A maturidade de uma ciência se mede, em grande parte, por sua capacidade de expressar leis em linguagem matemática e de estabelecer mecanismos dedutivos. Assim, a aplicação dos testes psicométricos, iniciada no início do século XX, contribuiu para que a psicologia ascendesse à categoria de ciência.
Psicometria é a área da psicologia que trata do desenvolvimento e da aplicação de técnicas de mensuração aos fenômenos psíquicos. As medições se fazem mediante a atribuição de valores numéricos aos comportamentos, de maneira que as diferenças de comportamento sejam representadas por variações nesses valores numéricos.
Abordagem histórica. Os primeiros estudos sistemáticos de mensuração psicológica datam do final do século XIX e se desenvolveram com base na matemática das probabilidades, sob influência de duas correntes: a primeira delas que deu origem à psicofísica constituiu uma tentativa de aplicação dos métodos das ciências físicas à mente humana. A segunda, que levou à criação dos testes psicológicos, visava à criação de métodos de mensuração da estabilidade emocional e da inteligência.
Inicialmente, os testes foram desenvolvidos no Reino Unido, Alemanha, França e Estados Unidos. No Reino Unido, foram aplicados para estudo científico da relação existente entre as diferenças individuais e a hereditariedade e, mais tarde, para pesquisar a natureza da inteligência. Na Alemanha, serviram de instrumento para estudos experimentais de psicopatologia, especialmente na área da educação. Os franceses Alfred Binet e Théodore Simon apresentaram, no início do século XX, a primeira escala de inteligência para crianças em idade escolar. Após uma revisão dessa escala, determinou-se a inteligência média para cada idade específica e se denominou "idade mental" o mais alto nível de desempenho apresentado por uma criança de cada idade. Mais tarde, William Stern sugeriu que a idade mental fosse dividida pela idade cronológica, tese que deu origem ao conceito de quociente de inteligência, ou QI.
Nos Estados Unidos, a expressão "teste mental" apareceu pela primeira vez num artigo de James McKeen Cattell, em 1890. Durante a primeira guerra mundial, a necessidade de rápida classificação de recrutas fez com que um comitê da American Psychological Association, coordenado por Robert Mearns Yerkes, adotasse testes coletivos de inteligência, denominados Army Alpha e Army Beta. Aperfeiçoados por Arthur Otis, geraram outros testes coletivos para crianças e adultos. Na mesma época, surgiram os testes ditos "de personalidade" e o teste de psicodiagnóstico, elaborado em dez manchas de tinta e popularizado com o nome de Rorschach, criado pelo psiquiatra suíço Hermann Rorschach.
Uma contribuição decisiva para a utilização racional dos métodos matemáticos em psicologia foi dada pelo matemático britânico Ronald Fisher, que criou procedimentos experimentais que permitem verificar várias hipóteses simultaneamente. A construção, validação e aplicação rotineira dos testes psicológicos se basearam nos progressos da matemática e da estatística.
Métodos e técnicas. A psicometria implica basicamente duas atividades: a quantificação de fenômenos psicológicos, sob forma de variáveis descritivas correspondentes às características dos indivíduos estudados, e a manipulação desses dados para obtenção de resultados numéricos. As relações entre os dados quantificados devem manter correspondência com as relações empiricamente verificáveis, uma vez que toda aplicação psicométrica supõe adoção prévia de enfoque experimental e de interpretação psicológica da linguagem matemática.
Entre os métodos de mensuração adotados encontra-se a escala de medida, seqüência numérica cujos elementos se encontram em correspondência biunívoca com traços psicológicos dos sujeitos estudados, detectados empiricamente. Dentre os diversos tipos de escala destacam-se as seguintes: (1) escalas nominais, utilizadas para quantificar dados que mantêm seu caráter qualitativamente singular e não permitem, por si mesmos, inferências matemáticas, como lugar de nascimento, por exemplo; (2) escalas ordinais, que permitem ordenação dos sujeitos quanto a traços determinados; (3) escalas de intervalos, utilizadas para comparar a diferença que existe entre os distintos níveis de uma determinada característica manifesta em cada sujeito estudado; e (4) escalas de razão, mediante as quais são medidas essas diferenças com alguma unidade arbitrária de medida. Existe ainda a técnica estatística chamada correlação, usada para verificar o grau com que dois traços psicológicos, ou quaisquer duas outras qualidades, variam juntos.
Outra técnica usada é a análise fatorial, que constitui um ramo da estatística e surgiu com a finalidade de fornecer modelos matemáticos para a explicação de teorias do comportamento e da capacidade. Consiste no estudo estatístico de fatores como a compreensão e fluência verbal, capacidade de operar números, memória associativa, rapidez na percepção e raciocínio lógico.
Todo esse trabalho teórico de construção e validade dos testes conduziu a sua aplicação em diversos campos, como educação, defesa, empresas industriais e de serviços, orientação profissional, seleção de pessoal, qualificação para funções de chefia, exame clínico e muitos outros fins.
A validação das técnicas psicométricas incorporadas nos testes de inteligência levou a sua aplicação também nos testes de personalidade. Nessa área destacam-se Clark L. Hull, com a teoria de emparelhamento a ser aplicada nas classificações de personalidade, as provas de introversão e extroversão de Sigmund Freud e a de reação de domínio e submissão de Gordon W. Allport.
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