Registros confiáveis apontam que sim. A hipnose é hoje reconhecida como importante ferramenta para tratar dores e vencer medos, podendo ser usada para aplacar o sofrimento de pacientes com câncer terminal, diminuir o temor dos tratamentos dentários ou enfrentar fobias e depressão. "O estado hipnótico é uma condição mental em que o cérebro apresenta alta atividade psíquica. É uma arma terapêutica poderosa, porque a pessoa pode se desligar da realidade e até ver imagens que não existem", afirma o hipnoterapeuta Odair José Comin, de São Paulo. Nas sessões hipnóticas, o objetivo é fazer o paciente relaxar, seja pelo método clássico de fixar a atenção em um objeto ou por meio das palavras do hipnotizador. Quando a pessoa está totalmente relaxada, começa o transe hipnótico, que desencadeia importantes reações cerebrais.
"Ocorre um aumento na produção de neurotransmissores como a serotonina, que libera estímulos de bem-estar, combatendo a depressão, e a noradrenalina, que ajuda na cura de doenças ao fortalecer o sistema imunológico", diz a psicóloga Kátia Maria Takeuti, de São Paulo. Nos transes mais profundos, é possível fazer uma dor muito forte desaparecer temporariamente. Em 1998, essa técnica foi investigada por um grupo de prestigiados psiquiatras e neurologistas americanos. Com o uso de exames de tomografia computadorizada, eles comprovaram que o cérebro humano pode mesmo ser enganado pelos comandos de um hipnotizador. Ao longo do século 20, porém, a hipnose foi vista com ceticismo e até com certo descrédito, principalmente por causa da ação de charlatães, que se apresentavam em praça pública, transformando a possível terapia em espetáculos de mágica. Hoje, esse tipo de show é proibido em muitos países.
"Ninguém é hipnotizado contra a vontade, mas o mau uso da técnica pode ser perigoso. Por isso, antes do tratamento, é importante saber se o profissional tem especialização na área", afirma Odair.
Terapia milenar
1550 a.C. - ORIGEM EGÍPCIA
A compilação de textos médicos mais antiga de que se tem notícia são os papiros de Ebers, produzidos no Egito. Entre as centenas de remédios e sugestões para curar todo tipo de doença, há registros de sacerdotes que induziam seus pacientes a um estado hipnótico para aliviar a dor
Século 11 - IMAGINAÇÃO SALVADORA
O médico e filósofo árabe Avicena escreveu O Livro das Curas, um tratado pioneiro sobre a saúde da mente. Avicena acreditava que muitas doenças podiam ser curadas pela vontade do paciente e pela persuasão. Esses conceitos são a base da hipnose e da auto-sugestão
Século 18 - MAGNETISMO E MÚSICA
Considerado o precursor da hipnose científica, o psiquiatra austríaco Franz Mesmer defendia que uma espécie de magnetismo animal era capaz de curar as pessoas. Em seus tratamentos, ele mesclava o uso de ferro imantado com músicas relaxantes. Mesmer caiu em descrédito em 1784, quando ficou provado que o magnetismo animal não existia
1998 - COMPROVAÇÃO DECISIVA
Uma equipe liderada por médicos da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, viu, pela primeira vez, o comportamento de um cérebro hipnotizado. Em transe, voluntários olhavam uma figura em preto-e-branco e diziam que ela era colorida. A tomografia mostrou que a área do cérebro responsável pela cor fora ativada pelas sugestões de um hipnotizador
Século 19 - BATISMO EQUIVOCADO
Reformulando a teoria de Mesmer, o médico inglês James Braid afirmava que a hipnose era uma espécie de estado de sono do sistema nervoso. Na verdade, descobriu-se depois que no estado hipnótico há intensa atividade cerebral. Mas o termo "hipnose" - derivado de Hypnos (deus grego do sono) - foi lançado por Braid em 1843 e se popularizou
Década de 1910 - AUTODEFESA CEREBRAL
O primeiro especialista a estudar a hipnose do ponto de vista neurofisiológico foi o médico russo Ivan Pavlov. Em suas pesquisas sobre reflexos condicionados, Pavlov descobriu que a hipnose é uma resposta natural do sistema nervoso central para proteger o cérebro de algumas situações em que há excesso de estímulos externos
Década de 1920 - CURA PELA MENTE
Paralisado pela poliomielite e desenganado pelos médicos, o psiquiatra americano Milton Hyland Erickson usou técnicas de concentração mental para recuperar os movimentos. Tido como o pai da hipnose moderna, ele revolucionou as sessões de tratamento ao deixar os pacientes livres para experimentarem sensações por conta própria, e não só as sugeridas pelo terapeuta
Ferramenta multiuso
Foi-se o tempo em que a hipnose era exclusividade de divã de psicanalista. Em alguns consultórios de medicina tradicional, seu principal uso é no alívio à dor, responsável por 80% das queixas nos hospitais. A técnica atua como uma espécie de analgésico, pois relaxa a musculatura e diminui a ansiedade. Essa é a mesma estratégia utilizada na hipnodontia, método hipnótico aplicado na área da odontologia. Na cadeira do dentista, ela também serve para diminuir o temor na hora das injeções de anestesia ou do uso do pavoroso motorzinho de obturação. Outra aplicação atual é na medicina fetal. "A hipnose pode estimular a ovulação, a recepção do esperma e a fixação do embrião no útero", diz a psicóloga Clystina Abram, do Instituto Brasileiro de Hipnose Aplicada, no Rio de Janeiro.
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