Nenhum dos mexicanos com quem conversei parece perceber em seu país um clima dinâmico de inovação. Com "clima de inovação", quero dizer condições propícias a inovar, criar empresas, lançar iniciativas capazes de mudar a sociedade e, por que não, o mundo.
As opiniões deles são matizadas, e os motivos para as que expressem não são óbvios. Todos hesitam antes de responder, de oferecer sua versão. Apesar de irrefutável, não há consenso, nesse diagnóstico, quanto às pistas que o explicariam e que, dessa forma, permitiriam corrigir os problemas.
Carla Gómez Monroy estudou no MIT ( Instituto de Tecnologia de Massachusetts), onde trabalhou no famoso Media Lab (para o programa One Laptop per Child, onelaptop.org), e agora se dedica a um projeto "social", o Agentes 360. Trata-se de um grupo de jovens que, seguindo um modelo estruturado pelo Banco Inter-Americano de Desenvolvimento (BID), detectam problemas em suas comunidades, propõem soluções e as implementam, e em seguida relatam a aventura no blog agentes360.blogspot.com.
Ela reclama do sistema educacional, que não ajuda a formar empreendedores e incita os diplomados a buscar empregos seguros em grandes companhias. "Apenas algumas universidades contam com orçamento de pesquisa", afirma. O mais absurdo, diz Carla, é que a Telmex (a empresa dominante da telefonia mexicana, controlada por Carlos Slim, o homem mais rico do mundo), "financia projetos de pesquisa no MIT mas não no México".
Essa contradição não significa que falte aos mexicanos a criatividade sem a qual não é possível inovar. Carla encara com fascínio a multiplicidade de invenções individuais que podem ser encontradas praticamente em cada esquina, projetos "que nada têm de excepcional mas resolvem problemas concretos". Ela está falando do menino de rua que monta seu aparelho de som em uma saída do metrô para que as pessoas que estão saindo ouçam seus discos e decidam comprá-los, dos dispositivos para armazenar água de chuva em comunidades que sofrem secas e até da introdução de paineis solares, "tecnologia que é relativamente comum na Índia mas ainda é novidade no México".
Ricard Suárez, fundador da Yumbling.com, uma empresa que quer se tornar "a referência para diversão" na Cidade do México e parece a caminho de realizar esse objetivo, também fala de sérias dificuldades.
Ele conseguiu o capital básico indispensável para desenvolver a plataforma necessária a lançar seu site, depois de quase um ano de trabalho (parte do dinheiro veio do governo), mas o panorama se complica agora que a tarefa é promover o crescimento.
"Há dinheiro no país", ele me disse em uma conversa em um café da capital mexicana, "mas os investimentos vão para setores mais tradicionais ou para empresas que já propiciam lucros" --exatamente o oposto do necessário para uma empresa iniciante de tecnologia e comunicação.
Ainda que não faltem no México programadores "com garra", eles são uma minoria, mesmo entre os jovens. O governo começa a dedicar atenção à mobilização de recursos, mas aqueles que dispõem de capital preferem dedicá-lo a outros setores, de menor risco.
Creio que a introdução de inovações em um país sempre possa ser descrita como um arquipélago dinâmico cujas ilhas se multiplicam mais ou menos rápido em meio a um mar de indiferença e incompreensão. Isso é o que existe no México, mas as ilhas ainda são pouco numerosas e não estão conectadas. Seria desejável que o país não precisasse esperar toda uma geração para que o arquipélago em questão prospere.
Comentários