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Fomo, o medo de ficar por fora

 Não é doença. Nem transtorno. É um fenômeno. Uma matéria publicada no jornal New York Times apresentou o termo ao grande público: fomo. É sigla de “fear of missing out”, ou medo de ficar por fora. O exemplo clássico é o sujeito que checa mensagens no celular no cinema. Ele não pode, não consegue ou não quer ficar desconectado pela eternidade da duração do filme.

Para a psicóloga Rosa Maria Farah, coordenadora do Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática da PUC, fomo é apenas o novo nome para algo que existe já há tempos. Se é ou não um problema para o usuário, vai depender de com que frequência ele se conecta, se isso tem provocado prejuízos físicos, sociais, emocionais ou profissionais e também a percepção de exagero das pessoas que o cercam.

Ela explica ainda que há controvérsia mesmo sobre o uso abusivo da internet. Nem todos os profissionais classificam o comportamento como vício. “Um dependente químico precisa se afastar das drogas, mas quem abusa do tempo na internet não pode eliminar completamente o computador”, compara. Simplesmente porque estamos em 2011. Assim como uma pessoa viciada em sexo não deve se tornar celibatária. “Nessas situações, o objetivo tem de ser o equilíbrio.” A dependência de internet é comportamental, como a de sexo, de jogo e a de compras. E como seria a de se manter sempre atualizado.

“Mas será que esse é um comportamento suficientemente disfuncional?”, questiona-se o psiquiatra Aderbal Vieira, do Ambulatório de Dependência de Comportamento do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Unifesp. “E, mesmo que o fenômeno estiver causando problemas ao usuário, talvez ele consiga moderar esse comportamento sozinho”, relativiza.

Caso o autocontrole não funcione, o ideal é procurar algum tipo de terapia. O profissional é quem pode indicar um eventual tratamento psiquiátrico complementar, com medicação, se for o caso. A dependência de internet é um fenômeno historicamente novo e não ainda não há pesquisas o suficiente para aproximar os especialistas de certezas.

Até o fechamento desta edição, não havia o verbete “fomo” na Wikipédia. Nem em inglês. Mas o termo já aparece, por exemplo, no site Urban Dictionary, que, desde 1999, define expressões cunhadas na vida contemporânea. Ele define “fomo” como o medo de perder – ou a perda propriamente dita – de algo interessante, importante ou mesmo divertido, como uma simples piada.

Há várias acepções afins. Assim, dá para dizer que um indivíduo é fomo por ainda não ter Gmail. Ou que foi um baita fomo você não ter sido chamado para uma festa. Ou ainda que, apesar de exausto, você tem de ir a um show, por uma questão de fomo. Como se vê, pode haver infinitas questões de fomo íntimo.

JUNTOS E SOZINHOS

Quando a socióloga norte-americana Sherry Turkle chegou ao Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos anos 1980, a discussão girava em torno de como programar computadores para que eles desocupassem o homem de atividades operacionais. O que não se imaginava era que, em poucas décadas, os computadores é que manteriam as pessoas muito ocupadas.

“Pensando bem, todos sofremos de fomo”, diz a autora do livro Alone Together (Sozinhos Juntos, inédito no Brasil). “E é preciso atentar para o que a pessoa representa online.” Na rede, estão versões idealizadas do que as pessoas estão fazendo de fato.

Um dos usos contemporâneos mais importantes da internet é a autopropaganda. E esse é um processo que se retroalimenta. “É claro que as pessoas vão publicar que estão esquiando”, ilustra a professora. E, quanto mais você sentir necessidade de provar que está “vivendo a vida”, mais frustração deve causar a seus seguidores. Eles, então, farão o mesmo.

Outra ponto é que a internet se relaciona diretamente com a vulnerabilidade de seus usuários. “Estamos sós, mas com medo de intimidade”, afirma. Há a ilusão de ter companhia sem precisar corresponder e ela com amizade. “Simplificando, é mais fácil teclar do que conversar. E isso nos mantêm ocupados a ponto de procurarmos relacionamentos online que representem menores riscos emocionais.” Pela praticidade. A solidão e o desejo de estabelecer contato são verdadeiros. A companhia é que pode não ser.

“NÃO ATRAPALHA”

O primeiro contato com a escritora e blogueira Clara Averbuck foi por e-mail – a resposta demorou menos de 30 segundos. A prontidão é emblemática. Ela está sempre online. E não se incomoda com isso. “Se eu não twittasse um pensamento na hora, provavelmente o anotaria e faria exatamente a mesma coisa mais tarde”, diz. Clara reconhece que, às vezes, a conectividade a atrapalha no contato real, mas no momento, o iPhone é aliado no namoro. “O broto mora em outra cidade.”

Para o analista de sistemas Richard Aguiar, de 34 anos, fomo é mais ou menos o espírito da internet. “O que mais me atrai é a facilidade de comunicação e a velocidade das informações na rede.” Ele usa seu Nokia N900 o dia todo, desde a hora de acordar, já que o celular é o despertador. E não larga mais: checa e-mails, twitta, entra em redes sociais, joga, ouve música, tira fotos e, claro, faz ligações. “Olha, se eu ficar um dia sem internet, fico muito estressado”, diz. “Eu me sinto mais seguro por saber que posso me comunicar e me manter informado o tempo todo.”

A designer e fotógrafa Paula Collela, de 29 anos, também se mantém conectada o dia inteiro. Ela namora há dois anos e diz que a fidelidade ao iPhone não atrapalha. O namorado é igual.

Mas não foi sempre assim. “Depois do trabalho, eu pensava: vou viver a vida.” Até que aderiu ao Twitter, em 2008. E foi pelo Twitter que conheceu o namorado. Paula só se preocupa com o fato de não ter mais tempo para ler. “Estou tentando retomar a leitura, mas, às vezes, até me esqueço de que carrego um livro comigo.” O iPhone, ela não esquece.

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