1 | INTRODUÇÃO |
Música afro-americana, música dos africanos vendidos como escravos nas Américas e de seus descendentes. No início, a música afro-americana, nos Estados Unidos, conciliava práticas musicais africanas com o vocabulário e as estruturas da música euro-americana. Abrangendo cantos de trabalho, de invocação, vozes do campo e da rua, gritos, versos rimados e spirituals, essa música servia como forma eficaz de regular o ritmo de trabalho dos escravos, como canto de prece e louvor, como código secreto de comunicação grupal e como alívio psíquico da opressão do cativeiro.
Muitos dos cantos de trabalho utilizavam o padrão africano de chamada e resposta: um líder musical do grupo dava a linha da melodia e os outros respondiam com o refrão. Esse padrão, assim como uma série de melodias africanas atuais, também foi incorporado pelo spiritual afro-americano. Tanto o spiritual como o blues, um tipo de canto folclórico profano para solo, foram enriquecidos pela liberdade africana de improvisar variações na linha melódica. É também herança africana a produção de sons polirrítmicos com os tambores, combinando simultaneamente diversos padrões rítmicos de diferentes compassos. A interação de ritmos contrastantes foi ainda transportada para um estilo musical afro-americano mais recente, o jazz.
Embora a música sacra — o spiritual — fosse a variedade afro-americana mais difundida no início do século XIX, a música profana também se fazia presente. Assim como os spirituals, os cantos de trabalho, as invocações e os gritos eram entoados a capela, outras canções profanas eram acompanhadas por instrumentos. Os primeiros instrumentos usados pelos escravos foram o tambor e o banjo, originário da África. Mais tarde, foram incorporados a flauta, o violino e o violão. Estes geralmente integravam as bandas de instrumentos de corda que forneciam música para as danças afro e euro-americanas do século XIX: gigas, reels (dança em que os casais, posicionados em duas fileiras paralelas, fazem uma série de passos), o buck-and-wing (tipo de sapateado, com movimentos bruscos dos pés e das pernas), cotilhões e quadrilhas. Alguns instrumentos improvisados — como flautas de caniço, violoncelos feitos com tinas, e simples vasos — também eram usados nas bandas de cordas.
2 | O JAZZ E SEUS ANTECESSORES |
Após a guerra civil norte-americana, os versos rimados e as baladas tornaram-se populares e o blues começou a assumir sua forma atual. A música dos espetáculos com cantores caracterizados de negros (os black minstrel shows), as bandas de instrumentos de corda, os conjuntos de metais e os pianos mecânicos passaram a chamar atenção e gêneros como o cakewalk (dança que consistia de um casal de mãos dadas, inventada provavelmente por escravos que parodiavam as atitudes dos seus amos) e o ragtime surgiram pouco a pouco. Tendo aparecido no sul e no centro-oeste dos Estados Unidos, o ragtime alcançou sua forma clássica na década de 1890, em Saint Louis, no estado do Missouri, que foi a escola dos pianistas do gênero, liderados por Scott Joplin. Na primeira década do século XX, as práticas musicais dos negros se uniram para formar uma nova música denominada jazz que, tendo surgido em Nova Orleans, espalhou-se posteriormente por todo o país. Entre os inovadores de jazz mais importantes da primeira metade do século XX encontram-se Louis Armstrong, Fletcher Henderson, Billie Holiday, Duke Ellington e Dizzy Gillespie.
3 | MEADOS DO SÉCULO XX |
Na década de 1940, o estilo rhythm and blues desenvolveu-se como uma combinação dos blues rurais com o swing das big bands voltadas para o público negro, sendo interpretado por pequenos conjuntos formados por um vocalista ou instrumentista principal e as partes de ritmo e acompanhamento. Os pioneiros e responsáveis pela popularização do rhythm and blues foram T-Bone Walker, Little Walter, Louis Jordan, Fats Domino, James Brown, Ray Charles e Ruth Brown. Desde os anos 1950, o rhythm and blues é a grande fonte da música negra, bem como do rock e da música popular norte-americana.
A soul music foi um desenvolvimento posterior do rhythm and blues. Em sua essência, é uma combinação do som do rhythm and blues da década de 1950 com as técnicas, os efeitos e os procedimentos de interpretação emprestados pela música gospel dos negros. Possui dois subestilos principais: o de Detroit, polido e sofisticado, associado ao rótulo Motown, seguido por artistas como Stevie Wonder, The Supremes e The Temptations; e o estilo de Memphis e do Tennessee, mais simples, mais orientado para o gospel, representado por Otis Redding e por Booker T. e os MGs. O movimento gospel negro iniciou-se com as primeiras apresentações de algumas igrejas protestantes, de comunidades negras, e com as canções publicadas do pastor da Filadélfia Charles A. Tindley. Utilizando os recursos dos cantos de trabalho, das invocações, dos gritos, dos spirituals, do blues e do jazz, a música gospel negra foi desenvolvida integralmente pelo compositor de hinos religiosos Thomas A. Dorsey e pela cantora Roberta Martin. Como intérpretes famosos da música gospel, podem ser citados Mahalia Jackson, The Clouds of Joy, James Cleveland e Andrae Crouch e The Disciples.
Na década de 1970, uma nova forma musical, denominada rap, surgiu nas ruas de Nova York. Lançado pelo grupo The Sugar Hill Gang em 1979, Rapper's Delight foi o primeiro sucesso do novo gênero musical. Fazendo uso de trechos de gravações de funk e hardrock e tendo uma miscelânea de sons como fundo, os intérpretes de rap entoavam dísticos rimados, em geral sobre a vida nos guetos. Foi na década de 1980 que a música se espalhou pelos Estados Unidos, enquanto o público jovem respondia às palavras duras dos cantores de rap sobre injustiça social, racismo e uso de drogas. No final dos anos 1980 e início dos anos 1990, alguns rappers estiveram envolvidos em muita polêmica, acusados de carregar demais no preconceito racial e sexual em suas canções.
4 | INFLUÊNCIA LATINO-AMERICANA |
As relações da música latino-americana com a música dos negros dos Estados Unidos mostram-se mais evidentes no predomínio dos tempos fracos, comum a ambas. No período entre 1900 e 1940, algumas danças latino-americanas — como o tango (Argentina), o merengue (República Dominicana) e a rumba (Cuba) — foram introduzidas nos Estados Unidos. Na década de 1940, iniciou-se uma fusão de elementos latinos com elementos do jazz; o estímulo veio do mambo afro-cubano e da bossa nova brasileira. O final da década de 1960 trouxe uma mistura de música latina com soul music — notavelmente a partir de Mongo Santamaria e Willie Bobo — e o reconhecimento da salsa, de Cuba e Porto Rico, como um gênero importante. Invertendo a direção das influências, a música afro-americana dos Estados Unidos também provocou algumas fusões musicais no Caribe, na América Latina e na África, dando origem ao reggae jamaicano e a seus antecessores — ska e rocksteady — e ao highlife africano (ver Música africana).
5 | MÚSICA PARA CONCERTOS E RECITAIS |
Os negros das Américas muito contribuíram, como compositores e intérpretes, para a música de concertos e recitais, de tradição européia, nas Américas do Norte e do Sul.
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