Existem diversos tipos de agrotóxicos, que variam de acordo com a praga a ser combatida. Para ter uma idéia do tamanho do arsenal, são cerca de 900 princípios ativos em mais de 4 000 formulações diferentes. Como medida de segurança, o Brasil - e a maioria dos países - possui toda uma legislação determinando a quantidade a ser aplicada, o tempo que se deve esperar para colher o alimento, e o tipo de produto a ser usado. "Cada região reúne condições climáticas diferentes e, conseqüentemente, as espécies de pragas também variam. É isso que determina o tipo de pesticida usado na plantação, razão pela qual não dá para relacionar cada agrotóxico a um grupo de alimentos específicos", afirma o químico Félix Reyes, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Normalmente, se as normas de aplicação forem seguidas à risca, esses produtos - apesar de altamente venenosos - deixam na comida apenas resíduos químicos considerados "toxicologicamente aceitáveis" - ou seja, não são nocivos à saúde.
"O risco maior de intoxicação fica, na verdade, para aqueles que manuseiam e aplicam o produto nas plantações. Há também casos em que feirantes usam por conta própria o agrotóxico para que seus produtos permaneçam em bom estado por mais tempo", diz Maria Cecília de Figueiredo Toledo, engenheira de alimentos da Unicamp. "É bom lembrar que a penetração dos agrotóxicos se limita à parte externa do fruto ou da folha. Por isso, uma boa lavagem em água corrente dos alimentos que comemos crus pode retirar a maior parte do veneno, tornando-o não prejudicial", afirma o toxicologista Antony Wong, da Universidade de São Paulo (USP).
Maldita trindade
INSETICIDAS (combatem insetos)
Organoclorados - Muito perigosos
Proibidos desde 1985, esses produtos deixam resíduos permanentes nos tecidos gordurosos de mamíferos, peixes e aves. Quem comer a carne de um desses animais contaminados, será igualmente afetado. O veneno também permanece no meio ambiente por mais de 100 anos.
Organofosforados - Menos perigosos
Após a intoxicação, os efeitos desses pesticidas se manifestam em até 24 horas. Eles fazem parte da família dos chamados inibidores e, além de efeitos fisiológicos ainda podem causar reações esquizofrênicas.
Carbamatos - Pouco perigosos
Enquanto os efeitos dos organofosforados levam um mês para desaparecer, os dos carbamatos levam apenas uma semana. Ambos têm as mesmas características e fazem parte da família dos inibidores.
HERBICIDAS (combatem ervas daninhas)
Paraquat - Muito perigosos
Extremamente tóxico, esse tipo de produto ataca gravemente todos os tecidos do organismo. A intoxicação pode se dar por inalação ou ingestão. Se consumido acidentalmente em estado puro, basta uma simples colher de chá para matar.
Glifosate - Menos perigosos
Essa classe de agrotóxico apresenta toxicidade relativamente baixa para o ser humano, mas a ingestão acidental causa náuseas, vômitos e outros distúrbios gastrointestinais.
Clorofenóxicos - Pouco perigosos
Se manuseados corretamente, os agrotóxicos desse grupo são muito pouco tóxicos. No entanto, em sua fabricação é liberada uma substância chamada dioxina, que deve ser mantida separada. Caso ela contamine o herbicida, a mistura torna-se cancerígena.
RODENTICIDAS (combatem roedores)
Fluoracetato de sódio - Muito perigosos
A categoria dos rodenticidas é a mais venenosa de todas e esse produto em particular, um dos mais tóxicos entre eles. Seu uso é proibido no Brasil, mas em outros lugares - como Nova Zelândia, Estados Unidos e Europa - ele continua liberado.
Fosfeto - Menos perigosos
Esse produto é utilizado para proteger as sementes em estoque antes do plantio. O uso doméstico contra ratos ainda é comum no Brasil, apesar de o fosfeto ser proibido. Ao se misturar com a água ou com a saliva, ele libera a fosfina, um gás venenosíssimo.
Hidroxicumarínicos - Pouco perigosos
Por serem granulados, esses produtos dificilmente passam despercebidos a ponto de serem ingeridos por acidente. Em seres humanos, sua toxicidade é relativamente baixa, mas podem provocar hemorragias.
Venenos poderosos
VIA AÉREA
A maioria dos agrotóxicos líquidos costuma ser pulverizada de aviões. Esse modo de aplicação torna-se especialmente perigoso em dias de muito vento, pois o veneno pode se espalhar e contaminar rios e populações vizinhas
SISTEMA CIRCULATÓRIO
Os pesticidas do grupo dos hidroxicumarínicos fazem o sangue perder sua propriedade coagulante, podendo provocar hemorragias
SISTEMA REPRODUTOR
Os organoclorados, os organofosforados e os carbamatos podem provocar aborto. Já os clorofenóxicos interferem na produção de espermatozóides
CORAÇÃO
Os defensivos agrícolas do grupo dos organofosforados e dos carbamatos causam descontroles nervosos que podem provocar até parada cardíaca. Já o paraquat queima e lesiona os tecidos internos, entre eles os do coração
FíGADO
Outro órgão atacado pelo paraquat, veneno que causa grandes estragos em todos os tecidos internos
SISTEMA DIGESTIVO
O glifosate, os carbamatos, os organofosforados e os clorofenóxicos também causam vômitos, náusea e diarréia. Até aí, nada de anormal: esses são os sintomas mais comuns e os primeiros a aparecer quando há qualquer intoxicação
CÉREBRO
Os organofosforados e os carbamatos paralisam enzimas essenciais do nosso sistema nervoso. Isso provoca tal descontrole que pode causar parada respiratória ou cardíaca fatal
ESÔFAGO
Se for inalado, o paraquat queima as paredes desse canal de comunicação entre a faringe e o estômago, a ponto de corroer seus tecidos
MÚSCULOS
Os organoclorados e os clorofenóxicos provocam fraqueza e dores musculares
PULMÃO
Uma vítima de vários agrotóxicos - do paraquat aos organofosforados, carbamatos e fluoracetato de sódio. Todos eles aumentam a secreção pulmonar, causando parada respiratória. Já o fosfeto pode provocar parada respiratória e até morte por sufocação
RINS
Como o paraquat causa lesões graves em todos os tecidos internos, os rins também são extremamente prejudicados
GORDURA
Os organoclorados se alojam nos tecidos adiposos, podendo, a longo prazo, desenvolver doenças como o câncer
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