O mercado financeiro dos Estados Unidos (EUA) tem se tornado o alvo de muitos investidores mundo afora. A força da economia americana e o volume de empresas listadas por lá é de longe o principal atrativo. Os investidores de países emergentes, como o Brasil, até enfrentam alguma dificuldade, mas os empecilhos estão diminuindo.
Para se ter ideia da pujança do mercado de capitais norte-americano, a Bolsa de Nova York (NYSE) possui quase 3 mil empresas listadas, com capitalização total de US$ 27 trilhões, e a Nasdaq, pesada em tecnologia, reúne cerca de 3,5 mil companhias com capitalização em torno de US$ 24 trilhões. Para efeitos de comparação, a Bolsa brasileira tem 400 empresas listadas.
Já o fluxo médio de negociações da NYSE gira em torno de US$ 1,2 trilhão diariamente, e a Nasdaq alcança US$ 1,8 trilhão. Já o Ibovespa – principal índice da Bolsa brasileira –, fechou a sessão do dia 1º de novembro com alta de 1,69%, aos 115.052,96 pontos. O volume financeiro alcançou R$ 24,6 bilhões.
Para compreender melhor acerca do perfil do brasileiro que começa a aportar recursos em solo americano, o E-Investidor conversou com Bruno Corano, CEO da Corano Capital, que possui R$ 2 bilhões sob gestão em hedge-funds, ações e private equity. O brasileiro, radicado em Nova York, explica que o que mais chama a atenção, atualmente, é que investidores “não milionários” estão acessando essa fatia do mercado.
E-Investidor – Por que o Sr. decidiu empreender nos EUA?
Bruno Corano – Foi um processo natural, pois minha mãe é norte-americana e sempre visitei muito este país. Comecei a trabalhar cedo, com um grande economista e investidor, o que me levou a estudar economia nos Estados Unidos. Seguir no mercado financeiro foi algo natural e concentrar minhas iniciativas aqui foi automático, já que os norte-americanos detêm o controle absoluto do mercado financeiro, enquanto o Brasil não representa nem 1% desse mercado.
Outro ponto importante foi a facilidade para empreender nos EUA, o que ajudou nesse processo. Os EUA são uma pista de cinco faixas plana e reta para se construir negócios. Boa mão de obra, alta demanda, moeda forte, estabilidade política, econômica e jurídica são apenas alguns pontos.
Qual é o perfil do investidor brasileiro que busca o mercado dos EUA?
Até poucos anos atrás, eram apenas as pessoas com altíssimo patrimônio e milionárias. Isso mudou de forma ainda muito incipiente, mas hoje vemos investidores com poder aquisitivo de R$ 300 mil, por exemplo, procurando desvendar e conhecer os produtos financeiros do mercado norte-americano. Logicamente, é possível explorar muito bem o mercado brasileiro, mas, comparando os dois mercados, a oferta, a liquidez e a diversificação nos EUA ainda são incomparáveis. Os brasileiros estão aos poucos descobrindo isso.
Quais razões os levam a buscar os EUA?
Primeiramente, a estabilidade da moeda; em seguida, a diversificação de produtos, a oferta e a liquidez. Algumas pessoas também buscam proteção contra diversos problemas, uma vez que estamos em outra jurisdição e o Brasil não possui tratado para qualquer tipo de bloqueio que alcance esses ativos.
Que tipo de retorno esse investidor busca (proporção frente ao Brasil)?
Na essência, vai em busca de maiores ganhos e retornos mais altos, apostando na diferença cambial, já que se projeta sempre que o dólar vai estar valendo cada vez mais do que o real. Além dos ganhos financeiros, ainda há uma diferença cambial, uma curva e que não deve mudar nas próximas décadas.
Quais as facilidades de se investir nos EUA?
São muitas. Desde abrir uma conta em bancos ou em corretora e até as taxas que são menores do que no Brasil, assim como os custos para aquisição de produtos financeiros, habitualmente menores também. Além disso, existem as vantagens de liquidez e diversidade de produtos.
Quais as dificuldades de se investir nos EUA?
Não vale para todos, mas eu diria que, para alguns, a língua é um obstáculo. Para outros, é o medo de estar em outra jurisdição. Por último, a falta de conhecimento dos produtos financeiros, o que geralmente impacta o investidor brasileiro, não importa onde ele esteja investindo. Não é à toa que milhões de pessoas têm dinheiro na poupança.
Quais os principais produtos de interesse dos investidores brasileiros nos EUA?
Não existem dados muito precisos, entretanto observamos uma busca pelos bonds (títulos de renda fixas) de empresas privadas e ações. Acredito que não seja um produto em si [que o brasileiro busca], mas, devido à falta de conhecimento, acaba sendo de menor interesse os movimentos mais diversificados das carteiras de investimento em ações.
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