PRAGA - Seria difícil encontrar lugar mais apropriado para um Museu do Comunismo do que porta a porta com um McDonald's, no caso a loja da Na Prikope, o calçadão de Praga que fica ao pé da praça Venceslau, o local das manifestações populares.
Afinal, a rede McDonald's é um dos mais luminosos símbolos do capitalismo que, na antiga Tchecoslováquia, derrotou o comunismo faz 23 anos.
Mas, se eu fosse autoridade tcheca, tomaria certas cautelas antes de relegar o comunismo a um museu. Afinal, o Partido Comunista da Boêmia e Morávia (KSCM, da sigla em tcheco) acaba de obter nas eleições regionais de outubro sua maior porcentagem desde o desterro para o museu.
Ficou com 20,4%, muito perto dos 24% do CSSD, o partido socialdemocrata, ambos escandalosamente à frente do partido que ora governa a República, o ODS (Partido Cívico Democrático), que recolheu apenas 12,3% dos votos.
É natural nessa situação que se fale abertamente nos incontáveis cafés que enfeitam a agradável capital tcheca de uma coligação entre os sociais-democratas e os comunistas para a próxima eleição presidencial, algo impensável até muito pouco tempo atrás.
A ascensão dos comunistas se deve claramente a um fenômeno que não é apenas tcheco, mas europeu: a fadiga com a austeridade.
O primeiro-ministro Petr Necas segue desde que se elegeu, em 2010, a receita ortodoxa, de corte de gastos e aumento de impostos, para levar o déficit público a 3% do PIB, tal como determinam as regras europeias (está em modestos 3,5%). A fadiga é tamanha que o partido de Necas perdeu a maioria absoluta do Parlamento e teve que fazer malabarismos para aprovar na semana passada um pacote de ajuste de 22 bilhões de coroas (€ 1,11 bilhão).
A austeridade empurrou o país para um segundo ano de recessão (a economia vai se retrair 1,3% este ano, segundo as previsões da Comissão Europeia, e crescer magro 0,8% em 2013).
É verdade que o desemprego (7%) não chega aos níveis desesperadores da Grécia, da Espanha e Portugal e é até inferior a média de 10,5% dos 27 países da UE.
Mas comparações dizem pouco aos tchecos, que esperavam sair do comunismo (e seu falso pleno emprego) para o paraíso, não para as agruras de uma crise que parece não ter fim.
É possível que o avanço dos comunistas não passe de um momento fugaz, como aconteceu na França com seu inverso, a extrema-direita, que teve boa votação na eleição presidencial para murchar nas legislativas, logo em seguida. Mas o fato é que um pouco por toda a Europa pipocam partidos extremistas, como os nazifascistas na Grécia, ou exóticos (os Piratas, na Suécia e na Alemanha). Tudo por conta da crise. Falta agora que ela tire o comunismo do museu da Na Prikope.
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