Fale um pouco do fato de ter sido eleita para presidente da Atletas pela Cidadania esta semana?O Raí é o grande mobilizador inicial desse movimento, poderia continuar presidente, mas ele quis dar o exemplo democrático da rotatividade na liderança. Assim, trocamos de papel na presidência, mas mantemos nossa força de grupo de atletas para democratizar o acesso ao esporte no País e que a oportunidade para isso é melhor do que nunca com a realização dos megaeventos no País.
Você tem acompanhado de perto a questão do legado e a gente sabe que, pelo menos no caso do Pan do Rio, ele foi muito menor do que o previsto em seu projeto inicial. O que dizer da Copa e da Olimpíada? Quais são as questões que precisam ser resolvidas de uma forma mais rápida?A prioridade do Brasil hoje é construir os equipamentos para receber os Jogos. Todos colocam grande energia nisso, mas qual é a preocupação, qual é o movimento para construir um legado no dia a dia das pessoas? A gente está começando a se articular para que não sejam repetidos os erros do passado. Queremos que os governantes assumam a questão do legado como prioridade. Temos conversado com pessoas (dos comitês locais) responsáveis nas cidades-sede (da Copa), por exemplo. Estamos, inclusive, pleiteando audiência com a presidenta (Dilma), mas ainda não fomos atendidos.
Efetivamente, na prática, que tipo de legado a Olimpíada e a Copa podem deixar? E quando falo em legado, digo o legado possível e não o ideal.Temos, atualmente, a grande chance de priorizar a questão do esporte. Nunca se falou e nunca vai se falar tanto de esporte quanto nesta década. Precisamos conseguir a mobilização da sociedade, do governo, da mídia, das empresas em torno do esporte... É uma oportunidade de ouro que não vai voltar. Mas a pergunta é: então vamos aproveitar isso só para construir estádios? Ok, mas quem vai usar depois? Se não for estabelecida uma cultura de prática esportiva para a população, vai ser tudo uma grande ilusão. Acho que, de prático, podemos atacar a questão de ampliar a prática e o acesso ao esporte, além de qualificar esse acesso. Na escola, por exemplo, significa estabelecer uma orientação mais adequada nos municípios e Estados... Se você fizer uma orientação nacional, fomentar uma estruturação (da atividade esportiva nas escolas) nos Estados e municípios, como se faz hoje para melhorar as notas do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), você ataca a questão da prática motora nas escolas públicas. Também é importante estimular a prática do esporte em geral... Esta é uma questão que não vai ser resolvida a curto prazo, mas é possível investir em melhoria dos espaços públicos (para prática de esportes) além de fazer programas de atividade física para adultos e terceira idade.
Há exemplos concretos dignos de nota?Aqui em São Paulo você vê as mudanças proporcionadas pela ciclofaixa. Quantas pessoas não passaram a ter um lazer ativo no fim de semana por causa dessa medida? São atitudes que podem aumentar a prática de esporte pela população.
Por que você defende a constituição de um sistema nacional de esportes?Precisamos, efetivamente, construir o sistema nacional de esporte. Esta semana, por exemplo, foi aprovado o sistema da cultura. Também temos o sistema da saúde, existe um sistema educacional, assim como um de assistência social. É isso que faz as coisas acontecerem no Brasil inteiro. Você tem as responsabilidades de cada ente federativo (município, Estado, governo federal), da sociedade, das instituições, mais as linhas de financiamento definidas. A gente quer a ordenação... Hoje você tem manifestações (de programas de fomento ao esporte) no Brasil, mas elas não acontecem em todos os lugares. É tudo meio eventual. Se isso não mudar, vai ser como já acontece no Brasil: quem berra mais, pode mais... Ainda está na mão de poucos o esporte nacional. Essas são as nossas três metas principais.
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