Gilles Deleuze tornou-se bacharel em Filosofia em 1948. A partir de 1969, passou a lecionar na faculdade de Vincennes-Saint-Denis (Paris VIII), em companhia de Michel Foucault. A carreira filosófica de Deleuze principiou com a publicação de monografias filosóficas (Hume, Nietzsche, Kant, Bergson, Spinoza). Seu propósito era fundar a crítica do pensamento na análise da história do pensamento e no confronto dos sistemas epistemológicos (ver Epistemologia). Expondo as diferenças pelo jogo da repetição de sistemas situados historicamente, Deleuze buscava uma filosofia que saísse do sistema, que não identificasse, como o idealismo hegeliano (ver Hegel), a unidade e o múltiplo, reduzindo o mesmo ao outro (Diferença e repetição, 1968).
Tratava-se de fazer uma filosofia do “eterno retorno”, reprodução de um pensamento idêntico, pelo menos conceitualmente, mas em um lugar diferente, o lugar do “intempestivo” nietzscheano. Devia chegar a ser uma filosofia do porvir, da vontade, que iria além de um pensamento do ser, do sujeito. Com Félix Guattari, Deleuze inaugurou, a partir de 1972, uma nova fase na prática do múltiplo e do intempestivo. No Anti-Édipo (1972), a psicanálise foi centro da crítica dos dois autores pois trazia a força do desejo à única instância do Édipo, eixo invariável da neurose. Ao contrário, segundo Deleuze, o desejo é “criação de vida”, motivo de invenção e de diferença, transgressão de normas.
“Produzir conceitos”, atividade filosófica por excelência (O que é filosofia, 1991), consiste em pesquisar novos meios de expressão. Deleuze tentava, então, ultrapassar o domínio puramente filosófico elaborando “máquinas” textuais que, sustentadas na literatura (Proust e os signos, 1970), ou no cinema (A imagem-movimento, 1983; A imagem-tempo, 1985), dessem conta dos homens, essas “máquinas desejadoras”. A nova filosofia iniciada por Deleuze foi, portanto, um elogio dos desejos e esteve atenta aos movimentos singulares dos corpos no espaço social — um “corpo sem órgãos” que emana de um espaço plano. “Trata-se sempre de dobrar, desdobrar e redobrar”: este é o movimento que segue o pensamento na linguagem deleuziana que, assim, pôs em questão todo modelo formal de verdade. O conceito de dobra (pli em francês), desenvolvido no livro sobre Leibniz, retoma a imagem do poema de Mallarmé (Pli selon pli) que, por sua vez, musicou o compositor Pierre Boulez.
Além das citadas, as obras principais de Gilles Deleuze são Nietzsche e a filosofia (1962), Apresentação de Sacher-Masoch (1967), A lógica do sentido (1969), Mil Platôs (com Guattari, 1980), Foucault (1986) e A dobra: Leibniz e o barroco (1988). Oprimido pela doença, Deleuze escolheu suicidar-se em 1995, aos 70 anos.
Ver também Neobarroco.
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