Você acorda cedinho e parece que tudo está girando. Aí, você sente tontura, enjoo, perde o equilíbrio e tem um grande mal-estar. Cuidado, isso pode ser labirintite.
Labirintite é um termo usado popularmente para descrever quadros de tontura e vertigem. Mas, na verdade, é uma doença pouco frequente, caracterizada por uma infecção ou inflamação no labirinto (estrutura do ouvido interno constituída pela cóclea, responsável pela audição, e pelo vestíbulo, responsável pelo equilíbrio).
"As alterações do equilíbrio decorrentes do labirinto deveriam ser denominadas alterações vestibulares”, ensina Eliézia Alvarenga, otorrinolaringologista do Hospital Samaritano de São Paulo.
Essas alterações vestibulares, ao contrário, são muito comuns, e atingem cerca de 33% das pessoas em algum período da vida, de acordo com uma pesquisa realizada pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) no ano passado. E podem ser desencadeadas pela má alimentação e pelo estresse.
Uma questão de equilíbrio
O equilíbrio corporal é algo complexo e depende das respostas dos dois labirintos (direito e esquerdo, que devem estar em sintonia), do sistema musculoesquelético, que envolve a coluna e nos mantém ereto; e do sistema visual, que tem uma atuação no sistema modulador e transmissor dos impulsos nervosos responsáveis pelo equilíbrio, dadas pelo sistema nervoso central.
“Quando qualquer doença causa um distúrbio nesse sistema, podem ser desencadeadas tonturas, instabilidades ou até vertigens fortes com náuseas e vômitos. Isso é a `labirintite’, termo genérico para as doenças do labirinto”, explica Ricardo Ferreira Bento, professor do Departamento de Oftalmologia e Otorrinolaringologia e diretor da Divisão de Otorrinolaringologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). Como o labirinto é parte do sistema do ouvido, a labirintite é relacionada à diminuição auditiva, zumbido ou sensação de “ouvido cheio”.
São inúmeras as causas das chamadas labirintites. O labirinto pode ser afetado por alterações inflamatórias, infecciosas, traumáticas, metabólicas, vasculares, degenerativas, neurológicas, endócrinas, tumorais, por medicações ou abuso de drogas entre outras. Já a labirintite real (a infecção ou inflamação do labirinto) pode ser causada por vírus, bactérias, lesão na cabeça, alergia ou ser uma reação a um determinado medicamento.
“Apesar do quadro de tonturas e náuseas ser muito desagradável, na maioria das vezes a labirintite não é causada por um problema de maior gravidade”, diz Luiz Ubirajara Sennes, professor do Departamento de Oftalmologia e Otorrinolaringologia e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Otorrinolaringologia da FMUSP. De qualquer forma, ele recomenda sempre procurar auxílio médico quando houver uma crise de tontura, para que seja investigada sua causa e afastada a suspeita de doenças graves.
Cuidado com o que você come
Os alimentos também podem interferir nas crises de labirintite. Os três principais inimigos do ouvido interno são o açúcar, o sal e a cafeína. A ingestão de açúcar em excesso pode interferir nas estruturas do labirinto, fazendo com que ele mande mensagens erradas ao cérebro. O sal está relacionado ao aumento da pressão nos vasos, o que também pode perturbar o labirinto. E a cafeína pode estimular demais o labirinto, também causando perturbações.
“Hábitos alimentares inadequados como ingestão de muita gordura e açúcar podem levar a alterações metabólicas que irão afetar o correto funcionamento do labirinto (colesterol aumentado, hipoglicemia por hiperinsulinismo, entre outras)”, alerta Sennes.
É preciso prestar atenção não apenas no que se come, mas também em como se come. Comer sentado à mesa, sem pressa e tranquilamente, diminui o estresse, ajuda a digestão e faz bem para todo o corpo – até mesmo para o equilíbrio. Outra atitude que ajuda é comer a cada três horas, pois o labirinto precisa de um aporte constante de glicose e oxigênio para exercer suas funções. Ficar em jejum, portanto, não é uma boa ideia.
Hidratar-se também é essencial. Beber aproximadamente dois litros de água por dia é fundamental para que todas as reações biológicas do corpo ocorram adequadamente.
Cuidados para evitar crises
Para se evitar uma crise de alterações vestibulares, ou labirintite, é possível adotar uma série de atitudes. A primeira delas é tomar cuidado especial com a alimentação, tendo uma dieta balanceada e evitando alimentos gordurosos ou ricos em açúcar e carboidratos. Cafeína e álcool também devem ser evitados. Outra atitude importante é ficar longe do cigarro. A nicotina e outras substâncias do cigarro são tóxicas para o labirinto.
A prática de exercícios físicos também pode ajudar, pois estimula a circulação e o bem-estar de todo organismo.
Enfim, um estilo de vida saudável, que une alimentação equilibrada e prática regular de exercícios físicos, além de evitar situações de estresse, pode ajudar – e muito – a impedir a deflagração de uma crise de labirintite. “A vida saudável com peso adequado, alimentação regular, exercícios físicos e ausência de estresse é a melhor prevenção para as alterações do labirinto”, afirma Sennes.
No stress
O estresse também pode levar a tonturas, pois é uma alteração do estado normal do organismo, com mudanças na liberação de hormônios, das funções cardiovasculares e digestivas, do sistema nervoso e psicológicas que podem afetar secundariamente o labirinto.
O estresse influencia no desencadeamento da sensação de tontura, o que, muitas vezes, acaba confundindo o diagnóstico da labirintite.
Mas ainda não se sabe com certeza se o estresse poderia causar a labirintite. No entanto, sabe-se que ele pode desencadear uma crise, assim como agravar seus sintomas.
“O estresse, muitas vezes, pode ser o gatilho para a crise e sua manutenção, gerando insegurança e retroalimentando a tontura e o estresse. Em um determinado momento dificulta saber o que veio primeiro: a tontura ou o estresse”, diz Alvarenga.
Nem toda tontura é labirintite
Tontura não é doença, mas, sim, um sintoma que pode surgir em numerosas doenças. É um sinal de alerta de que algo não vai bem no organismo.
As tonturas estão entre os sintomas mais frequentes em todo o mundo e são de origem labiríntica em 85% dos casos. Mas elas podem estar relacionadas a outros problemas também. Um deles é o já citado estresse. Outros podem ser queda repentina da pressão arterial, desidratação e queda na taxa de açúcar no sangue (hipoglicemia), e até mesmo problemas cardíacos, hipertensão e tumores.
“Por isso, é sempre importante procurar serviço médico especializado para diagnosticar as causas e realizar o tratamento adequado”, recomenda Bento.
Para descobrir as causas, inicialmente é feita uma série de testes, que são chamados de otoneurológicos, para diagnosticar se o problema é no labirinto e o que o provoca. Quando diagnosticada a labirintite, o tratamento varia de acordo com a causa, e pode ir de medicamentos para melhorar problemas do labirinto e da circulação sanguínea até intervenções cirúrgicas.
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