Quando chega a hora H, nem sempre dá tempo de alcançar a maternidade - especialmente para quem tem que enfrentar o trânsito da cidade grande. No último mês de abril, por exemplo, foram realizados, num único dia, dois partos nas ruas de São Paulo. Em todo o ano passado, a Polícia Militar registrou 177 nascimentos a caminho do hospital no Estado. É por isso que todo policial recebe, durante o curso de formação, noções de como agir no caso de um parto de emergência.
"São instruções simples, que muita gente pode seguir", afirma o obstetra Hugo Sabatino, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), também instrutor de um curso semelhante para o Corpo de Bombeiros da sua cidade. "Quando o parto está se realizando dentro da normalidade, o bebê nasce naturalmente, sem necessidade da presença de um médico. Assim, até um leigo armado de noções básicas pode ajudar", diz Hugo. Fundamental é manter a calma e ficar de olho na mãe para ter certeza de que tudo vai bem.
Uma das complicações mais comuns ocorre quando a criança está sentada no útero, com os pés - e não a cabeça - próximos do canal uterino. Nesse caso, a maioria dos médicos recorre a uma cesariana. Mas essa situação só costuma acontecer quatro vezes em cada 100 nascimentos e pode ser resolvida com uma manobra especial, destacada na página ao lado.
Chegada inesperada
Antes de mais nada, lave bem as mãos e coloque a mãe deitada confortavelmente de costas - no carro, o lugar ideal é o banco traseiro. Providencie (ou peça para alguém providenciar) um barbante ou fio dental, mais uma tesoura - ou estilete - esterilizada com álcool, que serão utilizados para amarrar e cortar o cordão umbilical. Para ter certeza de que não é alarme falso, acompanhe a freqüência das contrações uterinas. Um sinal de que o parto está perto é quando a bolsa se rompe e as contrações acontecem em intervalos de dois ou três minutos e duram entre 40 a 90 segundos. Quando der para visualizar a cabeça do feto na vulva entreaberta, o nascimento é uma questão de minutos. Nesse caso, tenha uma toalha em mãos ou uma camiseta limpa para pegar o bebê. Peça à parturiente para fazer força, a fim de expulsar o bebê, somente durante a contração. Na medida em que ele vai se deslocando pelo canal vaginal, sua cabeça abre caminho para que o resto do corpo deixe o útero sem problemas.
Posição perigosa
A maioria das complicações acontece quando o bebê está sentado em posição invertida, querendo deixar a barriga da mãe pelas perninhas, em vez de pela cabeça. O risco é não haver dilatação suficiente para a cabeça passar pela bacia. É por isso que, nesse caso, muitos médicos optam por uma cesariana. Se você não tem mesmo como chegar ao hospital, pode tentar ajudar com a chamada manobra de Thissen. No momento em que o bebê está sendo expulso, comprima a vulva da parturiente impedindo o nascimento da criança por três ou quatro contrações. Isso fará com que a expulsão ocorra em seguida, de uma só vez. Essa manobra reduzirá o risco de a cabeça ficar presa.
1 - Quando o topo da cabeça aparecer fora da vagina aguarde até ela virar para um dos lados; então, ampare-a com as mãos em concha e os dedos ao redor do pescoço.
2 - Com a ponta dos dedos verifique se o cordão está enrolado no pescoço. Se estiver, use o dedo para desenrolá-lo.
3 - Depois que a cabeça sair, você deve ajudar o desprendimento de um dos ombros puxando suavemente a cabeça para baixo e, em seguida, para cima. Com essa manobra você vai liberar o outro ombro também. O resto do corpo sai naturalmente. Logo que o bebê nascer, nada de colocá-lo de cabeça para baixo e dar-lhe uma palmada no bumbum. Há muito tempo os médicos não fazem isso.
4 - Segure a criança com a barriga voltada para baixo e aperte suavemente o nariz e a boca para desobstruir as vias aéreas. Estimule-a esfregando as costas.
5 - Envolva o bebê com a toalha ou a camiseta para mantê-lo aquecido. Não estranhe se seu corpo estiver todo coberto por uma espécie de cera branca. É a vernix caseosa, uma fina camada de gordura adquirida durante a gestação, que protege a pele do recém-nascido. Se perceber que o bebê está tendo dificuldade para respirar, aplique nele a respiração boca-a-boca.
6 - Coloque a criança de bruços junto ao corpo da mãe, de preferência com a cabeça mais baixa para liberar qualquer muco remanescente.
7 - Com o barbante ou fio dental amarre o cordão a cerca de 5 cm do bebê, interrompendo o fluxo de sangue que vem da placenta. Não é necessário cortar o cordão, a não ser que você esteja a horas de distância do hospital. Nesse caso, amarre outro ponto do cordão a 20 cm do umbigo e faça um corte com a tesoura ou estilete entre os dois nós. Em, no máximo, 30 minutos o útero expulsará a placenta e os restos da bolsa amniótica. Guarde-a para mostrar ao médico. Depois de finalizado o parto, siga para o hospital mesmo que a mãe e o recém-nascido estejam bem. Lá, eles vão passar por avaliação médica e receber os cuidados de uma equipe especializada.
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