O patamar atual do dólar, em torno de R$ 2 foi considerado “virtual” pelo presidente interino da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro. Ao participar hoje (14) da abertura do 24º Fórum Nacional, no Rio de Janeiro, Castro apontou que o câmbio ideal para o comércio exterior brasileiro é R$ 2,20. “Nós não sabemos que se ele vai se transformar em um dólar real. Porque ele hoje está nessa faixa em função da crise na Grécia, na Europa. Mas, de qualquer jeito, é um avanço”.
Para a AEB, a taxa de câmbio de equilíbrio para a exportação seria R$ 2,20. Com essa taxa, muitos importadores passariam a importar apenas pela necessidade, explicou Castro. “Haveria um equilíbrio na balança comercial, estimulando as exportações de manufaturados e não desestimulando as importações necessárias ao país”.
Produtos manufaturados em que o Brasil sempre foi competitivo, como calçados, confecções, autopeças, máquinas e equipamentos, poderão vir a se beneficiar da taxa mais alta do dólar. O presidente da AEB deixou claro, entretanto, que a taxa do dólar só terá reflexos sobre os manufaturados “porque as commodities [produtos agrícolas e minerais comercializados no exterior], qualquer que seja a taxa de câmbio, vão continuar sendo exportadas normalmente”.
A manutenção do dólar na atual faixa vai depender, porém, do setor externo. Castro disse que a valorização pode servir para as exportações brasileiras recuperarem o mercado americano comprador. “É o mercado que mais cresce hoje no mundo”, observou. “Seria uma oportunidade para o Brasil voltar a ocupar espaço que nós perdemos nos últimos dez anos. Foram cerca de dez pontos percentuais [perdidos]”, destacou. Vinte e cinco por cento das exportações do Brasil eram destinadas aos Estados Unidos e hoje são apenas 10%.
Ele assegurou que a recuperação gradual do dólar ainda não foi sentida nas exportações. Apenas as empresas passaram a avaliar oportunidades, “mas sempre avaliando em que patamar o dólar vai estabilizar”. Admitiu, contudo, que a expectativa não é que o dólar suba até R$ 2,20, patamar considerado ideal, mas que recue para algo em torno de R$ 1,80 a R$ 1,85, “quando a situação se acalmar. Mas já é um alento. Há muito tempo nós não chegamos a esse patamar perto de R$ 2”.
Castro confirmou que não é só o câmbio que trava a competitividade das empresas brasileiras. “É um dos componentes”, ressaltou. Se o Brasil tivesse hoje uma boa infraestrutura, carga tributária menor e menos burocracia, ou seja, uma logística adequada, “ninguém estaria discutindo taxa de câmbio. A taxa de R$ 1,80 seria ótima. Com o cenário atual de infraestrutura deficiente e insuficiente, a taxa de câmbio é ruim”, completou.
O presidente da AEB avaliou que a cada ano o problema se agrava, porque os investimentos não são feitos na proporção devida. Indicou que hoje, com o sistema frágil, o câmbio ganha um papel relevante. “Hoje, só depende do câmbio para você tornar as exportações mais, ou menos competitivas”.
Castro acredita que os balanços das empresas já devem refletir a valorização cambial. Explicou que como o Brasil exporta atualmente 71% de commodities, os balanços estão vinculados a esses produtos que se acham em queda no mercado internacional, e devem refletir a retração dessas cotações.
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