BRAVO!: A natureza, em sua poesia, é só pretexto para o sr. estabelecer relações de pensamento, ilações filosóficas. O sr. é um falso poeta da natureza? Manoel de Barros : Minha obra tem um lastro da terra, mas não gosto de ser chamado de poeta ecológico - não dou muita importância a isso. Poeta é o sujeito que mexe com palavras. Tenho minha linguagem própria, que descobri, que não tem nada de ecológico. Fui criado no Pantanal, onde vivi até os 8 anos. Se as palavras que me chegam mais comumente são do brejo, é devido ao meu lastro existencial, que reflete um pouco a terra. Nossa vivência, principalmente nossa infância, é o que a gente carrega para o resto da vida. Tenho um lastro de coisas ínfimas, mas sou principalmente criado pelas palavras. Elas inventam a gente mais do que a gente a elas. Elas me ocorrem. Costumo dizer que só tenho 81 anos e muita infância para trás. O livro está dentro da gente. Tenho a convicção de que a poesia começa no desconhecer, no subconsciente, e não a
Aqui, Agora e Sempre...o Norte é o Oriente.