Bartolomeu Antonio Lima da Silva, de 47 anos, é o que se pode chamar de craque do mercado financeiro, daqueles que sabem tudo de economia e investimentos – assuntos que mexem com o bolso de todo mundo, mas que pouca gente domina. Aos 19, Bartô, como é mais conhecido, virou operador da Bolsa de Valores de São Paulo – e nunca mais saiu de lá. Desde 2006, porém, ele é monitor do Espaço Bovespa, o museu da Bolsa.
É dele e de outros cinco ex-operadores a missão de explicar a estudantes e turistas o instável mercado financeiro – e, ultimamente, os porquês da atual crise econômica – em seis visitas diárias monitoradas, todas gratuitas, no prédio da Bolsa no calçadão da Rua 15 de Novembro, um dos símbolos do antigo centro financeiro paulistano.
“Nos últimos tempos, tem sempre alguém perguntando sobre a crise, a possível recessão da economia, essas coisas. Digo: ‘Calma, o mundo não vai acabar’. Há oportunidade na crise. É só reconhecê-la”, ensina Bartô.
Idade da pedra. Desde o processo de popularização da Bolsa, iniciado na década passada, é crescente o número de visitantes no espaço criado para apresentar o mercado financeiro ao grande público – a procura aumenta ainda mais em tempos de crise, como agora, segundo os monitores. Atualmente, cerca de 300 pessoas passam diariamente pelo Espaço Bovespa.
No local, é possível simular compras e vendas de ações por meio de terminais de consulta, visitar uma exposição permanente com a história da Bolsa e assistir a um vídeo em 3D com detalhes do funcionamento do mercado. Mas o ponto alto do passeio é mesmo a história contada por quem ajudou a construí-la. “A gente trabalhou na ‘idade da pedra’, quando a Bolsa era no Pátio do Colégio. A gente espetava a oferta de compra na pedra (um tipo de lousa)”, relembra o também ex-operador e hoje monitor Cláudio Marchiori, de 63 anos.
No lugar da lendária pedra, hoje há um grande painel eletrônico com as cotações das ações das empresas. É por ele que começa a visita. Os monitores explicam as siglas do mercado financeiro, em linguagem acessível, e indicam as ações que estão em alta, em queda, estáveis – resumindo: traduzem o painel para leigos. “Parece complicado mesmo com a explicação. Mas é superimportante saber como é a Bolsa para entender a economia”, diz o estudante Luiz Carlos Machado, de 17 anos.
Os monitores têm como regra não dar conselhos ao público sobre onde ou como é melhor investir, papel desempenhado por alguns corretores de plantão. Falam aos grupos somente sobre a dinâmica e apontam os conceitos do mercado de capitais. Atualmente, cerca de 600 mil pessoas físicas investem na Bolsa – em 2002, o número girava em torno de 85 mil.
“É um trabalho gratificante. Adoro conversar sobre a Bolsa, principalmente com quem está começando a investir, a classe C. Digo sempre para não deixar de ler as notícias, para analisar melhor o mercado e ver o tamanho de uma crise. Só assim você pode tomar uma decisão”, diz Bartô. “Tem de entender que uma hora você perde e na outra, ganha.”
Durante a conversa com o público, os monitores não perdem a chance de lembrar a “adrenalina” dos tempos do pregão viva-voz, quando os operadores se acotovelavam no salão da Bolsa, aos gritos, para comprar e vender ações de investidores – desde 2005, toda a operação é eletrônica, sem o “charme” nem o corpo a corpo de antes.
“O pregão viva-voz continua sendo uma marca registrada da Bolsa. O pessoal ainda pergunta para a gente, as TVs ainda mostram as imagens. Deixou saudades”, diz Bartô. “Tínhamos contato direto com o dono das ações. Depois é que vieram as corretoras”, conta Cláudio Marchiori.
Aula de Geopolítica. Além de curiosos e investidores em potencial, a visita monitorada também atrai grupos de estudantes. A oportunidade de transmitir lições econômicas na prática faz o professor de Geografia Vilson Soares Ferreira, de 42 anos, percorrer todos os anos os 350 km que separam São Paulo de Ribeirão Preto, onde mora, com seus alunos do terceiro ano do ensino médio para visitar o espaço.
“Visitamos outros pontos turísticos da cidade, como o Mercado Municipal, mas a parada principal é aqui”, afirma o professor. “É uma aula de Geopolítica. É importante ter essa experiência, entender por que o dólar cai, o ouro sobe.”
Para quem quiser conferir de perto, o Espaço Bovespa fica na Rua 15 de Novembro, 275, centro. Abre de segunda a sábado, das 10h às 17h – as visitas monitoradas saem a cada hora. Grupos precisam agendar a visitação pelo site: www.bmfbovespa.com.br. Grátis. Mais informações pelo tel.: (11) 3272-7373.
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