Fernanda Montenegro: Entrevista concedida em 1976, durante a temporada da peça "A Mais Sólida Mansão", de Eugene O´Neill.
Veja - Você disse certa vez que não existe a profissão de artista teatral. Ainda pensa assim? FERNANDA - Penso. Aqui no Brasil isso é verdade. Nós somos fantasmas, perpetuamo-nos de geração em geração por uma espécie de teimosia particular. Há gente que nos vê. Mas, em termos concretos, não temos uma existência no plano social. Não temos leis que nos amparem. Durante muitos anos, trabalhando como atriz, eu contribuía para o INPS como comerciária. Veja - Mas, apesar disso, você insiste. Por quê? FERNANDA - A gente toma corpo na medida em que se impõe, em que se exercita. Quando se chega ao primeiro plano, as pessoas descobrem o artista. Mas, antes disso, ele é um marginal. Veja - Há 25 anos você faz teatro. Nesse quarto de século, quais foram as modificações que observou no teatro brasileiro? FERNANDA - Vi a fase do belo pelo belo e a de total engajamento dentro de uma ideologia. Depois foi a libertação completa, a volta ao espírito tribal. Hoje, tentamos juntar essas fases todas. Acho