Existe um único caso, de um certo besourinho que parece ter vindo ao mundo só para atazanar as abelhas - ou, no mínimo, fazê-las de bobas. Originário da África do Sul, esse inseto (de nome científico Aethina tumida) chegou, não se sabe como, aos Estados Unidos, em 1998. Desde então, tornou-se uma praga terrível para os apicultores. Conhecido popularmente como "pequeno besouro de colméia" (small hive beetle, em inglês), o bicho invade o ninho das abelhas e faz um estrago danado: pilha o pólen, devora o mel e ainda coloca seus ovos e larvas lá dentro. Como ele tem uma carapaça extremamente dura, as abelhas não conseguem atingi-lo com o ferrão. Para defender a colméia, elas adotam, então, uma estratégia aparentemente perfeita: aprisionam os besourinhos em câmeras feitas de seiva de plantas, para que morram de fome. Além disso, como essas celas não são totalmente vedadas, sentinelas são destacados para montar guarda junto a elas.
O sistema de segurança acaba fracassando por causa de um detalhe curiosíssimo: com suas antenas, os besouros acariciam os carcereiros que, em retribuição, acabam alimentando o inimigo com gotas de mel. Essa singular interação entre as abelhas e seus parasitas foi descoberta recentemente pelo entomologista Randall Hepburn, da Universidade Rhodes, em Grahamstown, na África do Sul. Para observá-los, ele construiu uma colméia transparente e instalou microcâmeras em seu interior. "Na verdade, trata-se de uma espécie de mimetismo: por meio desse contato, os besouros enganam os sentinelas, fazendo-os acreditar que eles também são abelhas. Com essa artimanha, os invasores podem ficar meses na colméia, até a dominarem por completo", afirma Hepburn.
Guerra suja na colméia
1. Como a carapaça do pequenino besouro sul-africano é dura demais para o ferrão das abelhas, elas não conseguem conter a invasão da colméia
2. As abelhas tentam defender seu ninho aprisionando os invasores em pequenas celas de resina vegetal. Para evitar que os besouros escapem, algumas abelhas montam guarda junto às celas
3. Como um incrível gesto de suborno, os besouros usam suas antenas para acariciar os carcereiros
4. Essas carícias fazem os carcereiros pensar que os prisioneiros também são abelhas. Resultado: eles regurgitam gotas de mel para alimentar o inimigo, que, com o tempo, pode acabar dominando toda a colméia
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