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Artigo: Cony

Cada cidade tem, mais ou menos, o Carnaval que merece. No Paraná, o Carnaval é alegre. Em Recife e Olinda, predominam a tradição, a festa burilada pelas troças, os maracatus.
Mas meu assunto é o Rio: aqui nasci e vivo, aqui pretendo morrer. A pichação é livre: trata-se do pior Carnaval do mundo. Tirante a folia, que inundam as ruas e salões, o que sobrou foi tristeza e aflição de espírito.
Acontece que me canso de ser humano e já estou enjoado de alegria, tanto a espontânea, sadia e varonil pela glória do Brasil --como é a alegria baiana, quanto a industrializada, careta e debochada que explode no Rio. No fundo, dão na mesma.
Fui ao Jardim da Saudade, lá nos fins do Rio, onde o subúrbio acaba e começa o nada. Era aniversário da morte de minha mãe, e eu acordei pensando nela. Levei-lhe flores, "restos arrancados da terra", segundo o soneto machadiano, e me perdi pelas ruas do subúrbio que não mais conheço.
E vi um Carnaval que ainda perdura ao longo dos trilhos da Central e da Leopoldina: blocos de sujos, crianças fantasiadas --uma perseguição em cima de mim-- o folião simples que vai de nada mesmo, mas veste uma alegria que parece estar acabando para sempre em vários lugares.
O cemitério vazio --vazio de vivos, para ser exato. Eu era o solitário visitante que na manhã de Carnaval levou rosas amarelas para um pouco de terra marcada pela placa simples, de granito. Não pensei em nada, nem de rezar sou mais.
Carnavalesco a meu modo, senti uma bruta alegria de saber que as rosas amarelas ali ficariam, vivendo o espaço da manhã de todas as rosas. E que lá fora, no dia e na vida que me esperavam, nada importava além da verdade de ter pisado o chão, a terra única onde nossos mortos nos esperam, sem pressa, sem apelos, mas com o amor provado pela eternidade do nada.

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