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Rock

1 INTRODUÇÃO

Rock, termo que agrupa, de um modo geral, o conjunto de correntes musicais que surgiram em meados do século nos Estados Unidos. Considerado sinônimo da “música do século XX”, o rock perdeu com os anos o marcado caráter anglo-saxão que tinha em suas origens para transformar-se em uma linguagem universal submetida a contínuas transformações.

Surgiu de modo espetacular e desenvolveu-se a princípio como um fenômeno de massas que transtornou a vida e os ideais dos Estados Unidos. Não pode ser considerado um movimento musical em sentido estrito. Suas raízes são tão plurais que sintetizam os principais ramos da chamada música popular norte-americana, sobretudo oblues, o rhythm and blues, o gospele o country and western.

2 OS ANOS 50

A sorte sorriu para Elvis Aaron Presley, nascido em Tupelo, Mississippi, em janeiro de 1935. Pertencia a uma família humilde do Sul dos Estados Unidos (white trash, “lixo branco” para os herdeiros dos ideais escravistas da Confederação) que se estabeleceu em Memphis em 1948, mas, em 1954, já cantava e gravava temas de Arthur Crudup e Bill Monroe, oscilando entre o blues, o gospel e o country rural.

Naquela época, o propósito de algumas companhias discográficas, ante a decadência do country — no ano de 1953 falecia Hank Williams —, consistia em descobrir novos cantores que expressassem “sentimentos brancos” com força, voz e coração negros, e Elvis acabou por ser o artista escolhido em uma época em que já gozavam de relativo prestígio solistas como Jerry Lee Lewis, “o Assassino” (1935), Carl Perkins (1932), Johnny Cash (1932), Roy Orbison (1936) e Chuck Berry (1931). Salvo Berry, apoiado por Muddy Waters e uma gravadora independente de Chicago, os demais coincidiriam em seus primeiros trabalhos ao gravar em 1955 com o selo Sun Records. Outro pioneiro fundamental foi Little Richard.

Mas Elvis, graças à sua participação em diversos espetáculos de massa de Nashville nos primeiros meses de 1956, de clara significação country, pôde renunciar à sua condição de herói local que goza do interesse de uma audiência reduzida mas fiel, e, com habilidade, apoiando-se em seu tema Heartbreak hotel, atípico no contexto onde o apresentou, deslumbrou, hipnotizou as massas de adolescentes e se lançou com um triunfo que o catapultou em questão de poucos dias ao primeiro lugar da lista de sucessos nos Estados Unidos. Com Heartbreak hotel explodiu o fenômeno dos teenagers.

Paralelamente, no panorama do rock, sucederam-se fenômenos transcendentais em relação aos quais “o Rei” se mostrou alheio, pela comodidade de seu status de herói popular inquestionável, crooner (cantor melódico-romântico) ocasional e nostálgico das melodias religiosas de sua infância. Embora os músicos surgidos na década de 1960 — como Bob Dylan, The Beatles, Van Morrison, The Who, The Band, The Rolling Stones, The Kinks e Yardbirds — tenham crescido ouvindo Elvis, suas composições não refletem qualquer influência do “Rei”.

3 OS ANOS 60

Desde o começo da década de 1960, o fator mais destacado no panorama do rock consistiu no que veio a ser denominado a “resposta britânica”, expressão que engloba as numerosas formas em que os músicos ingleses assumiram as novidades procedentes dos Estados Unidos.

A aparição do grupo The Beatles em 1962, após diversas tentativas anteriores para formar uma banda estável, estimuladas pelo inquieto John Winston Lennon (teve nomes como The Quarrymen ou Johnny and the Moondogs, 1956-1959; Long John and the Silver Beatles, 1960; Beat Brothers ou The Cavern, 1961, e The Silver Beatles, 1962), a quem acompanhavam de uma forma regular Paul McCartney e George Harrison e, com menor freqüência, o baixista Stu Sutcliffe e o baterista Pete Best, foi o germe da “revolução britânica do rock”. Esses jovens de Liverpool realizaram diversas turnês pela Escócia e a Alemanha, gravações como grupo de apoio de figuras de segunda categoria, até encontrarem em Brian Epstein o produtor idôneo e idílico que levaria sua carreira ao estrelato.

A ânsia de introduzir uma transformação radical nas formas de vida, através do rockandroll, tornou-se manifesta com a aparição em cena dos Rolling Stones, nome tomado de um tema de Muddy Waters. Apresentaram-se em público em 12 de julho de 1962 no Marquee de Londres, quando seus componentes ainda não apresentavam uma formação segura. Representavam, entre os reduzidos círculos em que se apresentavam nessa fase inicial, a esperança do rhythm and blues britânico e branco e, em pouco tempo, alcançaram celebridade como áspera resposta, procedente da marginalidade, à beatlemania.

4 OUTRAS CORRENTES

Desde fins da década de 1960, o rock não deixou de apresentar variantes e novidades em relação às correntes pioneiras, até o ponto de tornar impossível sua enumeração, e perdeu vigência o argumento crítico segundo o qual um estilo se identificava em função de uma influência dominante em um período de tempo concreto. Isso não está em contradição com o fato de que, com freqüência, por caminhos trágicos, o rock tenha gerado uma galeria de mitos cuja influência se deixa sentir como um ponto de referência fundamental, como ocorre ao evocar as figuras do guitarrista Jimi Hendrix; de Keith Moon, do The Who; John Bonham, do Led Zeppelin; Bon Scott, do AC/DC; Jim Morrison, do Doors; Freddie Mercury, do Queen; Ian Curtis, do Joy Division; Phil Lynott, do Thin Lizzy; Steve Clark, do Def Leppard; Johnny Thunders, do Heartbreakers; o ex-beatle John Lennon; e Sid Vicious, do Sex Pistols, entre muitos outros. Mas, à medida em que se prolongou a história do rock, foram se multiplicando suas formas e orientações, constantemente mediante artifícios comerciais: a recuperação de antigas essências, a reelaboração de velhos sons e a ampliação dos âmbitos de ação das bandas.

Se o rock se definia, em especial nos Estados Unidos, como a música das festas, do divertimento de uma geração ou das reuniões sociais da juventude, esta concepção variou de forma radical nos decênios seguintes, quando o gênero alcançou territórios como o do compromisso político, como ocorreu no country, nopunk rock, em certas derivações do folk rock, no rock urbano, no rap e no heavy metal. Outras correntes se dedicaram ao experimentalismo plástico, como é freqüente no glam rock, no rock sinfônico, na música eletrônica, no pop neo-romântico, na música de discoteca ou na new age. Outras passaram a explorar a alta tecnologia, como sucede nas correntes mais radicais do tecno pop, no rock progressivo, o denominado rock artístico. Existem ainda o jazz rock de fusão, as diversas fórmulas sustentadas na música de sintetizadores e o rock de consumo, reforçado pela estética do videoclipe e uma tendência ainda tímida, mas na qual começaram a desenvolver diversas idéias artistas como John Cale, do Velvet Underground, David Bowie e Peter Gabriel, em direção à interatividade.

5 ROCK BRASILEIRO

O Brasil tem uma rica tradição no rock, que remonta ao final da década de 1950, quando esse gênero musical era identificado com a rebeldia sem causa da juventude transviada, que, como dizia a velha canção imortalizada na voz de Raul Seixas, entrava “na rua Augusta a 120 por hora”. Pontificavam nessa geração Roni Cord, Sérgio Murilo, Tony Campelo e, principalmente, Cely Campelo, cuja imagem ficou gravada na memória de várias gerações com canções como Broto legal e, acima de tudo, Estúpido cupido.

Posteriormente veio a Jovem Guarda, que, em seus primórdios, no início da década de 1960, traduziu para o Brasil o espírito iê-iê-iê dos Beatles, na qual reinavam absolutos os parceiros Roberto e Erasmo Carlos, que, com canções como Calhambeque e Splish splash, dominaram a cena pop durante mais de uma década. Pertenciam a essa geração Wanderléa, Trio Ternura, Jerry Adriani e muitos outros. Como aconteceu com as gerações que a antecederam e a sucederam, a Jovem Guarda desembocou também no rico mar da MPB.

Vieram depois os Mutantes de Arnaldo Baptista e Rita Lee, que encarnavam o espírito hippie do flower power. Na década de 1970, o rock progressivo deu origem a grandes bandas, que, apesar da incontestável qualidade do trabalho, não conseguiram chegar ao grande público. Esse foi o caso de grupos como O Terço, A Bolha e Vímana (do qual faziam parte Lobão, Ritchie e Lulu Santos, que mais tarde iriam se lançar em destacadas carreiras solo).

Veio a década de 1980 e, com ela, a explosão do rock nacional. O primeiro grande estouro foi a Blitz, da qual faziam parte Evandro Mesquita e Fernanda Abreu e que ganhou o Brasil com canções leves e dançantes como Você não soube me amar e Quero passar um weekend com você. Mais do que nunca, o Rio de Janeiro ditava a moda para o país, atraindo para a cidade uma série de bandas, todas querendo tocar suas fitas demo na hoje extinta Rádio Fluminense FM (auto-intitulada “A maldita”) e se apresentar no Circo Voador ou em eventos como o Rock in Rio, organizado pela primeira vez em janeiro de 1985 pela agência de propaganda Artplan.

O Barão Vermelho cantava Pro dia nascer feliz e o Kid Abelha e os Abóboras Selvagens, Fixação. Vieram de Brasília o dançante Paralamas do Sucesso (Vital e sua moto) e o vigoroso Legião Urbana (Será). Em São Paulo, o movimento punk produzia bandas como Plebe Rude e Ratos do Porão, mas foi da despretensiosa new wave que veio a banda mais identificada com a estética paulista: os Titãs.

O RPM de Paulo Ricardo lançou Rádio pirata e vendeu mais de 1 milhão de discos, mas a banda foi consumida pela fogueira das vaidades, sendo desfeita por causa do desentendimento entre seus integrantes. Também foi um fenômeno passageiro o irreverente Camisa de Vênus, liderado pelo cantor e compositor baiano Marcelo Nova, que foi um dos últimos parceiros de Raul Seixas.

Cazuza se desligou do Barão Vermelho e iniciou uma brilhante carreira solo, interrompida precocemente pela Aids em 1990, quando ele se aproximava da MPB (chegou a gravar o mangueirense Cartola). Essa geração chegou à década de 1990 demonstrando um certo cansaço e foi perdendo espaço na mídia. Os Paralamas do Sucesso, apesar de uma sólida carreira no mundo hispano, fizeram uma parada estratégica. O Barão Vermelho interrompeu o trabalho de composição e fez o disco Álbum, no qual visitou velhos sucessos de Rita Lee, Luís Melodia e Ângela Ro Ro, entre outros grandes nomes de um passado recente da MPB. A Aids também levou o cantor e compositor Renato Russo, provocando o fim do Legião Urbana depois do grande sucesso de Via Láctea (“Quando tudo está perdido/ sempre existe um caminho”).

Até os Titãs, cujas guitarras se tornaram cada vez mais pesadas desde Cabeça dinossauro, se renderam à nova realidade e, em meados da década de 1990, lançaram Unplugged, baseado no show que fizeram ao vivo no Teatro Carlos Gomes, no Rio de Janeiro. Mais uma vez, a força de gravidade da MPB conseguiu atrair para dentro do mesmo buraco negro os principais talentos da música brasileira. Assim como fizera com a bossa nova, a tropicália e até mesmo com os questionáveis sertanejos.


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