O primeiro registro da festa apareceu em 1840, num pequeno jornal de Recife chamado O Carapuceiro, mas sua origem é certamente mais antiga. Alguns historiadores associam seu nascimento à expansão, no Nordeste, do chamado Ciclo do Gado - quando, a partir do século XVII, o animal ganhou grande importância nas fazendas da região. Apesar de o bumba-meu-boi ser uma manifestação típica do folclore brasileiro, ele lembra um pouco os autos medievais - encenações simples, com linguagem popular e, em geral, falando da luta do bem contra o mal. "O boi é um dos folguedos (festa popular) mais representativos da cultura brasileira, pois reúne traços de três grandes ramos da formação do nosso povo: europeu, indígena e afro-negro", afirma Américo Pellegrini Filho, folclorista da Universidade de São Paulo (USP). A apresentação, que ocorre principalmente em festas juninas, mostra as relações desiguais entre senhores de engenho, escravos e indígenas, numa sutil crítica social.
Existem enredos diferentes, mas numa das histórias mais populares um casal de escravos enfrenta a fúria de um senhor de engenho após matar um boi da fazenda.
Os dois, então, tentam de tudo para ressuscitar o bicho. As pessoas que assistem e dançam durante a exibição do grupo folclórico, que pode durar horas, são chamadas de brincantes e também dão um tom religioso à festa, pois agradecem graças alcançadas e fazem promessas ao boi. O curioso é que a palavra bumba exprime o suposto som de uma pancada do chifre do boi. Assim, bumba-meu-boi significaria algo como "Chifra, meu boi!"
Elenco à fantasia
O boi
Figura mitológica nas mais diversas culturas, o boi era visto por escravos negros e indígenas como companheiro de trabalho, símbolo de força e resistência. É por isso que toda a encenação gira em torno dele. A pessoa que veste a fantasia do animal é chamada de miolo e seus trajes variam bastante de uma festa para outra. Alguns abusam de paetês, miçangas e lantejoulas. Outros preferem bordados com menos brilho e mais cores.
Vaqueiro
Ao lado de caboclos, índios e seres fantásticos como o caipora (figura da mitologia tupi), o vaqueiro é um dos personagens coadjuvantes do bumba-meu-boi, mas consegue impressionar pelo figurino, principalmente o chapéu, sempre enfeitado com longas fitas. No enredo, ele é quem avisa o dono da fazenda da morte do precioso boi.
Dono da fazenda
Também chamado de amo ou patrão, é o senhor de engenho que, proprietário do boi morto, jura vingança contra o casal Catirina e Nego Chico e exige que o animal seja ressuscitado. Em geral, a pessoa que faz esse papel também é responsável pela organização do grupo folclórico. Na foto ao lado, o dono da fazenda é interpretado por Humberto de Maracanã, famoso cantador de boi do Maranhão.
Os músicos
O auto do bumba-meu-boi sempre é acompanhado por uma banda musical. Vários ritmos e instrumentos são utilizados: só no Maranhão há mais de cem grupos folclóricos. Em alguns estilos (ou sotaques, como dizem os maranhenses), dá para ouvir até banjos e saxofones. Os instrumentos mais comuns, porém, são os de percussão: tambores, pandeirões, matracas (dois pedaços de madeira batidos um contra o outro), maracás (uma espécie de chocalho) e tambor-onça (tipo de cuíca rústica, de som gravíssimo).
Nego Chico e Catirina
Depois do boi, são os personagens principais do auto. Representam um casal de escravos, ou de trabalhadores rurais (dependendo do tipo de enredo escolhido). Grávida, Catirina sente uma grande vontade de comer a língua do boi mais precioso da fazenda em que trabalha. Com medo que seu filho nasça com a cara da língua do animal se o desejo não for atendido, Nego Chico (ou pai Francisco) mata o bicho para satisfazer a mulher. A personagem dela costuma ser interpretada por um homem vestido de mulher.
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