Compreender a meditação e seus benefícios foi o que ajudou o professor de Língua Portuguesa Marcelo Leite a criar uma rotina para a reflexão. “Em março de 2020, eu comecei a me adaptar à meditação basicamente por conta de duas coisas: acompanhamento profissional de terapeuta e muita leitura”, conta ele. “É igual tomar banho. Você não faz uma vez e para. É uma questão de higiene e a meditação é uma higiene emocional.”
Segundo ele, que antes sofria muito de ansiedade, a prática noturna regular administrou suas expectativas em torno da pandemia. “Isso fez e faz com que eu consiga passar por esse período com uma dimensão de que tudo isso é inevitável, é um fato do mundo. O que eu posso trabalhar é a maneira como eu lido com isso”, diz.
Apesar de a pandemia ser global, cada ser humano a está experimentando de um jeito diferente. Por isso é tão importante a ação de compartilhar experiências, numa tentativa de normalizar alguns dos desafios vividos e trazer mais cuidado para o dia a dia. Algo muito bem explorado pela Monja Coen.
Em Tempo de Cura, livro da religiosa lançado na semana passada pela editora Planeta, a monja não tem problema em contar sobre suas dores e medos para, junto com os leitores, tratar as sequelas físicas, mentais e sociais da pandemia.
“A gente só pode falar daquilo que tivemos uma experiência pessoal. E eu gosto de dizer para as pessoas: você pode. Seja quem for e o que você estiver fazendo. Já bebi muito, já usei droga e agora eu sou uma monja que não faz nada disso e estou muito bem”, revela.
No livro, Monja Coen afirma que estamos enfermos porque perdemos nosso equilíbrio, o qual pode ser recuperado com a meditação. “É uma mudança de olhar para a humanidade. Ou seja, existe uma doença e existem caminhos de cura. Mas, para haver cura, não pode haver negação. A gente precisa ver a realidade e ver a maneira como estamos respondendo ao mundo. É através da ganância, raiva e ignorância ou através da compreensão, da bondade e da sabedoria?”, indaga ela.
Mudança. A designer de estampas Débora Raysa, de 30 anos, buscou ajuda pelos aplicativos. “Eu tive de abrir mão da terapia durante a pandemia e vi na meditação algo de fácil acesso que me traria calma e relaxamento”, explica ela, que religiosamente faz a prática pela manhã, logo que acorda. “Já usei o aplicativo Cíngulo e agora uso o Lojong. Mas tem vezes, dependendo do dia, que consigo fazer sem ser meditação guiada”, diz.
Ao invés de procurar por aplicativos, a analista de conteúdo Aline Saluotto, de 28 anos, se descobriu em séries. Desde fevereiro deste ano, ela assiste regularmente à Meditação Guiada Headspace, a primeira das três parcerias anunciadas pelo aplicativo com a Netflix.
“Eu já vejo que algumas ações minhas mudaram completamente, sabe? A meditação me ajudou a compreender coisas além da calmaria que ela proporciona”, divide ela, que passou a exercitar a respiração ao longo do dia e até melhorou o seu sono. Tema que a Headspace escolheu para a segunda série, Guia Para Dormir Melhor , que estreia amanhã (28) no streaming.
“Se você parar para pensar, todo humano come e dorme. E existem muitos programas de comida, mas nunca teve um sobre sono. Além disso, tem tantas pessoas que assistem à TV antes de irem dormir, então, e se tivesse um programa que realmente ajudasse você a dormir?”, diz Morgan Selzer, produtora executiva da Headspace.
Eve Lewis Prieto, voz da série e especialista em meditação e mindfulness, explica que a falta de sono pode agravar os problemas que enfrentamos, causando ainda mais estresse e ansiedade. “É como nos relacionamos com essas experiências e achamos maneiras de entender nossos padrões de vida, que somos capazes de colocar em prática uma rotina em torno de nosso sono”, diz ela.
O problema com insônia foi o que fez Geni Bosso, de 63 anos, procurar ajuda. “Quando começou a covid, eu passei os primeiros meses ‘de boa’. Mas depois, por volta de setembro, comecei a acordar às 3h da manhã e não dormir mais. Aí comentei com uma amiga, Mara, que é terapeuta floral, e tudo mudou”, conta.
Desde então, Geni toma gotas de florais ao longo do dia e participa de um grupo de WhatsApp, criado pela amiga, que compartilha meditações diárias pelas manhãs. “Eu aceitei porque sinceramente, nesta pandemia, tudo que for pra você relaxar e ficar bem é importante”, diz ela.
Prática. A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece a meditação como um método para a prevenção de doenças, além de trazer benefícios comprovados no controle dos sintomas da ansiedade, depressão e insônia. Mas o hábito deve existir. Por isso mesmo, muitas vezes ele é até incentivado por psicólogos e terapeutas.
Foi o caso do representante comercial Jackson Tavares, de 22 anos, que em abril de 2020 começou a terapia e cinco meses depois já passou a meditar. “Ele me indicou a meditação para que eu pudesse controlar o meu foco com a atenção plena, o mindfullnes”, conta ele, que sofria com distrações do home office e compulsão alimentar.
“Na pandemia eu engordei muito, uns 19 quilos, porque eu comia sem perceber o que eu estava comendo. A partir da atenção plena, eu comecei a reparar no que eu estou mastigando. Até porque a gente realmente não consegue fazer várias coisas ao mesmo tempo. Então é importante ter atenção.”
É comum entender meditação como o silenciamento da mente, quando alguém não pensa em nada. Porém, o que se busca, ao meditar, é acalmar a mente e assim organizá-la.
“Não existe nenhum problema em ter pensamentos. Basta você não conversar com eles. Para isso, imagine que você está na plataforma do metrô e um trem está vindo. Ali tem vários vagões, cada um deles representando um pensamento diferente. Você vai entrar no pensamento que você quer ou simplesmente vai deixá-lo ir embora. O estado meditativo é observar ele vir e não entrar”, exemplifica a professora de ioga e meditação Alik Mio.
Para quem quer começar a prática, o mais indicado é a meditação guiada. Com o tempo, descubra um estilo confortável para você. “No começo a pessoa ainda não sabe o que fazer e precisa de alguém que saiba trazer essa consciência para os seus pensamentos e fazê-la retornar para o aqui e agora”, ensina.
De acordo com ela, não existe maneira certa ou errada de fazer a prática, porém duas regras são essenciais: postura e atenção no presente. “Você pode estar em três posições para circular a energia e conseguir a clareza mental: sentada com os pés tocando o solo e alinhando a coluna, sentada com as pernas dobradas em forma de flor de lótus ou completamente deitada”, diz.
Lojong
Possui diversas práticas guiadas com diferentes objetivos. Oferece opções para quem não pode pagar. R$ 12,90/ mês. Disponível em iOS e Android
Headspace
Práticas de meditação e sono focando no bem-estar do usuário. Tem opções de curso e opções para todas as idades. R$ 19,90/mês. Disponível em iOS e Android
Insight Timer
Aplicativo com mais de 50 mil meditações gratuitas e disponíveis em 44 idiomas diferentes. R$ 10,82/mês. Disponível em iOS e Android
Mediotopia
Sessões personalizadas, guiadas, sons da natureza e histórias para dormir estão disponíveis. R$ 11,65/mês. Disponível em iOS e Android
Zen
Primeiro aplicativo brasileiro de meditações guiadas. Grátis, com opção premium por R$ 19,90/mês. Disponível em iOS e
Android
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