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‘Devemos aprender a ficar quietos’, diz autor de ‘Quando Deixamos de Entender o Mundo’

 Benjamín Labatut ficou famoso com o livro Quando Deixamos de Entender o Mundo (Todavia), uma obra “inclassificável”, que mistura ficção, não ficção, ensaio, filosofia, ciência, e entrou até na famosa lista de leitura de Barack Obama. No Brasil para a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), ele falou sobre o apocalipse, literatura, isolamento, delírio e loucura – e sobre o terror que ele, também jardineiro, sentiu diante da mata atlântica, vista nesta sexta, 25, do barco, durante um passeio oferecido pela Flip aos convidados.

Para este chileno nascido na Holanda, o apocalipse não é algo que acontece de uma só vez. “Ele está acontecendo a todo o momento, disse ele na 10ª mesa da 20ª Flip, na noite desta sexta-feira, em uma conversa comandada por Rita Palmeira. “Não me preocupo com o fim do mundo, mas com coisas mais concretas como, por exemplo, extraterrestres. Porque o mundo está acabando e ainda estaremos aqui quando ele acabar”, continuou.

Rita levantou a questão do isolamento, algo que, nas histórias narradas por Labatut, ocorre a muitos cientistas - que em algum momento abrem mão dos seus experimentos e se isolam -, e tema de um ensaio dele, publicado na Granta, que retrata sua experiência na pandemia. “O isolamento é fundamental. As pessoas não sabem que existe uma voz que fala no silêncio e, para que se escute, é preciso estar sozinho”, ele disse. O autor, que contou que durante suas férias reservava duas semanas para estar completamente sozinho, e que entrou em pânico quando percebeu, depois de sua filha nascer, que nunca mais se veria vó, disse que deveria ser obrigatório, para todos, esse isolamento.

“Quando fazemos isso, abre-se um espaço enorme e muito perigoso porque viciante. O difícil na vida é voltar. Podemos nos apaixonar profundamente pelo silêncio. Precisamos aprender a ficar quietos, a nos calarmos.”

Labatut, que está lançando agora A Pedra da Loucura, um texto que ele chamou de “exagerado”, sugeriu que as pessoas reduzissem suas bibliotecas a 10 livros, disse que o cinema é mais importante do que a literatura e que “seria bom se houvesse menos livros, menos autores, menos editoras” e falou sobre a o delírio como algo essencial à escrita.

“O coração da literatura é o delírio, uma forma de inteligência particular no centro da literatura. Autores que não deliram só escrevem, e isso não é suficiente. Tem que estar tocado por algo. Livros têm que ter algo de perigoso, e não há nada mais perigoso do que a loucura.”

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