A palavra, de origem islandesa, significa "fonte jorrante". Há registros de que ela teria sido usada pela primeira vez com o sentido atual em 1294, para descrever um estranho buraco que cuspia fortes jatos de água quente e vapor de dentro da terra, no oeste da Islândia. Desde então, o termo tornou-se universal, significando esse curioso fenômeno que só costuma ocorrer em áreas de erupção vulcânica relativamente recente. "Isso explica por que não existem gêiseres no Brasil. Aqui, os últimos vulcões se extinguiram no período mesozóico, entre 245 e 66 milhões de anos atrás", afirma a geóloga Annkarin Aurélia Kimmelmann e Silva, da Universidade de São Paulo (USP). Regiões vulcânicas têm o primeiro ingrediente necessário para o fenômeno: camadas de magma incandescente. Situadas a poucos quilômetros da superfície, elas funcionam como uma chama de fogão, aquecendo a água da chuva ou de neve derretida que penetra no subsolo.
Em reservatórios nas rochas impermeáveis, o líquido atinge temperaturas superiores a 200ºC. À medida que esquenta, ele ganha pressão, aumenta de volume e empurra a coluna d’água para cima. É o mesmo processo que ocorre nas estâncias termais (Mundo Estranho de julho), mas com uma diferença importante: nos gêiseres, as rachaduras que levam a água à superfície são muito mais estreitas. "Por isso, quando a pressão é forte o suficiente para expulsar a mistura de líquido e vapor dos reservatórios, o jato d’água sai de uma vez só, na forma de uma erupção", diz o hidrologista Alan Glennon, da Universidade de Western Kentucky, nos Estados Unidos. Horas depois de se esvaziarem com esses jatos escaldantes, os depósitos subterrâneos voltam a se encher de água e o show se repete. Em alguns casos, com pontualidade britânica. O famoso Old Faithful, no Parque Yellowstone, Estados Unidos, lança jatos de até 50 metros a cada 80 minutos.
Como algumas erupções chegam a causar pequenos terremotos, as rochas em áreas de gêiseres precisam ser ricas em sílica, mineral resistente às chacoalhadas do terreno. Poucos lugares no mundo reúnem todas essas características. Existem, em todo o planeta, menos de 1 000 gêiseres, a maioria concentrada nos Estados Unidos, Rússia e Chile. Além de raros, eles também são frágeis. Fenômenos geológicos corriqueiros, como tremores de baixa intensidade, podem pôr fim aos jatos d’água. Foi o que aconteceu com a lendária fonte quente de Waimangu, na Nova Zelândia. Nascido de uma erupção vulcânica em 1888, esse gêiser chegou a disparar jorros de 480 metros. Para ter uma idéia, é uma altura superior à das Torres Petronas, na Malásia, os prédios mais altos do mundo, com 452 metros. Mas, em 1904, um deslizamento de terra alterou o fluxo da água subterrânea e acabou com o espetáculo.
Pode vir quente...
1. A água que vem das chuvas (ou da neve derretida) se infiltra na terra e se deposita nas fraturas das rochas. A 1 500ºC de temperatura, o magma de regiões vulcânicas recentes esquenta a água dos depósitos subterrâneos até ela chegar a 200ºC
2. Superaquecido, parte do líquido dos reservatórios começa a se transformar em vapor. No estado gasoso, a água ocupa um volume até 1 500 vezes maior - por isso, tende a explodir para fora dos reservatórios subterrâneos
3. As fendas estreitas fazem com que o sistema funcione como uma panela de pressão. A mistura de vapor e líquido só consegue passar pela pequena abertura quando estiver superpressurizada e extremamente quente, pronta para expulsar a coluna d’água para cima
4. A erupção do gêiser ocorre quando a água escapa de uma só vez dos reservatórios. Nessa explosão de líquido e vapor, os jorros podem ultrapassar os 100 metros de altura. O espetáculo dura alguns minutos. Depois, o sistema subterrâneo volta a encher para um novo disparo
Água quente
Com o calor do magma vulcânico, as moléculas se agitam intensamente: colidem entre si, ganham mais volume e tendem a virar vapor
Água fria
As moléculas de hidrogênio e oxigênio (H2O) que formam o líquido ficam próximas umas das outras e ocupam um espaço definido
Um raro espetáculo
A região campeã é Yellowstone, parque americano, com 400. A península de Kamchatka, na Rússia, tem quase 200. O vale de El Tatio, no Chile, 50. A ilha Umnak (Alasca), a ilha Norte da Nova Zelândia e a região de Hveavellir, na Islândia, têm cerca de 15 cada uma
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