A noção de diferença, na filosofia de Gilles Deleuze, é no mínimo uma instância problemática. Num certo sentido, ela é fundamental para a compreensão de toda a sua obra. Mas, o que é exatamente a diferença, em si mesma? Por que Deleuze afirma, de forma contundente, que a razão clássica não pode apreendê-la sem, com isso, destruir a sua natureza "rebelde e anárquica"? Antes de respondermos a tal questão, precisamos levar em consideração o fato de que, ao longo da história da filosofia, a diferença foi continuamente vista como o mais temível dos males (no mínimo, ela causava estranheza e mal-estar por sua capacidade de furtar-se a qualquer tipo de modelo ou regra preestabelecida). Ou bem a diferença era "o além celestial de um entendimento divino inacessível a nosso pensamento representativo, ou o aquém infernal, insondável para nós, de um Oceano de dessemelhança". De um modo ou de outro, a diferença encontrava-se excluída do Ser - como algo que não pertencia a sua es