As novas lendas
O poeta bávaro Wolfram von Eschenbach, que viveu entre os séculos 12 e 13, foi responsável pela versão mais surpreendente do Santo Graal na Idade Média. Sua obra-prima, Parsifal, escrita entre 1210 e 1220, sugere que o Graal era muito anterior a Cristo. Em vez de prato, vaso ou cálice, ele é descrito como uma pedra luminosa, trazida à Terra por espíritos celestiais quando o mundo era jovem. O Graal-pedra teria sido guardado através dos séculos por uma irmandade de cavaleiros, os templeisen (pronuncia-se "templáisen"), no castelo de Munsalvaesche. Wolfram era um autor criativo e suas obras estão cheias de palavras inventadas e lugares imaginários - ninguém sabe o que podiam ser os templeisen ou que lugar era Munsalvaesche.
A história de Wolfram tem semelhanças curiosas com a lenda do Al-Hajarul Aswad - rocha negra guardada na Caaba, centro da Mesquita de Meca -, o objeto mais sagrado do islamismo. O poeta bávaro pode ter sofrido influência de autores muçulmanos, numa época em que os árabes dominavam boa parte da Europa. Segundo lendas antigas, o Al-Hajarul Aswad caiu dos céus nos tempos de Adão e tem o poder de purificar os fiéis de seus pecados. Outros acreditam que o Graal de Wolfram seja uma alusão ao "lápis elixir", ou pedra filosofal, substância mítica que os alquimistas medievais consideravam capaz de prolongar a vida e transformar qualquer metal em ouro.
Parsifal pode estar na origem de outra lenda que passou a circular no fim do século 13. Segundo ela, o Graal era uma esmeralda que havia adornado a coroa de Lúcifer, o anjo mais poderoso dos exércitos divinos. Essa lenda afirma que a coroa foi despedaçada pela espada do arcanjo Miguel quando Lúcifer ousou revoltar-se contra Deus. O anjo despencou para o fundo do Inferno e a esmeralda caiu na Terra como um meteorito. Mais tarde, ela seria encontrada por um sábio chamado Titurel e esculpida na forma de um vaso.
Livros como esse alcançaram uma popularidade tão grande que, de acordo com o medievalista francês Philippe Walter, deram origem a uma verdadeira "Era do Graal" na cultura da Idade Média. Logo o Santo Cálice ultrapassou os limites da ficção e entrou no reino da possibilidade histórica. Começaram a correr rumores de que ele se encontrava de fato em algum lugar da Europa (veja o mapa abaixo).
Para os interessados em rastrear o "verdadeiro Graal", o livro de Wolfram, com seus detalhes exóticos e alusões obscuras, foi um prato cheio. Parsifal cercou-se de polêmicas, nenhuma delas mais persistente do que a levantada pela palavra templeisen. No início da Idade Contemporânea, surgiu a tese de que a irmandade citada em Parsifal fosse uma referência à Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão - os templários. Para entender o fascínio que essa teoria exerceu (e ainda exerce) sobre leitores e escritores, é preciso dar uma olhada na controversa trajetória dos templários - um drama real, mas tão intenso e surpreendente que também poderia ter saído das páginas de um romancista.
O poeta bávaro Wolfram von Eschenbach, que viveu entre os séculos 12 e 13, foi responsável pela versão mais surpreendente do Santo Graal na Idade Média. Sua obra-prima, Parsifal, escrita entre 1210 e 1220, sugere que o Graal era muito anterior a Cristo. Em vez de prato, vaso ou cálice, ele é descrito como uma pedra luminosa, trazida à Terra por espíritos celestiais quando o mundo era jovem. O Graal-pedra teria sido guardado através dos séculos por uma irmandade de cavaleiros, os templeisen (pronuncia-se "templáisen"), no castelo de Munsalvaesche. Wolfram era um autor criativo e suas obras estão cheias de palavras inventadas e lugares imaginários - ninguém sabe o que podiam ser os templeisen ou que lugar era Munsalvaesche.
A história de Wolfram tem semelhanças curiosas com a lenda do Al-Hajarul Aswad - rocha negra guardada na Caaba, centro da Mesquita de Meca -, o objeto mais sagrado do islamismo. O poeta bávaro pode ter sofrido influência de autores muçulmanos, numa época em que os árabes dominavam boa parte da Europa. Segundo lendas antigas, o Al-Hajarul Aswad caiu dos céus nos tempos de Adão e tem o poder de purificar os fiéis de seus pecados. Outros acreditam que o Graal de Wolfram seja uma alusão ao "lápis elixir", ou pedra filosofal, substância mítica que os alquimistas medievais consideravam capaz de prolongar a vida e transformar qualquer metal em ouro.
Parsifal pode estar na origem de outra lenda que passou a circular no fim do século 13. Segundo ela, o Graal era uma esmeralda que havia adornado a coroa de Lúcifer, o anjo mais poderoso dos exércitos divinos. Essa lenda afirma que a coroa foi despedaçada pela espada do arcanjo Miguel quando Lúcifer ousou revoltar-se contra Deus. O anjo despencou para o fundo do Inferno e a esmeralda caiu na Terra como um meteorito. Mais tarde, ela seria encontrada por um sábio chamado Titurel e esculpida na forma de um vaso.
Livros como esse alcançaram uma popularidade tão grande que, de acordo com o medievalista francês Philippe Walter, deram origem a uma verdadeira "Era do Graal" na cultura da Idade Média. Logo o Santo Cálice ultrapassou os limites da ficção e entrou no reino da possibilidade histórica. Começaram a correr rumores de que ele se encontrava de fato em algum lugar da Europa (veja o mapa abaixo).
Para os interessados em rastrear o "verdadeiro Graal", o livro de Wolfram, com seus detalhes exóticos e alusões obscuras, foi um prato cheio. Parsifal cercou-se de polêmicas, nenhuma delas mais persistente do que a levantada pela palavra templeisen. No início da Idade Contemporânea, surgiu a tese de que a irmandade citada em Parsifal fosse uma referência à Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão - os templários. Para entender o fascínio que essa teoria exerceu (e ainda exerce) sobre leitores e escritores, é preciso dar uma olhada na controversa trajetória dos templários - um drama real, mas tão intenso e surpreendente que também poderia ter saído das páginas de um romancista.
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