Bem, é verdade que Steve Jobs se foi. Mas, em se tratando de manter vivos o formato e a animação das apresentações de novos recursos que ele fazia no palco, a Apple está trabalhando bem.
Na segunda feira, em San Francisco, assisti à fala do novo diretor executivo da Apple, Tim Cook, que fez comentários no início e no fim da apresentação dos novos lançamentos da Apple durante a Worldwide Developers Conference (conferência mundial de desenvolvedores), que parece destinada a se tornar aquilo que a antiga Macworld Expo costumava ser: um espaço para a Apple revelar suas mais novas invenções. O anúncio dos lançamentos em si foi delegado pelo diretor aos seus tenentes.
Comecemos com os laptops: a partir de hoje, os novos modelos do MacBook Air são mais rápidos, têm mais espaço de armazenamento, oferecem entradas mistas USB 2/3 e custam US$ 100 a menos do que antes.
Há também um novo modelo para reinar entre os super laptops, o MacBook Pro de 15 polegadas, equipado com a tela Retina Display (US$ 2.200 ou mais). O computador é muito fino e leve (1,7cm e 2kg), traz dois microfones para um melhor reconhecimento vocal – e a tela Retina Display, é claro.
Em outras palavras, trata-se de uma tela composta por um número muito maior de pontos luminosos muito menores do que os encontrados num laptop comum; com resolução de 2.880 por 1.800 pixels, esta é a tela de
resolução mais alta já vista num laptop. A Apple destaca que, quando os vídeos são editados no Final Cut, é possível ver cada ponto de um vídeo em alta definição com formato de 1080p no qual estejamos trabalhando – e ainda ter três milhões de pixels à disposição para as barras de ferramentas e timelines.
A área seguinte a receber novidades foi o Mountain Lion, a próxima versão do Mac OS X. A Apple já tinha demonstrado a maioria dos novos recursos do sistema operacional, mas houve algumas surpresas. Para mim, a principal foi o ditado. Depois de tantos anos – depois que a conversão de texto para fala chegou ao iPhone e ao Ipad, e depois de anos após o lançamento dos recursos de ditado para Windows – será agora possível escrever textos ditando as palavras para o Mac, em qualquer programa. (Para fazer o botão Dictation aparecer, basta pressionar suas vezes a tecla Fn.)
Trata-se da mesma tecnologia encontrada no iPhone: nos bastidores, nossa fala é enviada à Nuance para processamento e conversão para o texto, que é então devolvido ao Mac em questão de segundos. Em outras palavras, nenhum treinamento é necessário – o que é preciso é uma conexão com a internet. Sem internet, nada de ditado. Mal posso esperar para experimentar o recurso.
A Apple também revelou o Power Nap, um recurso do Mountain Lion anunciado na segunda feira para os laptops. Ele permite que o Mac continue a atualizar dados na internet mesmo quando estiver fechado e no modo de hibernação. O computador continua a receber e-mails, atualizações da agenda, atualizações do Photo Stream, atualizações de software e assim por diante. Neste aspecto, o consumo da bateria se torna uma preocupação, mas a Apple diz que o impacto do novo recurso é mínimo.
Na segunda-feira, a Apple anunciou também quando o Mountain Lion será lançado – “no mês que vem” – e também o seu preço: US$ 20. A cópia do sistema operacional pode ser instalada em todos os Macs do proprietário, sem números seriais nem proteção contra cópias. É possível atualizar versões anteriores do Mac OS X para a mais recente a partir do Snow Leopard.
Por fim, a Apple mostrou as novidades do novo iOS 6 – o sistema operacional dos iPhones e iPads – que será lançado no segundo semestre do ano. (O software vai rodar nos iPhones a partir do modelo 3GS, nos modelos 2 e 3 do iPad e na quarta geração do iPod Touch.) Os recursos mais interessantes e atraentes foram reservados para este sistema.
A Siri, assistente virtual controlada pela voz que todo mundo ama ou odeia, ganhou muitas capacidades novas. Agora podemos perguntar a ela a respeito de restaurantes, e a tela de resultados mostra o preço médio, o tipo de comida e outras informações a respeito de cada um dos restaurantes indicados. Esta funcionalidade é integrado ao aplicativo OpenTable, permitindo que o usuário faça reservas imediatamente, e também ao aplicativo Yelp, possibilitando a leitura de resenhas sobre cada lugar.
Também é possível fazer perguntas a respeito de filmes (“Quais filmes estão em cartaz no Metreon?” ou “Mostre-me filmes estrelados por Tom Cruise”) ou esportes (“Qual foi o placar do jogo dos Yankees de ontem à noite?”, “Qual é a média de rebatidas de Buster Posey?”, “Como está a tabela do campeonato nacional?”, “Quem é mais alto: LeBron ou Kobe?”).
E a Siri pode agora abrir aplicativos. Uau! (“Abra o Angry Birds.”) A Apple mencionou também que uma dúzia de fabricantes de carros (entre elas General Motors, BMW, Toyota, Audi, Mercedes, Honda e Jaguar) concordaram em acrescentar um botão aos volantes de seus veículos para acessar a Siri. Este recurso, chamado de Eyes Free, permite que recebamos informações e usemos a Siri enquanto dirigimos – e a tela do
iPhone nem mesmo se ilumina.
Por fim, agora é possível falar com a Siri em novos idiomas como espanhol, italiano, francês, alemão, coreano e chinês. Ah – o recurso de comandos vocais da Siri vai finalmente chegar ao mais novo iPad. Sabe quando estamos numa reunião ou no cinema e alguém telefona? Agora, a tela Answer oferece um ícone com duas novas opções: “Responder com Mensagem” (envia uma mensagem ao autor da chamada com um recado padrão do tipo “Estou numa reunião – ligo assim que puder”) ou “Lembre-me mais tarde”. Este recurso faz o iPhone usar seu GPS para lembrar o usuário de retornar o telefonema “Quando chegar em casa”, por exemplo, ou “Quando voltar”.
De modo parecido, o novo botão Não Perturbe, nas Configurações (Settings), permite ao usuário que diga ao telefone para não perturbá-lo com textos nem chamadas e notificações. Estes não deixarão de ser recebidos, mas não farão com que o telefone toque nem apite – a não ser que tenham sido enviados por aquela pessoa especial especificada nas configurações.
É verdade que alguns destes recursos já estavam disponíveis nos celulares da Treo e em outros modelos, mas é ótimo poder usá-los no iPhone.
O recurso Maps promete ser o grande trunfo do iOS 6. A Apple concluiu que era hora de parar de depender do seu acordo de licenciamento com o Google e outras empresas de mapeamento. Assim, a empresa desenvolveu seu próprio aplicativo Maps a partir do zero. Ele cobre o mundo todo e conhece cerca de 100 milhões de empresas e estabelecimentos.
O aplicativo exibe informações sobre o trânsito atualizadas em tempo real – informações que vem de onde? Dos outros usuários do iPhone. Informações sobre o trânsito obtidas por meio do crowdsourcing são enviados por eles em tempo real e de maneira anônima à Apple, que descobre então exatamente onde estão os engarrafamentos. (Há até ícones indicando o motivo da lentidão: obras, acidentes ou seja lá o que for.)
Pela primeira vez, o Maps oferece ao usuário instruções faladas passo a passo, exatamente como um GPS preso ao para-brisa, só que mais inteligente e atraente. A Siri foi incorporada ao aplicativo; basta dizer, por exemplo, “Leve-me ao Edifício Empire State” ou “Onde posso abastecer o carro?” ou “Falta muito para chegar?” (Neste caso a Siri responde, “Relaxe, estaremos lá em 14 minutos”.)
Se aproximarmos bastante o zoom do mapa, podemos ver os vultos de cada edifício. Ao inclinar o mapa, ele exibe uma impressionante visualização em 3-D – e, no modo de exibição da imagem de satélite, isto inclui até vídeos aéreos dos principais marcos da paisagem. (A Apple diz que passou os últimos dois anos sobrevoando cartões postais a bordo de helicópteros para fazer vídeos deles.)
O que mais o iOS 6 nos oferece?
* Facetime na rede celular. Agora não o usuário não precisa mais se limitar aos pontos com sinal Wi-Fi quando quiser fazer uma chamada de vídeo de um iPhone/iPad/Touch/Mac para outro.
* Compartilhamento do Photo Stream. Agora é possível escolher certas fotos e compartilhá-las com determinados amigos. Estas imagens aparecem nos álbuns Shared Photo Stream destes amigos – no aplicativo Photos (iPhone/iPad), iPhoto, Aperture, Apple TV ou (para os computadores Windows) numa página especial na rede. Pode-se até deixar comentários nas fotos.
* Mail. Como no Mountain Lion, agora é possível designar contatos especiais como VIPs. Somente as mensagens enviadas por tais pessoas são exibidas na tela travada do iPhone, e são reunidas numa pasta especial na caixa de entrada; basicamente, elas evitam o tráfego normal de mensagens. E, finalmente, podemos agora anexar uma foto ou vídeo diretamente na tela Escrever Mensagem. (Antes era preciso abrir o aplicativo Photos para enviar uma imagem por e-mail para alguém.)
* Passbook. Este novo aplicativo mantém todos os códigos de barras/ingressos eletrônicos do usuário num mesmo lugar: cartões de embarque de aeroportos, entradas para o cinema, cartões de lojas e assim por diante. (Estes aplicativos precisam ser reescritos para fazer uso do Passbook.) Quando chegamos ao cinema ou ao aeroporto, não precisamos mais procurar o aplicativo e então procurar o código de barras dentro do aplicativo; o GPS do iPhone descobre que o usuário chegou, e exibe automaticamente a entrada ou passe mais adequado. (A melhor parte talvez seja a animação mostrando um triturador de papel quando apagamos um passe usado.)
* Acesso guiado. Este novo modo de uso é um pouco como o modo quiosque. Ele nos impede de deixar o aplicativo que estamos usando – não se pode voltar à tela Home, por exemplo. A Apple destaca que isto é ótimo para crianças com autismo, para professores que queiram dar uma prova e ao mesmo tempo bloquear a capacidade de buscar as respostas no Google, e para museus que pretendam criar passeios guiados.
Por sinal, a Apple fez duas outras mudanças que não foram incluídas na apresentação. Primeiro, as novas versões dos dois programas de fotos da Apple, Aperture e iPhoto, vão usar o mesmo banco de dados. Ou seja, as mesmas fotos serão exibidas em ambos os programas, com as mesmas categorias, marcadores, notas, edições e assim por diante, possibilitando que alternemos entre eles conforme a necessidade.
Segundo, há um novo modelo de Airport Express (uma estação de sinal Wi-Fi que cabe no bolso). Este mais parece uma versão branca da Apple TV – um pequeno quadrado – que dobra a velocidade de conexão e permite
um maior número de conexões simultâneas.
Já está claro que a Apple pretende seguir algumas direções novas – que muito provavelmente serão seguidas pelo restante da indústria:
* Discos são coisa do passado. A Apple acabou com o iDVD, seu programa de autoração de DVD, e agora está excluindo gradualmente os drives de CD/DVD de seus laptops, incluindo o novo modelo de 15 polegadas. (Um drive externo de DVD pode ser comprado separadamente.) De acordo com a Apple, o futuro será online.
* A Ethernet é coisa do passado. O novo laptop não tem nem sequer uma entrada Ethernet para se conectar a uma rede (embora um adaptador possa ser comprado separadamente). É tudo Wi-Fi agora, baby.
* Os discos rígidos são coisa do passado. Os discos rígidos são a última parte móvel dos computadores. Os discos de memória flash nos modelos Air e no novo laptop da Apple são mais rápidos, resistem a choques físicos, são mais silenciosos, gastam menos a carga da bateria – e são mais caros. Mas isto vai mudar, sem dúvida.
* Os comandos vocais estão na moda. Lentamente, a Siri está ganhando mais recursos e mais compatibilidade com os produtos Apple, e um recurso de ditado acaba de ser incorporado ao Mac. É claro que a Apple não pretende parar por aí.
Muitos observadores da Apple também se perguntam se a Apple acha que os computadores de mesa ficaram para trás, já que nada foi dito a respeito do iMac e do Mac Pro. Mas um executivo da empresa me garantiu que há um novo modelo de Mac Pro a ser lançado, provavelmente em 2013.
No geral, a apresentação da manhã de segunda feira foi atordoante. Foram muitos os recursos realmente engenhosos que foram revelados. Alguns foram meras atualizações, mas hás também muito prometido para o futuro. Nada disso prova se Tim Cook e sua equipe poderão criar categorias inteiramente novas de produtos, como fazia Steve Jobs. Mas, por enquanto, eles estão fazendo um ótimo trabalho, mantendo vivo o entusiasmo em torno do conjunto atual de aparelhos da Apple.
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