas aprendida de cor - suscitou o aparecimento de outros trabalhos enciclopédicos de menor alcance.

Entre 1260 e 1267, Brunetto Latini, um italiano que foi amigo e conselheiro de Dante, escreveu Li livres dou trésor (Os livros do tesouro). Este autor se exilara na França e redigiu sua obra em vernáculo. O abandono do latim (ver Língua latina) como língua culta, o caráter maravilhoso, uma seção dedicada às repúblicas italianas do século XIII e toda a erudição compendiada fizeram deste empreendimento um marco na história das enciclopédias.

Passados três séculos, publicava-se, na Basiléia, a Encyclopaedia, seu Orbis Disciplinarum tam Sacrum quam Prophanum Epistemon (1559), do humanista alemão Paul Scalich. Trata-se de um sumário pouco significativo dos conhecimentos "sagrados e profanos", cuja menção é obrigatória pelo fato de introduzir o termo "enciclopédia" no próprio título.

5 A ENCICLOPÉDIA NOS TEMPOS MODERNOS

Os obras deste gênero pecaram, desde as primeiras tentativas, pela composição caótica e conteúdos pouco trabalhados. Na verdade, sistematizar e coordenar todos os ramos do saber continuaria sendo um desafio sem resposta satisfatória até os tempos modernos.

Neste sentido, um dos esforços mais originais e fecundos deve-se ao filósofo e estadista inglês Francis Bacon. A estrutura de sua Instauratio Magna ou Grande reconstrução do saber humano (1620), um projeto inacabado, tinha por fim apresentar a totalidade dos conhecimentos de acordo com um método adequado e uma efetiva fundamentação filosófica.

6 NOVAS CONCEPÇÕES

A moderna enciclopédia provém, sobretudo, do Iluminismo (ver Século das Luzes) — movimento intelectual também conhecido como Filosofia das Luzes — e da aspiração de tornar acessível a todos este gênero de obra. Em certos casos, perdurou a organização lógica dos conteúdos por temas ou matérias, linha onde se insere a alentada produção alemã dos séculos XVIII e XIX, influenciada pelos filósofos G.W.F. Hegel, Immanuel Kant e Christian von Wolff. Destacam-se o Lehrbuch der Wissenschaftskunde (Manual de estudos científicos, 1792) de Johann Joachim Eschemburg, o Versuch einer systematichen Encyclopädie der Wissenschaften (Ensaio de uma enciclopédia sistemática da ciência, 1796-1798) de Wilhelm Traugott Krug e do próprio Hegel, a Encyclopädie der philosophischen Wissenchaften (Enciclopédia das ciências filosóficas, 1817). De maneira geral, porém, a apresentação por assuntos foi sendo substituída pela ordem alfabética, com entradas por palavras-chave, nomes ou tópicos especiais. Este método, tornando a enciclopédia formalmente similar ao dicionário, teve reflexo também nos títulos, onde a palavra "dicionário" (ou léxicon) entrou em pleno uso.

Com entradas pela ordem alfabética, a enciclopédia passou a ser uma obra de referência ou consulta, no sentido estrito destes termos, vale dizer, o livro ao qual se recorre sempre que é preciso esclarecer dúvidas ou obter uma informação específica. Os trabalhos modernos se fundamentam, em graus variáveis, na praticidade de tal objetivo e do método adotado. Alguns demonstram uma tendência acentuada à abordagem do tipo dicionário, ampliando o número e a variedade de entradas (palavras-chave ou cabeça de verbete), na maior fragmentação possível de cada assunto. Outras, também por ordem alfabética, restrigem o número de entradas, expondo seu material sob títulos abrangentes. Sob este aspecto, guardam semelhança com as antigas enciclopédias, embora o recurso à sistemas de indexação assegure acesso à informações que não chegam a ser unidades autônomas ou que poderão ampliar o conhecimento de determinado tópico - nas enciclopédias eletrônicas, basta "clicar" termos em destaque ou utilizar outros procedimentos disponíveis para a pesquisa.

Os verbetes de acesso direto deram origem ao moderno dicionário-enciclopédico, cujo exemplo notável foi realizado pelo gramático, lexicógrafo e erudito francês Pierre Athanase Larousse no Grand Dictionnaire Universel du XIXème Siècle (Grande dicionário universal do século XIX, 1866-1876). A par da metodologia alfabética, existem até hoje enciclopédias que são, basicamente, coleções de monografias, ou seja, de longos artigos redigidos com a finalidade de dar um tratamento exaustivo aos grandes temas do saber.

Obras modernas conjugam verbetes curtos com os monográficos, em tendências variáveis. A grande maioria de elaboradores preferem favorecer o acesso direto, no estilo dicionário, por considerá-lo mais apropriado às necessidades do consulente comum, além de igualmente prático para o leitor especializado. Esta estrutura também facilita o processo de atualização, numa época que se caracteriza pelo crescimento multidirecional da informação.

Outra característica do método moderno é a mobilização de uma grande equipe de especialistas, nas diversas áreas do conhecimento: pesquisadores, redatores, colaboradores e editores. Certo grau de cooperação já se verificava nos séculos XVII e XVIII, particularmente na grande obra de Diderot e d'Alembert, a Encyclopédie. Mas foi no século XIX que se consolidou o modelo da equipe editorial como única maneira de garantir a confiabilidade dos conteúdos enciclopédicos. A meta de uma equipe editorial é, portanto, coligir a totalidade dos conhecimento que a obra pretende abranger e apresentá-la de maneira compreensível para os leigos e aceitável para os especialistas.

7 ENCICLOPÉDIAS DO TIPO DICIONÁRIO

O primeiro exemplo significativo deste tipo de apresentação foi Le grand dictionnaire historique, ou Mélange curieux de l'histoire sacrée et profane (O grande dicionário histórico, ou miscelânea da história sagrada e profana) do sacerdote e erudito francês Pierre Moréri. Publicado em 1674, com numerosas reedições e traduções para outros idiomas, o dicionário abrange história, mitologia, genealogias e biografias. A pretexto de corrigir erros originais e sanar omissões de Moréri, o filósofo e crítico Pierre Bayle escreve o Dictionnaire historique et critique (Dicionário histórico e crítico, 1694-1697). A crítica às superstições e à própria religião oficial — posição que inspiraria o ideário combativo do Iluminismo —, a vasta erudição, a clareza e simplicidade do estilo, consagraram a obra de Bayle. Várias traduções e reedições fizeram dela a enciclopédia mais consultada no século XVIII.

Na Alemanha do século XVII, Johann Hoffman compilou o respeitável Lexicon Universale (quatro volumes, 1677-1683), e também se notabilizaram os léxicos publicados por Johann Hübner em 1704 e 1712 que, sendo obras coletivas, representam um pioneirismo no modelo da colaboração sistemática, hoje em vigor. O método dos verbetes curtos, por ordem alfabética, foi adotado na Inglaterra por John Harris, compilador do Lexicon Technicum; or an universal English dictionary of arts and sciences explaining not only the terms of art, but arts themselves (Dicionário universal inglês das artes e das ciências...). À primeira edição (um volume, 1704), seguem-se os dois tomos da segunda (1708-1710) e, finalmente, o suplemento de 1744 que atualiza e amplia a obra, ilustrando com gravuras e diagramas o texto remodelado. Mais abrangente que o Lexicon de Harris foi a Cyclopaedia; or an universal dictionary of arts and sciences...(dois volumes, 1728), de Ephraim Chambers, cuja grande inovação foi estabelecer o sistema de referências cruzadas que guiam o leitor no sentido de obter informações complementares em outros verbetes relacionados com o que motivou a consulta. Assim, tornou-se possível a visão geral dos assuntos em um modelo forçosamente fragmentado, uma vez que as várias unidades de informação estão expostas na ordem do dicionário. A Cyclopaedia teve numerosas edições, culminando na New Cyclopaedia com 45 volumes (1802-1920), e conferiu a Chambers o título de pai da lexicografia inglesa. Na França, o entusiasmo despertado pela obra propiciou uma das maiores conquistas da cultura ocidental.

8 A ENCICLOPÉDIA DE DIDEROT

Uma tradução francesa da Cyclopaedia de Chambers se encontra na origem da famosa Encyclopédie, ou Dictionnaire raisonné des Sciences, des Arts et des Métiers (Enciclopédia, ou dicionário racional das ciências, artes e ofícios), conhecida simplesmente como Encyclopédie. Denis Diderot, enciclopedista, filósofo e dramaturgo, fora incumbido de rever aquela tradução, mas, em suas mãos, a tarefa se converteu num empreendimento intelectual sem precedentes. Diderot cercou-se dos mais brilhantes eruditos da época — entre eles, o matemático e filósofo Jean le Rond D'Alembert, a quem foram confiadas a revisão dos artigos de matemática e a redação do famosíssimo prefácio. O grande grupo de colaboradores incluía, entre outros expoentes, Jean-Jacques Rousseau, Voltaire, Helvétius, Holbach, Quesnay e Louis Jean-Marie Daubeton. Mas a figura primordial continuou sendo o próprio Diderot, autor dos artigos sobre as artes e os ofícios, história e filosofia antiga. Além disto, ele fez a revisão geral da obra e coordenou o trabalho dos colaboradores. Sob o ponto de vista da forma, a Encyclopédie é, essencialmente, um dicionário enciclopédico que abrange palavras de uso corrente e nomes próprios, na maioria dos casos enriquecidos com detalhadas explicações. Sua apresentação define os dois objetivos presentes no título: "como enciclopédia, deve expor, na medida do possível, a ordem e o encadeamento dos conhecimentos humanos; como dicionário racional das artes e dos ofícios, deve conter, sobre cada ciência e cada arte, seja liberal, seja mecânica, os princípios gerais que lhes servem de base e os detalhes mais essenciais que constituem seu corpo e sua substância". Veículo privilegiado do Iluminismo, a obra tem a marca da tendência anticlerical e anti-religiosa desta corrente filosófica, bem como do materialismo e de um radicalismo que explicam seu extraordinário sucesso e seu papel na preparação da Revolução Francesa.

O combate à ortodoxia vigente foi motivo de perseguições e ataques, mas a própria envergadura intelectual da obra valeu-lhe a conquista de uma posição importantíssima na história do pensamento ocidental. Publicada entre 1771 e 1772 (28 volumes, onze dos quais dedicados às ilustrações), a Encyclopédie foi acrescida de quatro tomos suplementares com mais de 200 gravuras (1776-1777) e de um índice analítico em dois volumes, em 1780. Muitas edições vieram depois.

Em 1781, Charles Joseph Panckcoucke, membro de uma família de editores franceses, publicou o plano de uma enciclopédia que transformaria a obra de Diderot e d'Alembert numa série de dicionários temáticos independentes. Essa Encyclopédie méthodique par ordre de matières (Enciclopédia metódica por ordem de assuntos) só foi concluída em 1832, anos após a morte do seu idealizador, e teve um total de 167 volumes.

9 AS ENCICLOPÉDIAS MONOGRÁFICAS

Paralelamente ao desenvolvimento das enciclopédias do tipo dicionário, as do tipo monográfico prosseguian no objetivo de abarcar a totalidade do saber. Exemplo máximo é a Encyclopaedia Britannica, cuja primeira edição saiu em Edimburgo, entre 1768 e 1771, através de 100 fascículos semanais. O projeto foi concebido por três escoceses: William Smellie, editor e autor dos principais artigos, Colin Macfarquhar, impressor, e o gravador Andrew Bell. Constava de verdadeiros tratados e artigos longos, mas também incluía verbetes apresentados por ordem alfabética, características conservadas nas edições subseqüentes que, a partir de 1929, passsaram a ser norte-americanas. A última, publicada em 1985, tem 32 volumes e obedece a um plano de extrema capacidade instrutiva: dois tomos de índices, um tomo denominado Propaedia no qual se delineia o "círculo do saber atual", dez volumes de verbetes curtos destinados à consulta rápida, que constituem a Micropaedia e, finalmente, a Macropaedia cujos 19 volumes reúnem verdadeiras monografias, oferecendo assim o "conhecimento aprofundado" dos grandes temas da cultura. Como muitas obras no gênero, a Britannica se mantém atualizada por meio de suplementos anuais. Além disto, foi editada em CD-Rom, em 1994. No ano seguinte, abriu-se à consulta por computador através da Internet.

Outro exemplo de enciclopédia monográfica é a Allgemeine Encyclopädie der Wissensschaften und Künste, in alphabetischer Folge (Enciclopédia universal da ciência e da arte, por ordem alfabética), obra alemã de proporções monumentais, publicada sob a direção dos editores Johann Samuel Ersch e Johann Gottfried Gruber. Com artigos de até mil páginas, começou a sair em 1818 e só teve o último dos seus 168 volumes entregue ao público em 1914.

Uma das obras de referência mais úteis e consultadas no século XIX foi o Konversationslexicon, subtendendo-se, nesse título, "enciclopédia para consulta e conversa entre gente instruída". Deve-se ao editor alemão Friedrich Arnold Brockhaus, que a publicou em Leipzig, entre 1796 e 1808. Com verbetes mais curtos e precisos que a obra de Ersch e Gruber — e muito ao agrado do mundo burguês (ver Burguesia) — serviu como base da Enyclopaedia Americana, compilada pelo educador Francis Lieber (30 volumes, 1829-1883), bem como da Chamber's Encyclopaedia (10 volumes, 1850-1868), dos editores britânicos Robert e William Chambers. O Konversationslexicon, em sua décima edição (1928) passou a ser conhecido como Der grosse Brockhaus (O grande Brockhaus).

10 NO SÉCULO XX

A tradição das enciclopédias francesas está representada pela Encyclopaedia Universalis (1968-1975) cuja última edição reúne 30 volumes (1990) e pela Grande Enciclopédie de Larousse (1971-1978), composta de 21 tomos e dois suplementos. A consulta rápida tem, no Petit Larousse illustré, um instrumento léxico e sinteticamente enciclopédico de grande popularidade.

Na Itália, após a pioneira Nuova Enciclopedia Popolare, do editor Pomba (Turim, 1866-1876), impôs-se como obra de referência à Enciclopedia italiana di scienze, lettere e arti realizada por Giovanni Treccani e Giovanni Gentile (36 volumes, 1929/1937).

Da extinta União Soviética é a Bolshaya sovietskaya entsiklopedya (Grande enciclopédia soviética, 64 volumes, 1926/1947) de orientação marxista (ver Marxismo) na sua linha interpretativa da história e do saber humano. Em versão para o inglês, Great soviet encyclopaedia (1983), compõe-se de 32 volumes.

A produção enciclopédica espanhola se inaugura com o Diccionario enciclopédico hispano-americano de literatura, ciencias y arte (1887-1910), e tem como obra dominante a Enciclopedia universal ilustrada europeo-americana, da editora Espasa-Calpe. Iniciada em 1905, atingiu 114 volumes, sendo permanentemente atualizada.

Nos Estados Unidos, além da já citada Encyclopaedia Britannica (na evolução posterior a 1929), destacam-se a Columbia Encyclopaedia (1935), a Collier's Encyclopaedia (1949-1951) e a Encyclopaedia International (1963), todas com edições renovadas.

No Oriente, a Grande enciclopédia japonesa, em dez volumes (1908-1919), guarda semelhança com as obras ocidentais modernas, embora se caracterize como antologia de textos científicos. A Japônica (19 volumes, 1967-1972) é uma obra de referência mais geral.

Grande enciclopédia da China, de caráter temático, abriu-se com o volume sobre astronomia (1980) e deverá ter cerca de 80 tomos. Vale lembrar que as enciclopédias chinesas sempre primaram pela extensão e minúcia. Nos tempos antigos, consistiam em textos literários, históricos e biográficos, citando-se, como obra inaugural, O espelho do Imperador (século II a. C.), que não chegou aos nossos dias. O Tai-pig-yü-lan (977-983), após nove séculos de muita popularidade, foi publicado em 22 volumes grossos. A maior obra, compilada no século XV, tinha 11.995 volumes, enquanto a famosa enciclopédia Kang-hsi tzu-tien (1726) se constitui em mais de cinco mil tomos.

11 ENCICLOPÉDIAS EM LÍNGUA PORTUGUESA

Em matéria de obras de referência abrangentes, o público lusófono recorreu, durante muito tempo, a publicações estrangeiras tradicionais, como a Britannica e os Larousse. Na década de 1930, começa o projeto cooperativo de especialistas lusos-brasileiros cujo resultado foi a Grande enciclopédia portuguesa e brasileira (40 volumes, 1935-1960), capaz de conjugar o conhecimento universal com uma variada e rica informação sobre Portugal e Brasil. Adiante, apareceram em Portugal a Verbo e a Enciclopédia Internacional Focus, iniciadas, respectivamente, em 1959 e 1964.

No Brasil, após a pioneira Enciclopédia Brasileira Mérito (1958-1964), surgiu a Barsa (1964), remodelada como Nova Enciclopédia Barsa em 1997. De caráter léxico-enciclopédico é a Grande Enciclopédia Delta-Larousse (1970), dirigida pelo filólogo Antônio Houaiss que, a seguir, esteve à frente da Enciclopédia Mirador Internacional, lançada em 1975. Obra do tipo metódico, com um volume de índices e 19 de verbetes extensos e auto-suficientes, foi composta por especialistas brasileiros. Estas obras têm sido atualizadas e reeditadas. Sua citação não esgota a vitalidade de uma produção editorial variadíssima que tem, entre outros, nos editores Abraão Koogan e Jorge Zahar — bem como nas editoras Abril, Nova, Bloch e O Globo — incansáveis difusores dos mais diversos tipos de obras enciclopédicas.

No horizonte das crianças e adolescentes, marcou época o Tesouro da juventude que pouco revela sobre a origem norte-americana, nada diz sobre quem trabalhou na adaptação, mas traçou, tematicamente, as principais linhas da cultura universal para os pequenos leitores da primeira metade do século XX. As gerações seguintes conviveram com O mundo da criança, obra enciclopédica também baseada num modelo norte-americano, cujo caráter pedagógico foi reforçado pela criteriosa inclusão de informações sobre o contexto brasileiro.

12 ENCICLOPÉDIAS MULTIMÍDIA

A primeira enciclopédia em CD-Rom foi lançada pela editora norte-americana Grolier, em 1985. Inaugurava-se, assim, a era do suporte que enriquece o conteúdo textual com som, imagens em três dimensões, imagens animadas ou vídeos e, também, com a possibilidade de consulta através das ligações de hipertexto. Na maioria dos casos, as enciclopédias multimídia derivam de obras existentes no suporte tradicional do papel impresso. Encarta, publicada pela Microsoft Corporation em 1993, baseou-se inicialmente na Funk & Wagnalls New Encyclopaedia (1971). Revista e ampliada para a comercialização no mercado internacional, a edição de 1995 serve como ponto de partida para as traduções e adaptações para diversos países, entre eles, os de língua portuguesa.



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