Campanha eleitoral hoje, escândalo de corrupção amanhã. Distantes dos grandes centros — e também da fiscalização da imprensa independente e dos órgãos de controle –, milhares de candidatos Brasil afora fecharam nos últimos meses e semanas os acordos políticos, financeiros e logísticos que poderão levá-los à vitória. Mas, uma vez eleitos, chegará a fatura. Ela será paga, como sempre, pelos cidadãos. Muitos políticos estão, desde já, com o rabo preso. A duas semanas das eleições, VEJA ouviu especialistas para entender as engrenagens desse mecanismo que movimenta a robusta máquina da corrupção no país. Os três principais caminhos que levam aos escândalos constam do quadro abaixo. Em comum, há sempre alguém que oferece vantagens ao candidato para no futuro obter benefícios, muitas vezes ilegais, dos eleitos.
A teoria encontra amplo respaldo na realidade. Tome-se o exemplo de São Lourenço da Serra, município no interior de São Paulo com 11.000 eleitores e orçamento anual de 28 milhões de reais. Nas eleições de quatro anos atrás, o empresário Antonio Carlos Soares, dono de uma empresa de equipamentos de som, fez o serviço de áudio da campanha de Lener do Nascimento Ribeiro (DEM). Coisas simples, como alto-falantes em carros de som e microfones em comícios. O pagamento veio depois da vitória do candidato. Em janeiro de 2009, Soares ganhou um cargo na prefeitura, com salário de 1 200 reais. Em depoimento à polícia, o empresário confirmou que obteve o cargo em troca da ajuda na campanha. A prefeitura continuou contratando seus serviços para eventos. Soares recebeu cerca de 13 000 reais, emitindo notas fiscais fajutas. O falatório na cidade levou o Ministério Público a fazer investigações. Soares foi exonerado e Lener renunciou à prefeitura em 2010. Como esses, há exemplos por todo o país — ainda que, infelizmente, quase nunca com o desfecho positivo da associação entre Soares e Lener. De um total nacional de mais de 5 500 prefeitos da atual legislatura, cerca de 200 foram cassados por corrupção.
Na prática, reproduz-se em nível municipal, e com um grau de refinamento muito menor, o que ocorre nas eleições para os cargos mais altos do país. As roubalheiras menores são parte da cadeia alimentar da alta política. Não existe saída fácil para quebrar esse círculo vicioso. “Corrupção não se extingue, controla-se”, afirma Roberto Livianu, promotor de Justiça e coordenador da campanha “Não aceito a corrupção”. Uma das saídas é reduzir de maneira drástica o número de cargos comissionados. Sem indicações políticas, fica mais difícil aparelhar a máquina e fraudar contratos. Outro avanço seria acabar com as “doações ocultas”, aquelas em que empresários doam dinheiro ao partido e não a um candidato determinado. Tudo fachada. O partido repassa a doação ao político previamente escolhido pelo empresário com interesses comerciais na futura administração. Em muitos casos, para fechar todas as probabilidades, são feitas doações a todos os candidatos viáveis. Fique de olho. Isso pode não extinguir a corrupção, como alerta o promotor Livianu, mas ajuda a controlá-la.
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