Cada vez mais pessoas saem do campo para morar em cidades. Os problemas que essa mudança histórica provocará constituem um desafio para técnicos e líderes políticos.
Fragmento de A explosão urbana
Em 1950, os países desenvolvidos contavam 155 milhões de habitantes urbanos a mais do que os países em desenvolvimento. Em 1970, a diferença não ultrapassava 30 milhões (…). No final do século, nos países em desenvolvimento viverão 1,9 bilhão de citadinos, ou seja, dez vezes mais do que nos países desenvolvidos. Mas a população rural, em torno de 3 bilhões, continuará a marchar implacavelmente para as grandes concentrações urbanas (…).
Nos países em desenvolvimento, a urbanização se produziu sem o apoio prévio da industrialização e em ritmo descontrolado, de modo que o crescimento das cidades é hoje três vezes mais acelerado do que nos países industrializados. Uma das conseqüências mais graves dessa urbanização galopante é a perda crescente, pelo campo, de boa parte de sua mão-de-obra ativa, contribuindo para aumentar o déficit da produção de alimentos (…).
0 problema do tamanho ideal das cidades (…) preocupa sociólogos e economistas (…), sobretudo nos países em desenvolvimento onde elas continuam a crescer em ritmo vertiginoso: no fim deste século, haverá (…) cinco megalópoles gigantes, de 15 milhões de habitantes ou mais, três delas no mundo em desenvolvimento.
Segundo estimativas da Organização das Nações Unidas, as grandes metrópoles dos países industrializados (…) atingiram suas dimensões máximas e nelas permanecerão durante cerca de trinta anos, mas o mesmo não aconteceu nas regiões menos desenvolvidas, onde muitas cidades que não constavam entre as grandes aglomerações urbanas dos anos 70 hoje lideram a lista das megalópoles do globo.
Cidade do México, São Paulo, Calcutá e Bombaim, (…) que nos anos 70 disputavam o sexto lugar, em 1985 passaram à linha de frente em âmbito mundial e ultrapassaram a casa dos 10 milhões de habitantes (…). Nos países em desenvolvimento, o crescimento demográfico urbano resulta antes das migrações e da expansão geográfica e espacial das cidades que do crescimento natural (…) de sua população. Mas a fecundidade das famílias de imigrantes e de habitantes das áreas absorvidas pelas cidades freqüentemente continua, durante uma geração, superior à das famílias naturais do meio urbano (…).
Nos países industrializados, a expansão das grandes cidades não repercute significativamente na agricultura, que (…) se caracteriza pela (…) produção de excedentes. Já nos países em desenvolvimento (…) tem repercussões catastróficas em todos os níveis: meio ambiente, recursos, repartição geográfica da população e estruturas socioprofissionais (…).
Essa expansão desmesurada das grandes cidades exige a implantação de complexas redes de comunicação, bastante pesadas para economias vacilantes (…). A redução das taxas de crescimento natural das populações dos países em desenvolvimento (…) tem lugar de destaque na ordem das prioridades nacionais e internacionais. Urge controlar a urbanização nesses países e harmonizá-la com as políticas agrícola, de emprego e de redistribuição populacional.
Com seu cortejo de problemas sociais, técnicos e ecológicos, a crise urbana freia o avanço econômico dos países do Terceiro Mundo (…). É preciso remediar a concentração excessiva de infra-estruturas, atividades econômicas e serviços sociais nas grandes cidades e metrópoles, além de criar indústrias e setores de atividades capazes de absorver a mão-de-obra rural (…). Em suma, é preciso inscrever o desenvolvimento rural no desenvolvimento social (…).
Fonte: Amani, Mehdi. "A explosão urbana". In Correio da Unesco, Rio de Janeiro, Nº 3, março de 1992.
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