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Entrevistando: Dr. Connell Cowan

Veja – Existe um parceiro ideal inato, uma alma gêmea que precisa ser encontrada para trazer felicidade?
Cowan – Em primeiro lugar, ser um bom parceiro é saber desmistificar o que é romantismo. O romantismo mostrado no cinema e na TV é bastante diferente da intimidade do dia-a-dia. Depois, a melhor qualidade de um parceiro é a aceitação do outro. É esta a qualidade que constrói a confiança, o conforto e a sensação de segurança. Outro aspecto importante é que a pessoa saiba responsabilizar-se pela própria satisfação de vida. Não devemos esperar que uma união nos proporcione isso. O problema é que as pessoas acreditam que relacionamentos foram feitos para consertar algo errado em sua vida. Felicidade, realização, equilíbrio são metas que se alcançam individualmente.

Veja – Por que tantos casamentos terminam em divórcio — e cada vez mais rapidamente?
Cowan – Uma das grandes causas é a falsa expectativa. As pessoas se casam com expectativas que não podem ser preenchidas, então acabam desiludidas e desapontadas. Os casados despejam a culpa de seus problemas no casamento. Freqüentemente os separados acabam afundados nos
mesmos problemas que tinham quando eram casados.

Veja – Por que mulheres inteligentes fazem escolhas tolas no campo afetivo?
Cowan – Existem milhares de razões. Às vezes elas são atraídas pelo desafio de conquistar homens que não se comprometem facilmente. Esse sentimento é de ânsia, não de amor. Esse tipo de relacionamento amarra as mulheres a relações estranhas e vazias. Fiquei bastante impressionado com a vida de várias de minhas clientes. Todas eram inteligentes, bonitas, moravam bem e tinham belas carreiras. Moldaram sua vida de uma forma na qual tudo
dava certo, exceto o relacionamento com homens. Era um paradoxo. Por que elas não eram capazes de usar sua inteligência nos relacionamentos amorosos? Isso me intrigou.

Veja – Seu livro foi best-seller em diferentes países, inclusive naqueles onde as mulheres são oficialmente consideradas inferiores aos homens. Como o senhor explica esse sucesso?
Cowan – Fiquei chocado ao saber que meu livro foi publicado na China, na Hungria, no Japão, em Israel e até na Bósnia. Pensei: "O que essas mulheres estão fazendo, lendo esse livro em plena guerra?". Aprendi que elas desejam entender suas relações com os homens de maneira mais profunda, além de compreender melhor os próprios homens e algumas das razões que levam a erros. Esse tema transborda culturas. Certa vez, recebi uma mulher japonesa em meu consultório — mas quem marcou a consulta foi o marido. Eles vieram do Japão e passamos uma tarde juntos. O marido participou da sessão como tradutor. Horas depois, percebi que ela entendia tudo o que eu falava e era capaz de responder em inglês. A partir daí, passei a me dirigir diretamente a ela, o que tornou a conversa bem mais interessante. Esse caso me chamou a atenção, pois, apesar de o marido controlar a situação, essa mulher é uma grande executiva, dona de uma cadeia de joalherias no Japão. Inclusive, nesse país, meu livro foi adaptado para o teatro cabúqui, com produção de Nova York no estilo da Broadway.

Veja – Há poucos meses, um jovem professor judeu americano, de Denver, colocou uma foto de si mesmo num jornal israelense. Nela, ele segurava um cartaz escrito a mão em hebraico onde se lia: "Procuro uma mulher para casar e ter filhos". Seis mil mulheres responderam. Será que homens assim são tão raros que a proporção chegue a 6 000 para uma?
Cowan – Seis mil? Isso é impressionante. Deve ter sido a menção a filhos. Normalmente, anúncios pessoais na internet ou em revistas têm um tom bastante egoísta. Os que me dão raiva são aqueles que dizem "Estou na faixa dos 50, procuro uma mulher branca, entre 22 e 28 anos", em vez de "quero me casar e construir uma família". Isso é muito mais atraente para as mulheres.

Veja – Quais são as principais reclamações que o senhor escuta de suas pacientes quando elas falam sobre homens?
Cowan – Reclamam de homens que não assumem um papel ativo na criação dos filhos e na tomada de decisões. Outras se queixam de que não têm tempo para si mesmas. É mais fácil para os homens ficar sozinhos de vez em quando. As mulheres precisam de privacidade tanto quanto os homens, mas não têm sossego. Outras mulheres reclamam de não ser ouvidas. Nem sempre elas querem que o homem resolva seus problemas, querem apenas que as escute.

Veja – O senhor diz que, em relacionamentos, os homens têm prioridades diferentes. Quais são elas?
Cowan – Existe uma gama de prioridades, muitas delas bem estranhas, mas vou falar das relações saudáveis. Os homens procuram mulheres que os alimentem emocionalmente e que os aceitem. Geralmente, eles não buscam mulheres que cuidem deles financeiramente. As mulheres ainda buscam homens que elas julguem capazes de ser bem-sucedidos, protetores, poderosos. O poder é um grande atrativo, pois é uma idéia que remete à segurança. Essa é a prioridade das mulheres. Já os homens não procuram, necessariamente, mulheres poderosas. Não que elas não sejam atraentes, mas o poder não é o suficiente — elas devem ter algo mais. O poder puro e simples seria um pouco amedrontador para um homem. De alguma forma, os homens podem
sentir-se intimidados por uma mulher poderosa.

Veja – Que tipo de homem se intimida com mulheres fortes?
Cowan – Acredito que sejam os homens fracos. Apenas homens inseguros se sentem ameaçados por mulheres com algum poder, porque eles se vêem inferiores diante delas, em vez de celebrar o sucesso das parceiras. Esse sucesso ameaça sua autoconfiança e seu próprio sucesso. Já os homens fortes gostam de mulheres fortes. Um homem forte não vê problemas em celebrar o sucesso, a força e as realizações de sua mulher. Por isso é importante que mulheres fortes busquem homens fortes.

Veja – Então mulheres mais femininas, delicadas e com menos iniciativa não necessariamente atraem mais os homens...
Cowan – Exato. Um homem inseguro provavelmente vai sentir-se mais atraído por uma mulher que ele possa controlar, que seja condescendente, que não alcance algo na vida maior ou mais importante que ele. Assim ele se sentirá mais confortável. Mas um homem seguro, eficiente e bem-sucedido pode sentir-se atraído por uma mulher tão ou até mais bem-sucedida que ele no mundo do trabalho

Veja – Por exemplo...
Cowan – Tive um casal de pacientes em que a mulher tinha um diploma de mestrado em administração de empresas pela Universidade Harvard e o marido era um advogado. Ela era apaixonada pela carreira. Já ele, que trabalhava numa empresa de entretenimento, não morria de amores pelo emprego — então pediu demissão para ficar em casa cuidando dos dois filhos. Ela está no mundo, sendo promovida e trazendo dinheiro para casa, enquanto ele está se transformando no "Senhor Mamãe". Trata-se de um homem extremamente inteligente, capaz, forte e que não se sente ameaçado pelo sucesso de sua mulher. Ele adora o fato de ela ser promovida, pois isso significa mais dinheiro e uma vida mais confortável. As mulheres sempre foram capazes de gerar renda suficiente para sustentar uma família. Agora podem fazer isso com classe.

Veja – Depois de movimentos feministas e conquistas no mercado de trabalho, as mulheres mudaram?
Cowan – Elas mudaram em alguns aspectos. No campo profissional, vemos muito mais mulheres médicas, advogadas, por exemplo. Mas ainda há uma insatisfação. Percebi, por exemplo, que várias advogadas lidavam com homens de alto escalão em ambientes em que se trabalha dezesseis horas por dia, numa atmosfera competitiva, desequilibrada e exaustiva. Muitas delas perceberam que não queriam competir ou fazer parte desse ambiente. Hoje está havendo uma mudança. Há mulheres deixando a carreira para cuidar das crianças. Isso é um movimento saudável.

Veja – Como os homens reagiram à invasão de mulheres no mercado de trabalho e ao fato de receber ordens de alguém de saias?
Cowan – No início desse movimento, eles sentiram-se ameaçados. Inclusive surgiram regulamentações que obrigam as empresas a ter um número determinado de mulheres no quadro de funcionários. Mas os homens se acostumaram a conviver com supervisoras. A idéia hoje é de confiança — os homens aceitam com mais facilidade o fato de ter uma chefe, se acharem que ela é qualificada para tal. Eles buscam profissionais mais pela capacidade do que pelo sexo. E é assim mesmo que deve ser.

Veja – Será que nas próximas gerações ainda veremos casais de idosos caminhando de mãos dadas pelas ruas ou celebrando suas bodas de ouro?
Cowan – Acredito que sim. Hoje, conheço mais gente envolvida em relações bem-sucedidas do que em qualquer outra época de minha vida. Elas se gostam. Acho que essas pessoas serão esses casais aos quais você está se referindo. É lindo ver esses velhinhos juntos, não? Transmitem algo de amor persistente. Ainda acredito nisso. Se formos realistas, generosos e responsáveis, essas relações são possíveis.

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