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Filosofia ocidental

 


INTRODUÇÃO

Filosofia ocidental, estudo racional e crítico dos princípios básicos da compreensão. Divide-se quase sempre em quatro ramos principais: metafísica, epistemologia, ética e estética. Os dois tipos fundamentais de investigação filosófica são a filosofia analítica, que é o estudo lógico dos conceitos, e a filosofia sintética, que é a organização dos mesmos num sistema unificado. Para os gregos clássicos, o termo filosofia significa a busca do conhecimento por si próprio e abrange todas as áreas do pensamento especulativo. É popularmente compreendida como um conjunto de atitudes e valores básicos referentes à vida, à natureza e à sociedade, embora tal definição continue sendo objeto de controvérsia. No século V a.C., na escola eleática, Parmênides trouxe o conceito de “ente”, e Zenão de Eléa, os paradoxos lógicos, enigmas intelectuais que filósofos e lógicos de todas as épocas posteriores tentariam resolver. O interesse dos eleáticos pelo problema da coerência racional propiciou o desenvolvimento da ciência da lógica.

Por outro lado, a especulação em torno do mundo físico, iniciada pelos jônios, foi seguida pelos pluralistas Empédocles e Anaxágoras. Seu conceito de partículas elementares levou ao desenvolvimento de uma teoria atômica da matéria, que foi formulada pela primeira vez pelos atomistas Leucipo e Demócrito de Abdera, a quem se atribui o primeiro esboço mais completo de um materialismo determinista. Por volta de fins do século V a.C., os sofistas passaram a ter um importante papel na evolução das cidades-estados gregas. A famosa máxima de Protágoras, “o homem é a medida de todas as coisas”, é representativa da atitude filosófica desta escola.

Talvez a maior personalidade filosófica da história tenha sido Sócrates. Sua contribuição não foi uma doutrina sistemática, e sim um método de reflexão, a maiêutica, e um estilo de existência. Enfatizou a necessidade de um auto-exame analítico das crenças de cada um, de definições claras para os conceitos básicos, e de um levantamento racional e crítico dos problemas éticos. Platão, pensador mais sistemático do que Sócrates, baseou sua filosofia em sua teoria das idéias, ou doutrina das formas. Seu conceito do bem absoluto — que é a idéia mais elevada e engloba todas as demais — foi uma das principais fontes das doutrinas religiosas panteísta e mística na cultura ocidental.

Aristóteles, considerado o mais ilustre discípulo de Platão e, juntamente com ele, o mais profundo e influente pensador do mundo, definiu os conceitos e princípios básicos de inúmeras ciências teóricas, como a lógica, a biologia, a física e a psicologia. Ao estabelecer os rudimentos da lógica como ciência, desenvolveu a teoria da inferência dedutiva, representada pelo silogismo e por um conjunto de regras, fundamentando o que viria a ser o método científico. Esboçou um sistema orgânico da natureza que foi adotado por muitos teólogos cristãos, judeus e muçulmanos na Idade Média.

Do século IV a.C. ao desenvolvimento da filosofia cristã no século IV, o epicurismo, o estoicismo, o ceticismo e o neoplatonismo foram as principais escolas filosóficas do mundo ocidental. O interesse pela ciência natural declinou durante este período e essas escolas se preocuparam principalmente com a ética e a religião.

FILOSOFIA MEDIEVAL

Durante o declínio da civilização greco-romana, os filósofos ocidentais abandonaram a investigação científica da natureza e a busca da felicidade no mundo e passaram a se preocupar com o problema da salvação em outro mundo melhor. Por volta do século III, o cristianismo já se havia estendido às classes mais cultas do império romano.

Santo Agostinho conciliou a ênfase dada pelos gregos à razão com a insistência dos romanos nas emoções religiosas dos ensinamentos de Cristo e dos apóstolos, gerando um sistema de pensamento que se transformou na própria doutrina do cristianismo da época. Em grande parte graças a sua influência, o pensamento cristão foi platônico em espírito até o século XIII. O estadista do século VI, Boécio, reavivou o interesse pelos pensamentos grego e romano, especialmente pela lógica e a metafísica aristotélicas. No século IX, o monge irlandês Johannes Scotus Erigena propôs uma interpretação panteísta do cristianismo, identificando a Trindade divina com o Uno, o Logos e a Alma universal do neoplatonismo.

No século XI, ressurgiria o pensamento filosófico, fruto do crescente encontro entre as diferentes regiões do mundo ocidental e o despertar do interesse pelas culturas desconhecidas, que culminaria no Renascimento. Os filósofos muçulmanos, judeus e cristãos interpretaram e esclareceram os escritos de Platão, Aristóteles e outros sábios gregos, tentando conciliar a filosofia com a fé religiosa e dar às próprias crenças religiosas pilares racionais. Surgiu a escolástica, cujo método foi dialético ou discursivo. O interesse pela lógica do discurso levou a importantes avanços, tanto em lógica quanto em teologia.

Avicena, físico árabe do século XII, integrou o neoplatonismo e as idéias aristotélicas à doutrina religiosa muçulmana. Outros pensadores de destaque foram o poeta judeu Solomon ben Yehuda Ibn Gabirol e o filósofo eclesiástico e escolástico Santo Anselmo, que estabeleceu o papel do realismo lógico num dos debates mais conflituosos e transcendentes da filosofia medieval, o dos universais. A idéia contrária, o nominalismo, foi formulada pelo filósofo Roscelino.

O teólogo francês Pedro Abelardo propôs um compromisso entre realismo e nominalismo, que ficou conhecido como conceitualismo. O jurista ibero-muçulmano Averroés contribuiu para que a ciência e o pensamento aristotélico tivessem grande influência no mundo medieval, graças a seus lúcidos e eruditos comentários sobre a obra de Aristóteles. Outros escolásticos de destaque foram ainda Maimônides, o filósofo São Boaventura e Santo Alberto Magno. Porém, a maior figura intelectual da era medieval foi, sem dúvida, Santo Tomás de Aquino, que uniu a ciência aristotélica e a teologia agostiniana num amplo sistema de pensamento, que se transformaria na filosofia autorizada da Igreja Católica.

FILOSOFIA MEDIEVAL DEPOIS DE TOMÁS DE AQUINO

As maiores críticas à filosofia tomista viriam a ser formuladas por Johannes Duns Scotus e por William of Occam. Nos séculos XV e XVI, o renascer do interesse científico pela natureza veio acompanhado de uma tendência ao misticismo panteísta. O prelado católico romano Nicolau de Cusa, ou Cusano, antecipou a obra do astrônomo polonês Nicolau Copérnico, ao sugerir que a Terra se move em torno do Sol, deslocando, assim, a humanidade do centro do universo, que concebia como infinito e idêntico a Deus. O filósofo Giordano Bruno, que também identificou o universo com Deus, desenvolveu as implicações filosóficas da teoria copernicana, que influenciariam correntes intelectuais posteriores, levando ao nascimento da ciência moderna e à Reforma.

FILOSOFIA MODERNA

A partir do século XV, a filosofia moderna tem estado caracterizada por uma contínua interação entre sistemas de pensamento, fundados em uma interpretação mecanicista e materialista do universo, e os que se baseiam na fé no pensamento humano como única realidade última. Esta interação reflete o efeito crescente das descobertas científicas e das transformações políticas na especulação filosófica.

MECANICISMO E MATERIALISMO

Os séculos XV e XVI marcam um período de desenvolvimento social, político e intelectual de corte radical. A visão medieval do cosmos é suplantada pela visão mecanicista do mundo como uma grande máquina, cujas partes se movem segundo leis físicas exatas, sem propósito ou vontade. Nesta nova visão filosófica, a experiência e a razão são os únicos padrões efetivos para elucidar a verdade. O jesuíta espanhol Francisco Suárez teve grande influência na transformação da escolástica clássica e na elaboração de uma moderna concepção da lei e da autoridade real. O primeiro grande representante da nova filosofia foi Francis Bacon, que erigiu um novo método científico (novum organum), baseado na generalização indutiva realizada a partir da observação e da experimentação. Foi o primeiro a formular leis para a inferência indutiva.

O trabalho do físico e astrônomo Galileu foi da maior importância para o desenvolvimento desta nova visão de mundo. Criou a ciência da mecânica, que aplicava os princípios da geometria aos movimentos dos corpos. Por sua vez, o filósofo racionalista René Descartes fez da matemática o modelo de toda a ciência, aplicando seus métodos dedutivos e analíticos a todas as áreas do saber.

Thomas Hobbes elaborou um amplo sistema de metafísica materialista, que trouxe uma solução para o problema mente-corpo do dualismo, reduzindo a mente aos movimentos interiores do corpo. Aplicou os princípios da mecânica a todas as áreas do conhecimento. O filósofo holandês Baruch Spinoza afirmou que toda a estrutura da natureza pode ser deduzida de umas tantas definições básicas e axiomáticas, conforme o modelo da geometria de Euclides. John Locke enriqueceu a tradição empirista iniciada por Bacon: dotou o empirismo de um marco sistemático, fazendo da epistemologia o principal objeto de interesse da filosofia moderna.

IDEALISMO E CETICISMO

Gottfried Wilhelm Leibniz combinou os descobrimentos matemáticos e físicos de seu tempo com as concepções orgânicas e religiosas da natureza herdadas do pensamento clássico e medieval, marcando o início da tradição filosófica do idealismo. Foi George Berkeley que transformou o idealismo numa poderosa escola de pensamento, ao uni-lo ao ceticismo e ao empirismo, tornando-se, assim, muito influente na filosofia britânica. Estabeleceu a visão epistemológica do fenomenalismo e abriu o caminho que seria seguido pelo movimento positivista no pensamento moderno. David Hume, por sua vez, incentivou o uso de procedimentos estatísticos, em lugar dos sistemas dedutivos, e deu novo alento à redefinição de conceitos básicos.

Em resposta ao ceticismo de Hume, Immanuel Kant construiu um amplo sistema de filosofia, que pode ser colocado entre as maiores conquistas intelectuais da cultura ocidental, combinando o princípio empirista de que todo conhecimento se origina da experiência com a crença racionalista no conhecimento obtido por dedução.

Na França, a atividade social culminou no período conhecido como o Iluminismo, que impulsionou as mudanças sociais que produziram a Revolução Francesa. Na Alemanha, através da influência de Kant, o idealismo e o voluntarismo se tornaram as tendências dominantes, com filósofos como Johann Gottlieb Fichte e Friedrich Wilhelm Joseph von Schelling. Sem dúvida, o espírito filosófico mais potente do século XIX foi o filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel, com seu sistema de idealismo absoluto. Sua concepção de Estado nacional como a mais alta encarnação do espírito absoluto foi interpretada, durante muito tempo, como a principal fonte das inúmeras ideologias autoritárias modernas. Outros pensadores de destaque foram o alemão Arthur Schopenhauer, o francês Auguste Comte, o economista britânico John Stuart Mill e o filósofo religioso dinamarquês Sören Kierkegaard.

FILOSOFIA EVOLUCIONISTA

A idéia mecanicista do mundo, característica do século XVII, e a fé na razão e no senso comum do século XVIII, embora ainda influentes, foram modificadas no século XIX por uma série de idéias mais complexas e dinâmicas, baseadas mais na biologia e na história do que na matemática ou na física. Entre outras, foi de grande influência a teoria da evolução a partir dos princípios da seleção natural, proclamada, em 1858, por Charles Darwin. Por sua vez, os alemães Karl Marx e Friedrich Engels elaboraram a filosofia do materialismo dialético, que se tornaria a base ideológica do comunismo.

O filósofo britânico Herbert Spencer englobou a filosofia na sociologia e na história, por considerá-las as ciências mais avançadas. Friedrich Nietzsche recuperou a concepção de existência de Schopenhauer como a expressão de uma vontade cósmica, mas fez da chamada “vontade de potência” a fonte de todo valor. No fim do século XIX, o pragmatismo, termo inventado por Charles Sanders Peirce, tornou-se uma influente escola de pensamento, particularmente nos Estados Unidos, com William James. Por outro lado, o idealismo foi uma poderosa escola de pensamento, graças à obra dos filósofos britânicos Francis Bradley e Bernard Bosanquet, que ressaltou o caráter estético e dramático do processo universal. Dentro desta corrente, destaca-se o filósofo americano John Dewey, que desenvolveu um amplo sistema de pensamento, a que denominou naturalismo experimental ou instrumentalismo.

Na França, a idéia mais influente de princípios do século XX foi o vitalismo evolucionista de Henri Bergson, que falava do élan vital, a energia expontânea do processo evolutivo. Na Alemanha, Edmund Husserl fundou a escola da fenomenologia. O matemático e filósofo Alfred North Whitehead reavivou o interesse pela metafísica especulativa, ao desenvolver um grande sistema técnico de conceitos que combina a teoria platônica das idéias com o organicismo de Leibniz e Bergson. Aplicou os avanços revolucionários da ciência do século XX para mostrar o fracasso da ciência mecanicista como meio de interpretar a realidade de forma global e absoluta. Por sua vez, Jorge Ruiz de Santayana reuniu o pragmatismo, o platonismo e o materialismo numa filosofia que sublinha os valores intelectuais e estéticos. Benedetto Croce fez do idealismo a tradição dominante na filosofia italiana; Bertrand Russell continuou fiel às tradições empíricas e utilitaristas do pensamento britânico; e George Edward Moore defendeu a realidade dos objetos, apoiando-a na crença do senso comum.

FILOSOFIA ANALÍTICA

A escola do empirismo ou positivismo lógico, fundada em Viena, definiu todos os conceitos em termos de fatos observáveis e atribuiu à filosofia a tarefa de esclarecer os conceitos e a sintaxe lógica da ciência. Uma das vias da filosofia analítica, a chamada análise lingüística, foi concretamente desenvolvida por Ludwig Wittgenstein.

FILOSOFIA EXISTENCIAL

Surgida da revolta romântica do século XIX contra a razão e a ciência, em favor de um apaixonado envolvimento com a vida, a filosofia existencial foi muito importante para o pensamento por obra de Martin Heidegger e, em menor escala, de Karl Jaspers. Na Espanha, destacaram-se José Ortega y Gasset e Miguel de Unamuno. O erudito autor sionista de origem austríaca Martin Buber interpretou a experiência humana como um diálogo entre o indivíduo e Deus. Foram realizadas várias sínteses da teologia tradicional, com a idéia existencial de que o conhecimento é mais emocional do que científico, na Suíça por Karl Barth e nos Estados Unidos por Reinhold Niebuhr e por Paul Tillich.

Na França, Jean-Paul Sartre foi um dos que mais contribuíram para a popularização do existencialismo. Durante a década de 1960, os escritos de Martin Luther King assinalaram que a filosofia tinha estado demasiadamente afastada das grandes revoltas sociais e políticas que se estavam produzindo em todo o mundo. Seguindo os princípios do líder nacionalista indiano Mohandas Karamchand Gandhi, cognominado o Mahatma, Luther King exortou uma atitude de resistência cívica e não violenta diante das injustiças.

Em setembro de 1998, a Organização para a Educação, a Ciência e a Cultura das Nações Unidas, Unesco, organizou um seminário em Paris, França, onde filósofos e cientistas discutiram as linhas de pensamento que, supostamente, nortearão as idéias do século XXI. Dentre os muitos temas que discutidos, destacaram-se “Fim da utopia ou nascimento de novas utopias?”, “Qual o futuro do espaço?”, “Será que deixaremos de ser reais?”, “Quais são as novas fronteiras da educação, do trabalho e da criação artística?”.

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