Neste fim de ano, duas óperas-rock foram relançadas em versões luxuosas, com CDs duplos, livrinhos e material inédito de bônus.
Ambas são inglesas. "Quadrophenia", de 1973, marcou a volta da banda The Who ao gênero. Quatro anos antes, o quarteto havia lançado, com mais repercussão, "Tommy".
O outro relançamento da temporada é "Artur", do The Kinks. Sua versão original saiu em 1969, mesmo ano de "Tommy", e durante muito tempo fãs das duas bandas discutiram qual delas era a real criadora do gênero.
Discussão inútil, porque há tempos os estudiosos de rock concordaram que o mérito era mesmo do Nirvana.
Não, Kurt Cobain não tem nada a ver com essa história. Ele estava literalmente no berço quando a banda psicodélica inglesa Nirvana lançou, em 1967, o álbum "The Story of Simon Simopath".
É quase um sacrilégio comparar a qualidade musical do Nirvana inglês com bandas seminais na história do rock como Who e Kinks.
No entanto, o disco de 1967 já trouxe todas as características que definiriam a ópera-rock: um álbum inteiro contando uma história ao longo de várias canções, com personagens recorrentes.
O resultado é irregular. A banda consumia LSD em altas doses quando gravou o disco. E tudo o que produziu depois, até o começo dos anos 70, é muito pior.
O Kinks sempre foi um grupo mais cult do que criador de hits. Assim, sobrou para "Tommy" todo o impacto revolucionário da ópera-rock.
O disco ganhou uma versão com orquestra sinfônica e estrelas convidadas, como Rod Stewart, virou filme de sucesso --com Roger Daltrey, vocalista do Who, no papel principal-- e, depois, uma peça, que chegou a ser montada no Brasil nos anos 90.
PELA SEGUNDA VEZ
O Who voltou ao gênero em 1973. Pete Townshend, líder e guitarrista, quis um argumento menos "maluco" do que o de "Tommy". Buscava uma trama mais realista.
Então seu foco foram brigas entre gangues de jovens que aconteceram em 1964 e 1965, em Londres e Brighton.
Falando apenas de música, "Quadrophenia" é mais poderosa do que "Tommy".
Faixas como "5:15", "The Real Me" e "Love, Reign O'er Me" entram em toda lista do melhor da banda. E eis aqui o grande desempenho do baterista Keith Moon (1946-78).
"Quadrophenia" também virou filme, em 1979 --com um jovem Sting posando de bad boy. Depois, originou um musical de teatro, em 2005.
Outros discos são chamados às vezes de ópera-rock, como "Ziggy Stardust", de David Bowie, e "Berlin", de Lou Reed. Mas não passam pelo crivo de puristas. Suas canções não têm as ligações quase literárias que sobram em "Quadropheni
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