1 | INTRODUÇÃO |
Monólogo, recurso literário usado para
transmitir os pensamentos e sentimentos mais íntimos de uma personagem. No seu
sentido tradicional, refere-se a uma longa fala feita por uma das personagens no
teatro, na qual ela verbaliza pensamentos muito pessoais ou muito perigosos para
transmitir a outras personagens. Tal monólogo geralmente é denominado
solilóquio. Na poesia, o termo monólogo é usado para denotar um poema lírico que
consiste inteiramente de uma fala de uma única personagem endereçada a um
ouvinte hipotético e silencioso. Este tipo de monólogo é chamado de monólogo
dramático. Na ficção, o termo monólogo indica a técnica através da qual um autor
passa para o papel, da maneira mais direta possível, o verdadeiro processo de
pensamento e sentimento de uma personagem. A forma que resulta desta técnica
geralmente é denominada monólogo interior.
2 | SOLILÓQUIO |
Ao longo da maior parte da história, o teatro dependeu do uso do
solilóquio ou do monólogo para transmitir informações ao público que não
poderiam ser reveladas de outra maneira. No teatro grego clássico, as
personagens geralmente endereçavam os seus monólogos diretamente ao coro no
palco e, por implicação, ao público do anfiteatro. Tais monólogos serviam a
vários propósitos. Freqüentemente eles delineavam o arcabouço da peça e
relatavam eventos complicados que haviam ocorrido fora do palco. Também eram
usados para mostrar a reação de uma personagem a eventos passados, bem como a
previsão de ocorrências futuras. Ocasionalmente, os monólogos incluíam orações
aos deuses ou meditações sobre a vida.
O solilóquio atingiu seu maior desenvolvimento no teatro inglês do
final do século XVI e do início do século XVII e no teatro francês de Corneille
e Racine. No teatro inglês da época, os palcos eram pequenos e freqüentemente se
projetavam pelo meio do público. Assim, a montagem física de uma peça levava o
espectador a ter um contato próximo com os atores, o que o fazia aceitar com
facilidade as confidências de uma personagem que apresentasse um monólogo.
Geralmente, um ator realizava o seu solilóquio quando estava sozinho no palco.
Às vezes, outros atores também estavam presentes, mas entendia-se que eles não
estavam ouvindo o que estava sendo dito. Christopher Marlowe e Thomas Kyd usavam
muito o monólogo em suas peças. As vociferações por vezes hilariantes de
Jerônimo em Spanish Tragedy, de Kyd, abriram caminho para o uso mais
sofisticado do solilóquio feito por Shakespeare. Deste, o solilóquio mais
famoso, “To be or not to be”, de Hamlet, é uma longa meditação sobre a
mortalidade e o suicídio. Por outro lado, o monólogo de abertura da peça
Ricardo III, também de Shakespeare, serve a vários propósitos. O futuro
rei Ricardo fala diretamente para o público:
“O inverno de nossa desventura/já se transformou num glorioso estio
graças a este sol de York (…)/ Nossas frontes estão agora cingidas pelas coroas
da vitória (…)/ Nossos sinistros alarmes passaram a alegres reuniões (…)/ Mas
eu, que não fui talhado para habilidades esportivas (…)/ Disforme, inacabado,
enviado por ela (a natureza pérfida) antes do tempo/ para este mundo dos vivos;
terminado pela metade (…)/ Resolvi portar-me como vilão/ e odiar os frívolos
prazeres deste tempo./ Urdi conspirações, induções perigosas (…)/ para criar um
ódio mortal entre meu
irmão Clarence e o monarca./ / Mergulhai, pensamentos, no fundo de minha alma!
Aqui vem Clarence!”.
Aqui o solilóquio serve para esclarecer a situação política da
Inglaterra, para definir as deformações físicas e psicológicas da personagem
central e para expor suas ambições más. Os solilóquios das tragédias francesas
de Corneille e Racine eram mais estáticos e líricos que os de Shakespeare.
O solilóquio continuou sendo usado em grande parte do teatro romântico
dos séculos XVIII e XIX. Entretanto, a maioria dos dramaturgos do século XIX
tentavam fazer suas peças se parecerem ao máximo com a realidade, com falas e
comportamento que espelhassem a atividade humana comum — portanto, o uso do
solilóquio diminuiu. Ao longo do século XX, foram feitas diversas tentativas
para se reativar o solilóquio, entre as quais a mais notável foi a de Eugene
O’Neill na peça Estranho interlúdio.
No século XX, o termo monólogo também passou a significar uma
apresentação dramática de um único ator que incorpora uma ou mais personagens.
Monologuistas famosos incluem Ruth Draperm, Cornelia Otis Skinner, Emlyn
Williams e Hal Holbrook.
3 | MONÓLOGO DRAMÁTICO |
O declínio do solilóquio ou monólogo no teatro do século XIX coincidiu
com o aumento do seu uso na poesia lírica, onde ficou conhecido como monólogo
dramático. Foi usado pela primeira vez por Robert Browning, que tentou
transmitir os pensamentos e os sentimentos de personagens fictícias. Seu
“Soliloquy of the Spanish Cloister”, por exemplo, é falado por um frei
anônimo:
“Gr-r-r – aí vai, o aborrecimento do meu coração!/ Reguem seus malditos
vasos de flores, viu!/ Se o ódio
matou homens, Irmão Lawrence,/ O sangue de Deus, o meu não o mataria!/ O quê?
Seu arbusto de murta precisa ser podado?/ Oh, esta rosa tem necessidades mais
urgentes – / O seu vaso de chumbo precisa ser enchido até a borda?/ O inferno o
seque com as suas chamas!”
Nas estrofes restantes do poema, o frei revela ainda mais seu ódio pelo irmão Lawrence ao criticar
seus modos à mesa e armar uma situação para ele cometer um pecado. O “Soliloquy
of the Spanish Cloister” ilustra a eficácia peculiar do monólogo dramático como
uma forma poética. Em poucas estrofes, Browning não só consegue penetrar na
caracterização de um frei reprimido, como também apresenta uma visão
perturbadora da vida no convento. Os monólogos dramáticos mais famosos de
Browning incluem “My Last Duchess” e “Andrea Del Sarto”. Poetas do século XX
como Edward Arlington Robinson, Robert Frost, Ezra Pound e T. S. Eliot usaram o
monólogo dramático.
4 | MONÓLOGO INTERIOR |
Já na metade do século XVIII, Laurence Sterne produziu um romance
intitulado A vida e as opiniões do cavalheiro Tristram Shandy, que
enfatizava os pensamentos interiores e as reações de uma personagem, ao invés de
uma trama. No início do século XX, os autores de ficção estavam tentando
representar o fluxo fragmentário e espontâneo dos pensamentos e as impressões de
suas personagens. A forma que resultou deste tipo de escrita ficou conhecida
como monólogo interior. Talvez o mais famoso expoente do monólogo interior tenha
sido James Joyce. No seu romance Ulisses, Joyce narra os eventos de um
único dia em Dublin segundo a experiência consciente de três personagens.
Dorothy Richardson, Virginia Woolf e William Faulkner são outros autores que
usaram muito o monólogo interior.
É interessante destacar a utilização do monólogo narrativo e suas
variantes híbridas (entre narração tradicional em primeira pessoa e monólogo
interior) em autores brasileiros como Machado de Assis (Memórias póstumas de
Brás Cubas) e, mais recentemente, João Ubaldo Ribeiro: as longas
disquisições do narrador de Sargento Getúlio e, entre outros exemplos, o
monólogo da mãe-de-santo, em Viva o povo brasileiro, durante o transe, em
que o ilógico das associações vai acompanhado da distorção léxica e
sintática.
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