Sempre que os seres humanos reconhecem um erro, uma onda misteriosa de eletricidade percorre o cérebro. Os pesquisadores acham que o sinal poderia explicar o vício, a correção de erro e até mesmo o sexto sentido.
O estresse é normal para os 5.500 cientistas e engenheiros do Laboratório de Propulsão a Jato. Eles sabem que sempre que tomam uma decisão, mesmo o menor erro pode ter sérias conseqüências.
Afinal, as lembranças de 1999 ainda estão frescas. Há oito anos, quando a sonda espacial Mars Polar Lander entrou na atmosfera de Marte, o contato por rádio foi repentinamente perdido. O satélite simplesmente desapareceu das telas do centro de controle. Quatrocentos milhões de dólares foram perdidos.
Os dois diretores encarregados do projeto estavam convencidos de que seriam demitidos sem cerimônia. "É como lidamos com erros em nossa cultura", disse Markus Ullsperger. Mas os diretores foram poupados, recordou Ullsperger, um pesquisador de cérebro do Instituto Max Planck de Pesquisa Neurológica, em Colônia. "E foi uma boa decisão", ele disse. "Afinal, milhões foram investidos no treinamento e educação deles".
Do ponto de vista da neuropsicologia, esta foi uma excelente decisão administrativa. Os erros, como Ullsperger está convencido, são na verdade uma das fontes mais valiosas de conhecimento. "Os erros do homem são seus portais de descoberta", já disse o escritor irlandês James Joyce, antecipando uma conclusão confirmada agora pela neurociência moderna.
Capacidade de detectar os próprios erros
Ullsperger, assim como uma dúzia de outras equipes de pesquisa ao redor do mundo, atualmente está estudando como o cérebro monitora e processa seus próprios erros. "Nosso cérebro tem a capacidade fascinante de detectar erros e, se já tiverem ocorrido, de aprender com a experiência", ele explicou.
O "error-related negativity" (ERN, negatividade relacionada ao erro) é um conceito que está cativando o mundo científico. Ele se refere a uma onda elétrica característica sob o topo do crânio, que pode ser medida sempre que o cérebro detecta que um erro foi cometido. Especialmente surpreendente é o fato do sinal ERN já começar a oscilar antes mesmo da pessoa tomar consciência do erro.
No início dos anos 90, Michael Falkenstein, um neurofisiologista da cidade alemã de Dortmund, observou pela primeira vez como a voltagem diminui pelo menos 10 milivolts em um grupo específico de células nervosas, e que isto ocorre apenas 100 milissegundos após uma pessoa cometer um erro -aproximadamente o tempo que seu cursor leva para responder ao clicar no mouse.
A descoberta de Falkenstein marcou o início de um período de estudo sistemático do detector de erro do cérebro. Ela abriu o caminho para novas teorias fascinantes sobre o motivo de desordens compulsivas ocorrerem ou por que algumas pessoas hesitam enquanto outras tomam decisões confiantes. Também forneceu nova luz ao desenvolvimento do vício.
De repente ficou claro por que uma pessoa consegue freqüentemente evitar cometer um certo erro baseado apenas em uma sensação visceral. "As experiências do sistema de erro fornecem precisamente o conhecimento subconsciente no qual a intuição é baseada", explicou Ullsperger.
Leve incômodo
O sistema de erro age de duas formas. Primeiro, ele intervém de forma corretiva quando uma pessoa cometeu um erro. Mas também tem capacidade de alerta. Quando ele percebe que uma ação pode não levar ao resultado desejado, este reconhecimento é manifestado como um leve sentimento incômodo.
Ullsperger e seus colegas planejam descobrir como exatamente isto funciona, usando um aparelho de ressonância magnética nuclear (RMN). As pessoas que se deitam no tubo de RMN realizam testes simples, como o teste de Eriksen-Flanker, uma ferramenta comum e bastante conhecida dos neurocientistas. No teste, fileiras de letras, como SSHSS, SSSSS e HHSHH piscam diante dos olhos das pessoas. Então lhes é pedido que apertem um de dois botões: o botão esquerdo se a letra no meio for S e o direito se for H.
Isto não é tão fácil quanto parece. As letras à direita e esquerda das letras principais confundem o observador. Especialmente quando dispõem de um tempo limitado para realizar a tarefa, as pessoas freqüentemente corrigem suas respostas poucos momentos depois. "Eles se comportam da mesma forma que nós quando falamos algo de forma errada, notamos o erro e então corrigimos rapidamente nossa sentença", disse Ullsperger.
Eletrodos em um gorro de borracha na cabeça da pessoa medem as ondas ERN típicas oscilando pelo cérebro durante este processo. Enquanto isso, o aparelho RMN observa a área do cérebro nas quais as células nervosas estão particularmente ativas.
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