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Escolas de Samba


1 INTRODUÇÃO
Escolas de samba, grêmios recreativos formados originalmente nas comunidades negras do Rio de Janeiro no final da década de 1920. A primeira escola de que se tem notícia, a Deixa Falar, era na verdade um bloco carnavalesco do Estácio de Sá, que, por ter sido fundado pelos sambistas considerados professores do novo tipo de música, ganhou o título de escola de samba.
A Deixa Falar, cujas cores eram vermelha e branca em homenagem ao América Futebol Clube e ao bloco A União Faz a Força, desfilou todos os dias do Carnaval de 1929, saindo do Largo do Estácio em direção à Praça Onze, alegre reduto dessa festa popular no Rio de Janeiro da época. Nesse desfile, já se faziam ouvir as batidas do surdo e do tamborim — ambos instrumentos de criação de Mestre Bide —, bem como do ronco da cuíca — cuja invenção é atribuída a João da Mina. A Deixa Falar fundiu-se em 1933 com a União das Cores, tornando-se a partir de então o bloco União do Estácio de Sá.
2 O PATROCÍNIO
O primeiro desfile de escolas de samba foi patrocinado pelo jornal Mundo Sportivo, de propriedade de Mário Filho. Segundo depoimento do dublê de compositor e desenhista Antônio Nássara — na época paginador do jornal —, Mário Filho teve a idéia de patrocinar os desfiles para dispor de assunto sobre o qual falar, já que, na época, o mundo esportivo carioca estava restrito ao futebol e ao remo. Além disso, resolveu criar um regulamento, como convinha a qualquer concurso. O jornalista Carlos Pimentel, grande conhecedor do assunto, determinou o número de pontos para cada quesito e, em 1932, 19 escolas de samba desfilaram na “África em miniatura” — nome dado por Heitor dos Prazeres à Praça Onze —, diante de numeroso público e de uma comissão julgadora formada por Orestes Barbosa, Eugênia e Álvaro Moreira, Raimundo Magalhães Jr., José Lira e Fernando Costa.
A campeã do primeiro desfile foi a Estação Primeira de Mangueira, que levou para a praça os sambas Pudesse meu ideal, de Cartola e Carlos Cachaça, e Sorri, de Gradim — na época, cada escola podia apresentar até três sambas durante o desfile. Fez também muito sucesso o samba Dinheiro não há (ou Lá vem ela chorando), de Ernâni Alvarenga, cantado pela Vai Como Pode (futura Portela), segunda colocada no desfile ao lado da Para o Ano a Gente Sai Melhor. Outro samba que se destacou foi Mulher de malandro, de Heitor dos Prazeres, premiado pela Prefeitura do então Distrito Federal, Rio de Janeiro, com um conto de réis e, posteriormente, gravado por Francisco Alves.
3 A REPRESSÃO
Em 1934, com 28 associadas, foi criada a União das Escolas de Samba, que tinha como objetivo “entender-se diretamente com as autoridades federais e municipais”. Na prática, a UES filtrava a repressão policial então bastante comum ao samba, mas, por outro lado, compactuou com a absurda imposição do delegado de polícia Dulcídio Gonçalves, que condicionou a renovação da licença apenas às que antepusessem a seus nomes a expressão “Grêmio Recreativo”, além de obrigar a Vai Como Pode a trocar o nome para Portela.
Depois dessa concessão, a UES acreditou-se com o cacife necessário para reivindicar da prefeitura a oficialização do desfile das escolas de samba, o que garantiria a elas a mesma subvenção destinada às grandes sociedades, aos ranchos e aos blocos. O prefeito Pedro Ernesto achou justa a reclamação e alocou para elas uma verba de 40 contos de réis, dos quais dois contos e quinhentos seriam destinados aos prêmios dos vencedores e às despesas administrativas da UES.
4 A GRANDE CAMPEÃ
O primeiro Carnaval oficial, realizado em 1935, teve a Portela como campeã, com o enredo O samba conquistando o mundo, de Paulo da Portela. Começava ali a série de títulos que faria da escola a maior vencedora de carnavais do Rio de Janeiro no século XX — títulos, aliás, que na maioria das vezes, a começar por esse de estréia, iriam ser contestados por seus rivais, particularmente pelos integrantes da Mangueira. Foram nada menos do que 20 ao longo do século XX, oito dos quais antes da virada da década de 1940.
Nas décadas seguintes, a paixão pelo desfile arraigou-se na população, e as escolas deram início a um processo de crescimento acelerado. Assim, seus componentes, que antes eram cerca de 400 no máximo, na década de 1970 passaram a algo em torno dos 4 a 5 mil. Outro dado que revolucionou o Carnaval durante esse período foi a transferência do desfile da Praça Onze para várias avenidas do Centro do Rio de Janeiro, em torno das quais foram sendo levantadas arquibancadas cada vez maiores.
5 REVOLUÇÃO ESTÉTICA
Para Joãosinho Trinta, que, em 1974, iniciou sua vitoriosa trajetória pela Acadêmicos de Salgueiro com o enredo Rei de França na ilha da assombração, havia chegado a hora de levar o Carnaval para o alto e de criar fantasias suntuosas, que pudessem chamar a atenção das massas ali reunidas e, o mais importante, destacar-se na tela pequena da televisão, que começava a levar as imagens do evento para as casas de todo o mundo.
Essa nova estética custava caro e foi para financiá-la que os bicheiros (ver Jogo-do-bicho) foram aos poucos entrando nas escolas, tornando-se os seus grandes patronos. Primeiro foi Castor de Andrade, que estendeu seu poder de influência do Bangu para a Mocidade Independente de Padre Miguel, tirando-a do segundo grupo e transformando-a em uma das escolas de ponta da cidade, com cinco títulos conquistados. Depois veio Carlinhos Maracanã, que mudou de tal forma as diretrizes da Portela que, indignado, Candeia resolveu abandonar a escola em 1974, criando, em seguida, o Grêmio Recreativo de Arte Negra e Samba Quilombo.
Outro bicheiro que marcou época em uma escola de samba foi Aniz Abraão David, o Anísio, que contratou Joãosinho Trinta a peso de ouro para transformar a então modesta Beija-Flor de Nilópolis em uma das potências do Carnaval carioca. A tática também deu certo e a Beija-Flor ganhou vários carnavais.
6 O SAMBÓDROMO
Em 1984, durante o governo de Leonel Brizola no estado, uma das mais antigas reivindicações da comunidade do samba foi atendida: a criação de um espaço definitivo para o desfile. No entanto, a obra que uniu a ousadia de Darcy Ribeiro ao modernismo arquitetônico de Oscar Niemeyer, batizada de Sambódromo, recebeu inúmeras críticas, bem como a divisão do desfile em dois dias. Por outro lado, a criação da Praça da Apoteose serviu como pretexto para que a Mangueira, que participou da inauguração do Sambódromo com o enredo Yes, nós temos Braguinha, promovesse um dos desfiles mais contagiantes da história dos carnavais cariocas, refazendo o trajeto na passarela e trazendo atrás de si uma multidão ensandecida.
Junto com o Sambódromo, surgiu a Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), por meio da qual a administração do Carnaval carioca foi sendo paulatinamente privatizada. O resultado não poderia ter sido melhor para as escolas, que, dessa forma, conseguiram sobreviver até mesmo à prisão dos bicheiros no início da década de 1990. É verdade que o espetáculo que elas promovem em nada, ou quase nada, se assemelha à festa que animava a velha Praça Onze. Mas, como diria Paulinho da Viola, o samba não acabou — só se foi quando o dia clareou.

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