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O NOME DOS NÚMEROS - FINAL

"Mas extrapolar a técnica para todo o universo de um indivíduo é criar um jogo de interpretações infinito", diz Bonder. Certamente não é a opinião dos numerologistas, como o carioca João Bosco Cavalero Viegas, judeu convertido, que começou a estudar cabala há 23 anos, graças ao bisavô materno, um espanhol maçom que lhe deixou uma biblioteca de herança. Bosco já foi jornalista e produtor de moda. Hoje, porém, dá cursos e atende clientes em busca de mapas numerológicos.

"Sei quem me procura de cara", comenta como propaganda de suas habilidades, referindo-se, é claro, ao número da pessoa. Ele próprio, por exemplo, é 3 daí justifica "fazer mil coisas ao mesmo tempo, falar várias línguas". Embora garanta acertar no julgamento que faz dos clientes, o que Bosco lhe oferece são números com duas versões uma, das qualidades que todos gostariam de possuir; outra, dos defeitos inerentes àquele algarismo. Há números, de acordo com ele, positivos apenas em certos casos. Exemplifica: " O número 4 é ótimo para nome de loja, pois dá estabilidade financeira. Mas alguém com um nome 4 é estagnado".

O conceito de que números são forças e que os nomes pelo fato de se associar a um algarismo representam a união de tais forças é antigo na magia. Seu equivalente pode ser encontrado nos contos infantis, com seus sinsalabins, abre-te-sésamos e abracadabras todas palavras dotadas de poderes mágicos. Bosco admite ser muito místico e aproveita qualquer ocasião "até tomando um chope" para divulgar a idéia de que o nome faz a pessoa e ainda imprime o seu destino, junto com a data do aniversário. Mesmo assim, evita rebatizar as pessoas - a última moda em misticismo aplicado, especialidade de outro numerologista carioca, Gilson Chveid Oen (nome verdadeiro).
Por sua causa, a cantora Sandra Sá hoje é Sandra de Sá, o humorista Chico Anísio virou Chico Anysio e provavelmente para decepção de suas fãs o compositor e cantor Jorge Ben quer agora ser chamado de Jorge Benjor. São exemplos de gente conhecida entre as quase 5 mil pessoas que, segundo Gilson, mudaram o nome após visitá-lo. Ele diz se identificar como numerologista "apenas para vender o meu peixe". Então, o que Gilson faz? Sua resposta é que estuda o que chama arcanos cerebrais, de acordo com uma teoria de sua própria lavra que, compara sem corar, é "tão revolucionária quanto a da Relatividade".

Durante dezessete anos esse ex-engenheiro diz ter estudado os símbolos que envolvem o ser humano nas diferentes culturas e depois passou a associar os mesmos símbolos a números de 0 a 9. "O cérebro faz isso, porque como o homem tem dez dedos aprendeu a raciocinar sobre essa base." Dessa maneira, segundo ele, o homem está ligado ao 1 porque, em todas as versões sobre a sua origem, ele chegou antes da mulher. Mas as associações podem durar décadas ou milênios: "Se a mulher dominar o mundo, talvez após mil anos ela deixe de ser associada ao número 2 e passe a ser número 1".
Para Gilson, todo pensamento, som ou imagem tocaria os arcanos cerebrais por suas letras assim como um pianista dedilha as teclas. Se a música em questão aparecer a toda hora, acabará fazendo parte da, digamos, trilha sonora de cada um. Em outras palavras, os estímulos que um nome provoca no cérebro acabariam sendo incorporados por ele.
"São como mantras", diz Gilson, fazendo uma analogia com a tradição hindu de entoar sons que teriam efeitos sobre o corpo e a mente. Um mantra negativo e "moderníssimo" é a palavra futebol, pronunciada em todas as esquinas. "Ela só mexe com arcanos emocionais, e é por isso que todos perdem a cabeça num jogo ou numa discussão sobre o assunto", comenta. Mas o futebol brasileiro, de acordo com essa teoria, ainda se salva pela letra E, do arcano 5 do prazer daí o seu espírito alegre. Em inglês a palavra não tem E e sim A (football), letra inexistente na versão portuguesa e que, segundo Gilson, é do arcano do individualismo - algo aparentemente incompatível com um esporte coletivo. Continuando nesses jogos, a natação soma o mesmo 9 da agressiva luta livre; idem tênis e hóquei, que somam 5.

Certamente, um numerologista justificaria as diferenças fazendo outras análises. Afinal, seu ganha-pão consiste justamente em montar e desmontar palavras, inverter o sentido de sílabas, fazer pirâmides numéricas somando os números dos nomes de dois em dois até restar um. Quem quiser chame isso de ciência. Já em relação à numerologia mística, que não se pretende ciência, é simples questão de fé. O homem é um criador de símbolos, algo que o distingue de todos os outros seres. Assim, quando o numerologista diz que o nome da pessoa que o consulta tem o mesmo número que chuva, maçã, cinza, verão, andorinha ou o que for, o cliente seguramente acabará fazendo uma associação e dará ao nome uma interpretação simbólica. Esta, de uma forma ou de outra, acabará fazendo sentido - porque todas as pessoas são um pouco feias, um pouco alegres, um pouco deprimidas, um pouco céticas, um pouco crédulas.

Os números dos nomes

Para os numerologistas, todas as letras de um nome, somadas e reduzidas a um único algarismo, geram determinada personalidade. Quando a soma é 10, o número é 1. Se for 11, porém, não se faz a redução para 2, porque a numerologia considera esse número sagrado.
1 Trabalha com afinco e consegue o que quer; egoísta, prefere agir sozinho. Por exemplo: Maguila, Fausto Silva, Carlos Drummond de Andrade.
2 Diplomático, pode se tornar um maria-vai-com-as-outras. Perfeccionista, adora conhecer pessoas, desde que não tenha de falar de si. Sigmund Freud, Fernando Sabino.
3 Sempre alegre, é um verdadeiro artista. Não resiste ao esoterismo. Donald Trump, Sílvio Santos, Jô Soares.
4 Lento, detesta novidades. Prefere uma árdua discussão filosófica a um bate-papo descontraído. Ringo Starr, Luíza Brunet, Joelmir Beting.
5 Leviano, adora aventuras. Apesar de inquieto e nervoso, é cheio de magnetismo, especialmente com o sexo oposto. Stephen William Hawking, Gilberto Gil, José Sarney.
6 Símbolo da família, gosta de um lar, doce lar. Odeia bagunça: quer pôr ordem na casa e no mundo. Walt Disney, Sting, Ivo Pitanguy.
7 Pessoa com senso estético apuradíssimo e dona de sentimentos elevados. Mas é péssima para negócios, sendo a vítima ideal para trambiqueiros. Steven Spielberg, Rita Lee.
8 O que ele quer é poder e para isso usa o espírito prático. É especialista em se aproximar de quem possa ajudá-lo a fazer sucesso. Ayrton Senna, Roberto Carlos, Cláudia Raia.
9 Símbolo da loucura, o portador desse número quer ser onipotente e onipresente a qualquer custo. Albert Einstein, Lobão.
11 Responsável por grandes revelações, com vocação para a pesquisa. Nunca lhe falta inspiração. Leonardo da Vinci, Adolph Hitler, Hector Babenco.

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