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Só é socialismo enquanto funciona; quando deixa de funcionar, nunca foi socialismo


 Você já tentou pregar gelatina na parede com um martelo e um prego?  Isso é muito mais fácil do que encontrar um socialista que apresente uma definição clara sobre o que é socialismo.  Como a definição sobre o que é socialismo é extremamente volúvel, variando de acordo com os resultados, o socialismo se torna um alvo interminavelmente móvel.

Marx defendia a abolição da propriedade privada e a estatização de todos os meios de produção (fábricas, fazendas, minas, escritórios, maquinários, equipamentos, computadores etc.).  Ele chamou isso de "socialismo científico".

"Mas não é isso o que defendemos!", afirmam os socialistas de hoje.

Lênin estabeleceu a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).  Ele colocou o estado soviético no comando de cada aspecto da vida do indivíduo e fez isso "pelo bem do povo". Quando a coisa deu errado, recuou e permitiu um pouco de livre iniciativa.  Stalin o sucedeu, intensificou o socialismo e declarou que o arranjo iria fazer chegar à perfeição "o paraíso dos trabalhadores" prometido pelos intelectuais socialistas.  Gerou milhões de cadáveres.

"Mas não é isso o que defendemos!", alegam os socialistas de hoje.

Hitler e seus asseclas "planejaram" inteiramente a economia alemã, impuseram controle de preços, controle de salários e arregimentaram toda a produção. A propriedade dos meios de produção continuou em mãos privadas, mas era o governo quem decidia o que deveria ser produzido, em qual quantidade, por quais métodos, e a quem tais produtos seriam distribuídos, bem como quais preços seriam cobrados, quais salários seriam pagos, e quais dividendos ou outras rendas seria permitido ao proprietário privado nominal receber.  Os nazistas se auto-intitularam socialistas e até mesmo deram ao seu partido o nome de Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães.

"Mas não é isso o que defendemos!", gritam os socialistas de hoje.

Quinze diferentes repúblicas dentro do império soviético se proclamaram inteiramente dedicadas ao socialismo — até que todos os seus regimes entraram em colapso nos período de 1989 a 1991. (Veja alguns relatos sobre a vida nesses países aquiaqui e aqui).

"Mas não é isso o que defendemos!", dizem os socialistas de hoje.

Mais exemplos fracassados de socialismo

Desde a década de 1950, dezenas de regimes na África e na Ásia se comprometeram com a utopia socialista, abraçando orgulhosamente o socialismo pelo nome.  E gerando outros milhões de cadáveres, a maioria por inanição. 

Absolutamente todos eles geram a mesma proclamação dos socialistas de hoje: "Mas não é isso o que defendemos!".

Socialistas ao redor mundo se regozijaram com a ascensão ao poder do socialista Hugo Chávez na Venezuela.  "É exatamente isso o que defendemos!" tornou-se o mantra dos socialistas à medida que o governo venezuelano ia expropriando, estatizando e redistribuindo. 

Mal se passaram 15 anos, e a economia venezuelana está hoje à beira do total colapso, com pessoas matando cachorros nas ruas para ter o que comer e recém-nascidos morrendo como moscas nos hospitais públicos do país.  Consequentemente, tornou-se impossível encontrar um socialista que defenda o atual regime venezuelano.  Porém, aqueles poucos que se pronunciam apenas dizem "Mas não é isso o que defendemos!".

Por ora, todos os socialistas encontraram como último refúgio a defesa das economias escandinavas.  "Agora sim, é isso o que defendemos!", asseguram eles. 

O problema é que uma observação mais aprofundada dos países escandinavos mostra que: tais países não possuem leis de salário mínimo, a carga tributária sobre as empresas está entre as menores do mundo, as economias são abertas e há uma praticamente plena liberdade de importação (as tarifas são baixíssimas), há liberdade de empreendimento (quase nenhuma burocracia para se abrir empresas), e quase não há empresas estatais (a única mundialmente famosa é a estatal petrolífera da Noruega, país que tem a gasolina mais cara do mundo).  Veja todos os detalhes aquiaquiaqui e aqui.

O primeiro-ministro da Dinamarca recentemente veio a público fazer a seguinte declaração: "Sei que muitas pessoas nos EUA associam o modelo nórdico a uma espécie de socialismo.  Sendo assim, gostaria de deixar uma coisa bem clara: a Dinamarca está longe de ser uma economia socialista planejada.  A Dinamarca é uma economia de mercado". 

Consequentemente, os socialistas de hoje dizem: "Bom, não é isso o que defendemos...".  Afinal, os socialistas de hoje defendem um salário mínimo imposto pelo governo e frequentemente reajustado, mais impostos sobre as empresas, mais regulamentações estatais sobre os empreendimentos, e maciça intervenção estatal sobre o comércio.

É até não ser mais

Mikhail Gorbachev, o último líder da URSS, ofereceu uma das mais efusivas visões de quem seria um socialista.  "Jesus foi o primeiro socialista", declarou Gorbachev, pois ele "foi o primeiro a querer uma vida melhor para a humanidade".

A tola alegação de Gorbachev não nos leva a lugar nenhum.  É difícil haver alguém mais anti-socialista do que eu; e eu também quero uma vida melhor para a humanidade (e essa é uma das várias razões de eu não ser um socialista).

Ademais, como explicado neste artigo, Jesus nunca defendeu a redistribuição de riqueza pela força ou pelo processo político.  A compaixão e o compartilhamento que ele que sugeria eram todos voluntários — ou seja, feitos com o coração e não com o bolso de um terceiro sob a mira de uma arma.  Jesus repreendia as pessoas invejosas e ladras, e elogiava o homem que investiu sabiamente seu dinheiro e teve uma grande rentabilidade.  Se Jesus era um socialista, então eu sou Torquemada.

Socialistas são espécies intelectualmente escorregadias.  Para eles, os modelos que defendem são socialistas até o momento em que deixam de funcionar.  Quando deixam de funcionar, então não são mais socialistas.  Pior: nunca foram socialistas. 

É socialismo até que tudo degringole; e então passa a ser qualquer coisa, menos socialismo.

Sob o socialismo, você ou mata a vaca de uma vez ou a ordenha 24 horas por dia.  Mas uma coisa é certa: quando o leite acaba, os socialistas culpam a vaca.  Talvez o motivo de os socialistas não gostarem do conceito de responsabilidade individual é porque eles não querem ser vistos como pessoalmente responsáveis pelas consequências práticas das idéias que defendem.

O Dicionário Oxford (cujo slogan é "a linguagem é tudo") define socialismo como sendo "uma teoria política e econômica de organização social que defende que os meios de produção, de distribuição e de troca devem ser propriedade da (ou regulados pela) comunidade como um todo".  E oferece os seguintes termos como sinônimos: esquerdismo, assistencialismo, progressivismo, social-democracia, comunismo e marxismo.

Talvez agora estejamos chegando a algum lugar.  Tal definição soa precisa, certo?  Mas não é.  O que significa dizer que "os meios de produção, de distribuição e de troca devem ser propriedade da (ou regulados pela) comunidade como um todo"?  Acaso uma padaria deveria pôr em votação pública suas decisões sobre o que colocar em suas prateleiras ou quem contratar para o turno da noite?

E essa parte de "ou regulados pela comunidade como um todo"?  Você conhece um corpo regulatório que seja formado por todas as pessoas de uma cidade?  Mais ainda: formado por todas as centenas de milhões de pessoas de um país?  Não seria mais correto simplesmente reconhecer que tais organizações sempre acabam sendo formadas por algumas poucas pessoas que usufruem poderes políticos quase que ilimitados?

Mesmo tendo em mãos um dicionário no qual pesquisar a palavra socialismo, ainda me vejo coçando a cabeça e perguntando: "Mas, afinal, que diabos é isso?".  Talvez seja algo imaginário — algo que alguma pessoa espera que seja, mesmo que jamais tenha sido assim todas as vezes em que foi tentado.

Ou talvez seja como a pornografia: ninguém sabe definir exatamente o que é, mas todos reconhecem quando vêem.

Solidariedade excludente 

Creio que a melhor definição que já vi sobre o socialismo foi dada pelo colunista Kevin D. Williamson da revista National Review.  Ei-la:

O socialismo e o assistencialismo, assim como o nacionalismo e o racismo, se baseiam a apelos à solidariedade — solidariedade que tem de ser impingida sob a mira de uma arma.  Tal apelo vai muito além de uma preocupação genuína pelos pobres e oprimidos, ou pelo povo em geral.  Trata-se, ao contrário, de uma solidariedade excludente, uma noção supersticiosa que vê o "corpo político" não como uma mera figura de linguagem, mas sim como uma descrição substantiva que diz que estado e pessoas são um organismo unitário, cuja saúde é de tão suprema importância, que os direitos individuais — propriedade, liberdade de ir e vir, liberdade de expressão, liberdade de associação — devem ser restringidos ao máximo ou mesmo eliminados quando passam a ser vistos como insalubres.

Os países "socialistas" que parecem funcionar — como Suécia, Noruega e Dinamarca — funcionam não por causa de suas características tidas como socialistas, mas sim por causa do capitalismo que eles ainda não aboliram.  Adote o socialismo pleno e você vira a Venezuela.  Ou, pior ainda, a Coreia do Norte.

Socialismo é violência

No final, tudo se resume ao combate persuasão versus violência.  Todo o resto é trivial.  É mais ou menos assim:

Sob o capitalismo, uma pessoa bate à sua porta e pergunta: "Você gostaria de comprar esses biscoitos?".  Você tem a liberdade de dizer sim ou não.

Sob o socialismo, uma pessoa arromba a sua porta acompanhada de uma exército paramilitar e diz: "Você vai comer essas drogas de biscoitos, queira ou não, e irá pagar por eles também!".

Alguns socialistas dizem que estão simplesmente defendendo a "solidariedade" e o "compartilhamento".  E, dado que os defensores do socialismo têm boas intenções, então tal doutrina, por definição, tem também de ser voluntária e benéfica.   Exceto que nunca é.  Se fosse voluntária, não seria socialismo; e se fosse benéfica, não seria necessária a violência para criá-la e mantê-la.

Os socialistas de hoje pensam e agem como se houvessem acabado de chegar de um universo paralelo: 

a) Um endividamento trilionário significa que o governo federal ainda não gastou o bastante para resolver nossos problemas. 

b) Confiscar dinheiro que pertence a terceiros por meio da tributação é algo perfeitamente certo se for direcionado para "coisas boas". 

c) Pessoas se tornam instantaneamente mais honestas, competentes e preocupadas com o povo tão logo são eleitas para cargos públicos. 

d) Se você obrigar patrões a pagar salários maiores do que a produtividade de seus empregados, eles ainda assim continuarão contratando mais pessoas, aceitando heroicamente seus prejuízos. 

e) Regulamentações sempre fazem o bem, pois seus defensores têm boas intenções. 

f) Civilizações ascendem e se tornam grandiosas ao punirem o sucesso e subsidiarem o fracasso.  E entram em colapso quando adotam a liberdade e a livre iniciativa. 

g) As pessoas têm o direito de ter tudo aquilo que quiserem, e devem exigir que os outros paguem, como educação gratuita, saúde gratuita, transporte gratuito e aborto gratuito.

Talvez toda essa insensatez tenha sua origem em uma falha fundamental de definição: se não for pelo uso da violência para moldar a sociedade da maneira que você quer, então o socialismo nada mais é do que uma fantasia nebulosa.  Trata-se de um gigantesco quadro-negro no céu, no qual você pode escrever qualquer coisa que seu coração desejar — e rapidamente apagar tão logo as circunstâncias se tornarem constrangedoras.

De qualquer maneira, não quero de maneira alguma fazer parte desse experimento.  Mas os socialistas insistem que eu tenho de participar.  À força e para o meu bem.


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