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Livro de bolso lançado há 60 anos se renova nas redes e nas vendas

 Há uma “coisa para acontecer” na vida de Elymar Santos que tem deixado o cantor ansioso. Na hora desta entrevista, porém, estava sereno. Mais cedo, tinha aberto o livro de bolso “Minutos de sabedoria”, de Carlos Torres Pastorino, na página 272: “Tenha firmeza em suas atitudes e persistência em seu ideal. Mas seja paciente, não pretendendo que tudo lhe chegue de imediato. Há tempo para tudo”.

— Quase sempre, como foi o caso de hoje, o que leio tem a ver com o que estou pensando — diz ele.


Elymar não lembra como e quando adquiriu o hábito de refletir sobre uma das 288 mensagens motivacionais da obra. Mas certo é que ela tem 60 anos — e com fôlego para mais. Segundo a Amazon, a versão física é a mais vendida na categoria “Crescimento Pessoal e Inspiração, Religião e Espiritualidade”. No ranking geral do site, ocupava a 105ª posição na tarde de ontem — uma ótima colocação para um livro de tanta idade, dizem fontes do mercado editorial. Para a Nielsen, empresa que compila dados de vendas on-line e em lojas físicas, ele é o 27º mais vendido do ano até agora. Na lista da Publish News, que analisa só livrarias, é o 11º de autoajuda em 2021.

Entre os fãs famosos, não há apenas expoentes da faixa etária dos 60+, como Elymar. Muitos millennials também acordam, abrem o livrinho e se preparam para os desafios do mundo com a sapiência do oráculo de capa plástica azul. E, como jovens que se prezam, dividem as reflexões nas redes sociais. Do rapper Emicida ao sertanejo Gusttavo Lima, há ensinamentos para todos os espectros político-sociais.

Lançado no fim de 1960 pelo jornalista carioca Carlos Torres Pastorino, o livro é uma coletânea de notas de encorajamento sob uma perspectiva kardecista. Ex-padre convertido ao espiritismo, Pastorino, inicialmente, passava mensagens no programa “Três minutos de sabedoria”, da Rádio Copacabana. De lá, surgiu a ideia da publicação, então pela Edição Sabedoria, que pertencia ao jornalista. Desde 1982 (dois anos após a morte dele), a editora Vozes é responsável pelo livro, que já vendeu 15 milhões de exemplares sob sua batuta.

— “Minutos” caiu no gosto popular porque traz a perspectiva de que a sabedoria remete a questões do dia a dia, fala de vivência. E o livro é pequeno, com preço acessível (R$ 5,50 na Amazon) — diz Welder Marchini, um dos editores da Vozes.

Segundo pesquisadores do tema autoajuda, o livrinho se encaixa nos primórdios desse tipo de literatura, nascida em 1859, com a publicação de “Self help” (lançada em português como “Ajude-se”), do britânico Samuel Smiles.

— A obra de Pastorino está conectada com as origens da autoajuda, que incentiva o indivíduo a buscar dentro de si a solução para os problemas com um pensamento positivo. É a crença na capacidade da mente em atrair as coisas boas e afastar as ruins — diz Mayka Castellano, professora da UFF e autora de “Vencedores e fracassados: o imperativo do sucesso na cultura da autoajuda”.

Bem na foto

Com as dimensões parecidas com as de um celular, cada página do “Minutos” é fácil de ser enquadrada num stories do Instagram. É o que faz todo dia o gerente educacional Felipe Bonsanto, de 35 anos, de Alfenas (MG). Ele conheceu o trabalho de Pastorino em 2017 e, encantado, resolveu adotar para si a estratégia de postar, diariamente, uma “sabedoria”.

— O formato sintético de poucas frases é facilmente “instagramável”, são pílulas que podem ser compartilhadas e não demandam, no geral, muita reflexão — diz Mayka.

Felipe e os amigos (que esperam ansiosamente pelo “minuto” do dia) discordam de que o conteúdo seja raso. Na pandemia, para eles, a injeção de ânimo pode ser rápida, mas tem sido profunda.

— Perdi um amigo por Covid-19 e, dois dias depois, uma das mensagens falava para não perder a fé. Dizia que dias melhores viriam, que a vida é instável mesmo. Isso me trouxe conforto — diz Felipe.

Esse alento, sobretudo na dificuldade, faz desse tipo de obra ainda mais sedutora. Mas há críticos para quem o gênero não contribui com uma sociedade que, mais do que nunca, necessita de ações coletivas.

— Basicamente, esses livros, com discurso religioso ou não, dizem que o indivíduo precisa se transformar para mudar a realidade. Isso é muito conveniente para o status quo — diz Anna Flora Brunelli, professora da Unesp e doutora em linguística pela Unicamp com a tese “O sucesso está em suas mãos: análise do discurso de autoajuda”. — Eles se previnem e antecipam críticas. Se não deu certo é porque você não teve fé suficiente, não se esforçou.

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