Em algumas redes sociais, as chamadas federadas, você é dono dos seus próprios dados. As informações de cada internauta ficam armazenadas no próprio computador, e seguem o modelo de funcionamento dos torrents, arquivos que, se baixados, permitem a troca de dados entre dois terminais. Por exemplo, arquivos de música.
Já existem alternativas bem parecidas aos serviços atualmente populares. "A Diáspora poderia substituir o Facebook; o Jitsi para o Skype; o Pump.io para o Twitter; o Zimbra para o Gmail; e ownCloud para o Dropbox", diz Anahuac de Paula Gil, ativista de tecnologias livres e diretor das empresas Software Público Com Br e KyaHosting.
Gil afirma que as redes sociais federadas são a "única solução realmente eficaz ao monitoramento de dados", devido à dificuldade de rastrear milhões de computadores espalhados pelo planeta.
No entanto, para que ocorresse uma migração real para esses serviços, "todos teriam que estar imbuídos de civilidade para lutar pelo direito da privacidade", diz.
Já a pesquisadora em redes sociais Pollyana Ferrari, da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo, afirma que, apesar do modelo de gestão de dados pessoais ser diferente, "infelizmente" não existe sigilo absoluto na comunicação na internet.
"Nada garante que não estejamos sendo vigiados. Cada pessoa terá que se autocensurar, ou seja, não fale em um chat o que você não falaria em um bar ou restaurante", afirma Pollyana.
Confira a entrevista na íntegra de Gil à Folha.
Folha - As redes federadas são uma alternativa ao monitoramento de dados?
Anahuac de Paula Gil - As redes sociais federadas são a única solução realmente eficaz contra o monitoramento de dados. Isso porque a federação dos servidores, seus usuários e dados torna impraticável o monitoramento. Assim como não se consegue monitorar todas as conexões torrent do planeta, nas redes federadas seria necessário ter acesso a milhões de servidores diferentes para ser possível fazer algum monitoramento eficiente.
Considere que qualquer empresa, grupo de usuários, provedor, órgão governamental pode ter seu servidor próprio e perceberá o quão ineficiente seria tentar. As ferramentas e redes sociais devassas, como Facebook, Google +, Google, Gmail, Skype e Windows, mantêm bases centralizadas de dados, assim fica muito mais fácil de fazer as análises desejadas e, claro, as indesejadas também.
Quais redes sociais podem ser adotadas como substitutas para as atuais?
Há diversas delas mas as mais contundentes seriam o Diáspora para substituir o Facebook, Jitsi para Skype e Pump.io para Twitter, Zimbra para Gmail e ownCloud para Dropbox.
O que deveria ocorrer para haver uma migração em massa para esses sites?
Seria necessária a tomada de consciência da população usuária da internet, assim como o povo tem buscado o direito a democracia e liberdade no oriente médio. Neste caso seria a verdadeira primavera cibernética, pois todos teriam que estar imbuídos de civilidade para lutar pelo direito a privacidade, direitos humanos digitais, neutralidade da rede e democratização do conhecimento tecnológico. Apenas esses componentes juntos serão capazes de frear os interesses de mega empresas e governos com sangue imperialista.
Assim os softwares proprietários e as redes sociais devassas seriam abandonadas para sempre, e em seu lugar, as federadas, livres e seguras seriam utilizadas.
Infelizmente o processo é muito mais lento. Convencendo um por um, amigo a amigo e em especial os ativistas que tem suas contas encerradas nessas redes sociais devassas, vamos como canta o Lulu Santos: "com passos de formiga e sem vontade". As pessoas colocam sua comodidade acima de seus direitos individuais e assim colocam o coletivo em perigo.
O uso de argumentos como "eu não tenho nada a esconder" apenas permite que o monitoramento seja feito sem ônus, financeiro ou político.
É a mesma coisa de taxar todos os políticos de "ladrão" e se recusar a votar. Isso não fortalece a sociedade, nem a democracia, nem muda nada. Mudança pressupõe esforço, tenacidade e convicção de que se está fazendo a coisa certa.
O Prism foi um reflexo da falta de cuidado ao aceitar termos de serviço de sites?
Na verdade não. O Prism não é um programa de monitoramento das empresas, mas do governo norte-americano. O maior erro das empresas foi permitir o monitoramento dos dados de seus usuários sem informar nada a ninguém. As pessoas tem que ter o direito de escolher se querem ou não proteger sua privacidade, e se decidem não fazê-lo pagarão um preço. Mas o acordo com todas as empresas seria de que seus dados não estariam disponíveis para terceiros.
Teoricamente os dados seriam acessados exclusivamente pela própria empresa e com fins de traçar perfis de consumo e nada mais. Mas de falácias, palavras de duplo sentido e toda sorte de enganação o mercado está repleto. É uma prática comum em nosso capitalismo exploratório: deturpar o objetivo e fazê-lo lindo, agradável e "cool".
O mais correto aqui seria juntar a "fome" do governo pelos dados coletados por essas empresas, com a "vontade de comer" que essas empresas despertam em toda a população, fazendo com que os usuários forneçam todas suas informações gratuitamente, achando que estão na moda.
Você acredita que legislação brasileira protege os dados dos internautas?
A legislação brasileira não protege coisa alguma na internet. Infelizmente nosso parlamento é composto majoritariamente por pessoas idosas que sequer sabem o que é um e-mail. Trata-se de um verdadeiro parque dos dinossauros.
Mal assessorados e com todos seus esforços focados em manter seu cargo eletivo, nossas leis cibernéticas são velhas, ineficientes, inoperantes e impraticáveis. Isso é tanto verdade que a Anatel tomou para si o papel de regulador de algumas questões, passando por cima, inclusive do CGI.BR - Comitê Gestor da Internet no Brasil. Infelizmente a Anatel atende os interesses das empresas de comunicação e não os interesses do povo, então é evidente a ingerência mercantilista sobre os dados da internet no Brasil é feita, em detrimento dos direitos humanos na rede.
Há alguns anos o CGI.BR em conjunto com a comunidade de TI do país elaborou a lei mais moderna do mundo no que tange aos direitos do internauta, chama-se Marco Civil da Internet. Mas infelizmente ela está para no legislativo por contrariar os interesses de monetização das Teles, vide o parágrafo que trada da neutralidade da rede, que bate de frente com o defendido pelo Sinditelebrasil, que almeja comercializar o acesso a internet nos mesmos moldes das TV's por assinatura, ou seja, vendendo planos por tipo de conteúdo acessado e não por largura de banda.
Você acredita que o formato de rede social atual seja apenas uma plataforma de publicidade que estimula a comunicação entre internautas?
O estímulo á comunicação é o catalítico necessário para cegar os usuários. Os humanos são serem ridiculamente sociáveis, com um grau de carência muito além do aceitável. O problema não está na rede social, muito pelo contrário. O problema está na ferramenta escolhida. Porque privilegiar uma ferramenta proprietária, que vai monitorar seus dados e que pertence a uma empresa estrangeira? E a resposta vem da propaganda.
Nos convencem diariamente de que estar nelas é jovial, moderno e até mesmo revolucionário, quando na verdade tratam-se de maquinas de fazer dinheiro com as informações que você dá de graça. E de quebra ajudamos na evasão de divisas e promovemos o monitoramento por governos com tendências imperialistas.
Primeiro o rei estava vestido, agora ele está nu. Vamos fingir que não estamos vendo? Vamos fingir que não é conosco?
Esse é um excelente momento para abandonar as redes sociais devassas e os softwares proprietários para deixar claro, que como bons Internautas, não aceitamos os desmandos e interesses políticos e econômicos de ninguém.
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