Porque o navio é mais leve que a água. Absurdo? Em parte, sim. O problema é que ninguém aceita muito bem essa explicação tão simplista. Afinal, todo mundo sabe que um punhado do aço inox que forma a carcaça de qualquer barco pesa muito mais que o mesmo punhado de água. Onde está o segredo, então? Está no tamanho do navio, e não no seu peso. Para entender isso melhor, vamos usar uma pessoa como exemplo. Imagine se ela resolve dar uma de messias e tenta andar sobre a água. Não vai funcionar, claro, e ela acabará afundando. Mas essa mesma pessoa, deitada, e não em pé na água, consegue boiar sem grandes problemas. E o peso do corpo é exatamente igual nas duas situações. A diferença está na concentração desse peso. No primeiro exemplo, ele fica todo concentrado nos pés da pessoa. Já no segundo é distribuído por toda a área do corpo. Aí, é como se você ficasse mais leve, pelo menos do ponto de vista da água que o ampara. Para os barcos, vale exatamente a mesma regra.
O segredo de tudo isso está na quantidade de água deslocada por cada material, seja o corpo de uma pessoa ou um navio. Se o volume de um material - o espaço ocupado por sua massa - for grande, mais água será tirada do lugar, certo? E o líquido reage tentando ocupar novamente esse espaço. Quanto mais água é tirada do lugar, maior é a reação. Essa força contrária é que tem o poder de sustentar um material volumoso mergulhado na água. "É justamente seu volume que permite isso", diz o engenheiro naval Cláudio Sampaio, da Universidade de São Paulo (USP). Se o volume for bem razoável, a quantidade de líquido deslocado por ele terá poder suficiente para manter um corpo de peso enorme flutuando. É esse princípio que está por trás da navegabilidade de todos os barcos desenvolvidos pelo homem, das primeiras e relativamente leves galeras do Egito antigo aos modernos porta-aviões nucleares, verdadeiras máquinas navais de guerra, que podem pesar aproximadamente 100 mil toneladas.
Navegar é preciso
GALERA - FORÇA BRAÇAL
Movidas por dezenas de remadores, às vezes auxiliados por uma vela rudimentar, as galeras foram os barcos mais importantes da Antiguidade. Versões primitivas começaram a surgir por volta do ano 3000 a.C., no Egito. Eram usadas no comércio e, principalmente, na guerra, por serem mais manobráveis que barcos movidos apenas a vela. Só desapareceram de vez no século 16 da era cristã
CARAVELA - VENTO A FAVOR
O uso de velas paralelas ao casco, capazes de aproveitar os ventos laterais como propulsão, deu autonomia aos barcos, permitindo viagens mais longas. Navios mercantes leves, como as caravelas portuguesas, com 60 toneladas e 20 metros de comprimento, podiam ir da Europa à América em um mês. Nas guerras, reinavam os galeões espanhóis, alguns com mais de 700 toneladas
NAVIO A VAPOR - VIAGENS MOTORIZADAS
Na segunda metade do século 18, estrearam os barcos com motores movidos a vapor. Os primeiros, lentos e com pás giratórias, ficaram famosos ao cruzar o rio Mississipi, nos Estados Unidos. O primeiro transatlântico assim surgiu em 1838, na Inglaterra. Como essas embarcações eram pesadas demais para a madeira, surgiram os cascos de ferro. Por volta de 1860, as rodas com pás foram trocadas por hélices
PORTA-AVIÕES - A ERA NUCLEAR
Os primeiros porta-aviões surgiram na década de 1920. Durante a Segunda Guerra (1939-1945), eles se consolidaram como os mais temidos navios de combate. Mas a grande revolução tecnológica veio mesmo nos anos 60, com a estréia dos porta-aviões nucleares. Movidos por reatores, eles não precisam parar para reabastecer. Uma máquina moderna dessas carrega em torno de 70 aeronaves
ESCUNA - VELAS GIGANTES
Com o comércio crescendo entre países distantes, foi preciso aumentar a velocidade das embarcações. Por isso surgiram as escunas, barcos com casco estreito, para diminuir o atrito com a água, e velas muito grandes. Navios assim, principalmente os ingleses e os americanos, batiam recordes sem parar. Um deles foi de Boston, nos Estados Unidos, a Liverpool, na Inglaterra, em apenas 12 dias
Ação e reação
Se um barco tem mil toneladas, seu volume tem que ser grande o suficiente para deslocar o mesmo peso de água. O líquido reagirá então com uma força equivalente às mil toneladas, só que na direção oposta à do peso do navio. Essa força de sustentação contrária equilibra as coisas e faz o barco flutuar
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