O quanto nos preocupamos com a qualidade da água que bebemos? Essa foi uma questão que me veio à mente antes de testar a ZeroWater, uma jarra que promete ser capaz de filtrar a água e purificá-la. E isso pode envolver até mesmo a água do mar e de rios, segundo a fabricante.
Em minha casa eu utilizo um filtro de parede, ligado diretamente ao encanamento de água. E, claro, parto do pressuposto de que o que sai desse aparelho é um líquido próprio para consumo. Então, de cara, veio a minha dúvida: o que essa jarra faz que o meu filtro "velho de guerra" não faz?
Confira a seguir como foram os testes com a ZeroWater e as minhas impressões sobre o produto, além das percepções do professor Geraldo Fontana, especialista em tratamento de águas e efluentes.
Como é ZeroWater
Importada dos Estados Unidos pela Culligan Brasil, a ZeroWater tem formato de jarra com alça, mas as similaridades com um produto do tipo convencional acabam por aí. Em seu interior, há um filtro de tamanho considerável, que é preso por um suporte apoiado na boca da jarra.
Segundo a fabricante, esse sistema filtra a água —aqui já contamos como um filtro comum funciona— em cinco etapas e realiza uma troca iônica de forma a eliminar qualquer agente contaminante, como agrotóxicos.
As cinco etapas de filtragem funcionam assim:
- Na primeira, há um filtro grosso que remove sólidos em suspensão, como poeira e ferrugem, que podem fazer a água ficar turva;
- Na segunda, há uma complementação da tarefa anterior;
- Na terceira, a água passa por um filtro de carvão ativado, que remove contaminantes orgânicos, pesticidas, herbicidas, mercúrio, cloro, cloramina e impede o crescimento de bactérias;
- Na quarta, há um filtro de resina e de troca de íons, que remove compostos inorgânicos como metais, não metais e contaminantes radiológicos;
- Por fim, há uma tela ultrafina com membranas que removem os sólidos em suspensão que porventura escaparam dos estágios anteriores.
Segundo o manual do produto, a ZeroWater é capaz de filtrar 99,6% de todos os sólidos dissolvidos na água por meio desse procedimento.
Esse tipo de impureza na água é medido em TDS (total dissolved solid, ou total de sólidos dissolvidos), medida que indica o número total de partículas orgânicas e inorgânicas em partes por milhão —os "ppm", ou quantidade em miligramas de um soluto para cada litro de determinada solução.
Um medidor de TDS acompanha a jarra, de forma que foi possível checar a diferença na pureza do líquido antes e depois da filtragem.
Em paralelo, uma unidade do produto foi enviada para o departamento de Engenharia Química do Centro Universitário FEI, em São Bernardo do Campo (SP). Lá, ela foi testada pelo professor Geraldo Fontana.
Montagem simples
Deixar a ZeroWater pronta para uso foi algo bem simples. Basicamente, tudo que se precisa é abri-la e remover o filtro que está envolto em uma embalagem —e que também tem um selo em sua parte superior que precisa ser tirado.
Feito isso, basta rosquear em um suporte, prendendo bem firme para que não haja vazamentos, e ela estará pronta para uso.
O que mais demora é encher a garrafa com água. Para isso, com o filtro encaixado, é preciso colocar água na parte superior aos poucos.
O líquido passará pelo sistema de filtragem, preenchendo o reservatório lentamente. Encher a ZeroWater completamente levou algo em torno de cinco minutos: ela tem 1,4 litro de capacidade total.
Feito isso, basta colocar a tampa e consumir a água filtrada. Ela também pode ser armazenada em geladeira.
E funciona?
Chegou a hora então de ver se, de fato, a água filtrada pela Zero Water estava realmente livre de resíduos sólidos. E, mais ainda, se a jarra faz um serviço melhor do que o filtro que uso em minha casa.
Para isso, foi utilizado o medidor de TDS que acompanha o produto. O seu funcionamento é bem simples: basta ligá-lo e mergulhar na água que será avaliada.
Fiz isso com água diretamente da torneira e o valor foi de 38 ppm. Foi com essa água que "alimentei" a ZeroWater.
Após a filtragem, refiz a medição e a marcação foi zero. Sem sólidos dissolvidos, portanto.
E não foi apenas aqui que a Zero Water se deu bem.
Nos testes feitos pelo professor Fontana, a jarra também cumpriu o prometido. "Fiz o teste, que consistiu em medir o TDS, com água mineral importada, cujo teor de sódio é muito elevado. A jarra, como esperado, eliminou praticamente todos os sólidos dissolvidos", disse.
A comparação com filtro de parede
O filtro em questão é alimentado pelo mesmo encanamento da torneira convencional. Após tirar um copo de água dele e fazer a medição, o resultado me surpreendeu: 37 ppm. Ou seja, praticamente nenhum resíduo sólido foi retido.
Isso significa que eu estou tomando "água suja"? A resposta é não.
"O TDS não é, necessariamente, uma medida de segurança da água potável. Mas, dependendo da concentração do TDS, pode haver alterações de sabor, cheiro e cor da água", afirma Fontana.
"A Organização Mundial da Saúde considera uma água excelente a que tenha menos de 300 miligramas de sólidos por litro de água [300 ppm], considerando o efeito dos níveis de TDS sobre a estética da água. No Brasil, segundo portaria número 2.914 de 2011 do Ministério da Saúde, a recomendação é que a água potável tenha até 1.000 miligramas de sólidos dissolvidos por litro", acrescenta.
Um dos fatores que fazem o TDS não ser zero e ainda assim a água ser potável são os sais minerais dissolvidos no líquido. "O mais importante é a presença ou não de sólidos que alteram o sabor e até tóxicos, mas como há o tratamento de água, pressupõe que esses contaminantes não estejam presentes na água que consumimos", destaca o professor.
Os filtros convencionais geralmente se concentram em reter os sólidos em suspensão e eliminar possíveis microorganismos, não remover todos os sólidos dissolvidos na água. E uma prova de que água com TDS acima de zero é segura para consumo está no fato de que água mineral engarrafada costuma ter um TDS alto, que pode superar as 300 ppm.
Levando ao limite
Se com água normal a Zero Water foi bem, chegou a hora de ver como ela se sairia em um teste, digamos, mais extremo.
Misturei uma colher de sobremesa de sal em um copo de água. Nesta solução, o medidor apontou 205 ppm. Despejei ela sobre o filtro da jarra e aguardei.
Uma vez que todo o líquido foi filtrado, peguei um copo limpo e refiz a medição. O resultado foi zero. Bebi um gole dessa água e, de fato, não havia qualquer gosto de sal.
Não realizei outros testes mais extremos por uma razão: fazer isso acaba encurtando a vida útil do filtro. Segundo a fabricante, o componente é capaz de filtrar até 800 litros de água, o que dá algo em torno de seis meses de uso. Isso faz com que ele absorva até 18 gramas de sólidos dissolvidos na água.
Conforme a qualidade da água com a qual você abastece a jarra piora, o filtro vai ficando saturado. A hora correta de trocá-lo é quando o medidor de pureza começa a apontar o número 6 mesmo após a água passar pelo processo de filtragem, de acordo com a empresa.
Esse refil pode ser comprado no site da fabricante por R$ 199.
Vale a pena?
Se formos apenas considerar o funcionamento da ZeroWater, a conclusão é que ela cumpre o que promete.
Nesse aspecto, o preço de R$ 399 é justificado, ainda que a troca frequente de filtros encareça consideravelmente o custo de manutenção do produto.
Há, porém, alguns problemas. O processo de encher a jarra é algo um tanto demorado e, aqui, nem podemos considerar uma falha do produto, mas simplesmente uma característica do processo de filtragem mais profundo.
Outro ponto a ser levado em conta é que, por mais que filtros convencionais não tenham o mesmo desempenho da jarra para remover sólidos dissolvidos, isso não quer dizer que você esteja bebendo "água suja" ao utilizá-los.
Além disso, beber apenas água que esteja totalmente livre de sais minerais não é uma boa ideia, já que o seu consumo em doses dentro do padrão é importante para uma boa saúde.
Por fim, tudo depende dos seus hábitos. Se você é uma pessoa que viaja muito para acampar ou costuma visitar com frequência ambientes mais "selvagens", ter a ZeroWater pode fazer mais sentido do que para alguém que tem hábitos mais urbanos.
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